quarta-feira, agosto 24, 2005

Barrocal Algarvio

O Algarve tem três áreas distintas em termos geográficos. O litoral, o barrocal e a serra. Este post é uma deambulação pelo barrocal algarvio, a área de transição entre o litoral e a serra do Caldeirão.
Esta área, conjuntamente com a serrana, em determinados momentos, dá a sensação que parou no tempo. Se para as gentes locais isso nem sempre é positivo, para os forasteiros é interessante, na medida em que podem observar e sentir uma paisagem próxima da original.
É um pouco indiferente por onde se começa o percurso. O importante mesmo é começar.
Então vamos lá. Paderne é a primeira paragem. Passando a povoação propriamente dita, uns kms mais à frente e depois de algum pó chega-se às ruínas do castelo (classificado como imóvel de interesse público). O castelo, construído em taipa, fica num cabeço rodeado por uma vegetação mediterrânica (oliveiras, figueiras e alfarrobeiras) e pela ribeira da Quarteira - que nem sempre corre devido ao regime de chuvas irregular – sobre a qual passa uma ponte arcaica. Pode-se explorar a área envolvente ao castelo através dos diversos percursos pedestres existentes.
Actualmente o castelo encontra-se num estado muito degradado mas estão a decorrer obras no sentido de melhorar a situação. Apesar disso justifica-se uma visita pois o castelo de Paderne, devido à importância que teve na Conquista, é um dos sete castelos que figuram na bandeira nacional.


O ponto seguinte é Alte, em tempos considerada a aldeia mais algarvia do Algarve. Encanta o emaranhado de ruelas estreitas e o casario tradicional.


Para além de um deambular pelas ruazinhas, merece visita a Fonte Grande e a Fonte Pequena, onde se homenageia o poeta Cândido Guerreiro.


Outra atracção, ao que parece, pois não tive a felicidade de comprovar devido ao inverno seco deste ano, é a queda de água do Pego do Vigário.
Salir é a paragem seguinte. Diz a lenda que quando atacados por D. Paio Peres Correia, os mouros que defendiam a muralha começaram a gritar “Salir! Salir!”, o que em português arcaico significava sair. Ficou o toponímo, assim como alguns vestígios do castelo mouro. Mas o encanto da povoação vem sobretudo da harmonia do conjunto urbano composto pela arquitectura tradicional.


Continuando o périplo encontramos no topo de um monte a aldeia de Querença. Lá bem no alto fica a bela igreja matriz e pela encosta abaixo encontra-se o casario pitoresco.


Nas imediações fica a Fonte da Benémola, uma zona do barrocal algarvio praticamente intacta. Este sítio classificado desenvolve-se ao longo da ribeira de Benémola e caracteriza-se pela paisagem rica e original do barrocal algarvio, que inclui salgueiros e freixos. Lugar muito bonito e agradável para percorrer a pé.


Um pouco fora desta rota mas inserido na área em referência encontra-se o Cerro de S. Miguel. Do alto deste monte com 410 m avista-se uma parte significativa do Algarve. Em frente Olhão e a ilha do Farol. Para oeste a ilha de Faro. Para este a ilha da Armona e ao fundo Tavira e a sua ilha. A noroeste Loulé. Uma vista algarvia tão boa e abrangente como esta só mesmo a que se tem de Fóia, o ponto mais alto do Algarve (902 m), no barlavento algarvio.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Estói Bonita

Fugindo ao Algarve clássico, da praia, estâncias turísticas, encontra-se Estói, uma vila histórica que pertence ao concelho de Faro.
Embora seja uma pequena localidade merece uma visita pois tem dois pontos de grande interesse, as ruínas romanas de Milreu e o Palácio de Estói.
Milreu, classificada como Monumento Nacional, foi uma villa romana (século I/IV d.C.). Era conhecida como Ossonoba pelos romanos entre os séculos II e VI d.C. e foi o antecedente do que hoje é Faro.
Actualmente na estação arqueológica sobressai um antigo templo dedicado a divindades aquáticas datado do século IV d.C., algumas colunas de mármore, tanques decorados com mosaicos com peixes, desenhos geométricos, termas.

Colunas e Templo dedicado às divindades aquáticas ao fundo

Mosaicos com peixes

Mosaicos com desenhos geométricos

Pensa-se que, depois de diversos usos, na primeira metade do século X as abóbadas ruíram e Milreu foi abandonada. Porém, no século XVI, foi erguida uma casa sobre as ruínas abandonadas. Actualmente, essa casa, que é um exemplar arquitectónico daquela época, apresenta no seu interior, ao nível do subsolo, vestígios da antiga ocupação romana.


O Palácio de Estói, também classificado (Imóvel de Interesse Público), foi construído no século XVIII e combina os estilos neorococó, neoclássico e arte nova.
O acesso ao recinto faz-se por um portão de ferro forjado, ao qual se segue uma avenida ladeada por árvores. O primeiro conjunto de edifícios que se encontra são os estábulos, que estão abandonados. Continuando chega-se ao palácio.


Porém, actualmente não é possível visitar o seu interior, uma vez que depois de um período votado ao abandono, está-se a iniciar um processo de restauro com o objectivo de o transformar numa Pousada de Portugal (Enatur).
Ainda assim a visita é mais do que justificada pelo magnífico exterior do palácio, assim como pelos encantadores jardins, ao gosto italiano, com mosaicos decorativos, fontes, esculturas, estatuária com bustos de diversos poetas, Reis e outras figuras importantes da História portuguesa.




No exterior do palácio é possível ainda observar diversos painéis de azulejos azuis e brancos do século XIX com composições de decorações florais e cenas da mitologia clássica.