sábado, novembro 07, 2009

Essaouira pelo Atlas

Quinta-feira decidimos alugar um carro para ir de Marraquexe a Essaouira, mas escolhendo um percurso bem longo de forma a poder percorrer parte das montanhas do Atlas até desaguarmos, finalmente, nas águas do também nosso Altântico.
Tirando o abusador calor, viagem linda, as cores das montanhas dão azo à flutuação da imaginação, mais a mais porque vão tendo a ajuda das imagens de uns Casbás. Sobe-se, sobe-se, sobe-se, para depois descer-se, descer-se, descer-se. Uh,uh, estamos no deserto e momentos depois estaremos junto ao oceano.
Essaouira, pois.
Como sexta-feira amanheci com uma má disposição incrível (talvez uma quase gastroenterite), a única coisa que conheci de Essaouira foi os bancos de pedra que iam surgindo pelo caminho e que eu rapidamente ocupava para me deitar um pouco. Como ao fim da manhã as tonturas persistiam, desisti dos meus intentos turísticos e recolhi-me à caminha do meu riad para apenas dela sair para ver o por do sol no mar junto aos canhões da fortaleza.



Esperava que no sábado pudesse recuperar o tempo perdido e conhecer tudo o que havia a conhecer. Mas logo a madrugada e dia seguinte haviam de ser passadas a tratar das outras duas que, essas sim, tiveram direito a gastroenterite a sério.
Por isso, mana Sofia, desta não te escapas, e sobre Essaouira, a antiga Mogador, tens de te debruçar tu.

Interlúdio Paisagístico Pelo Atlas



Os Jardins de Marraquexe

Por entre o ocre dos seus edifícios, existem pelo menos dois jardins imperdíveis que rompem esta cor rotineira.
Um mais plácido e discreto, com um edifício à beira de um lago com as montanhas do Atlas a servir de cenário nas suas costas; outro verdadeiramente exuberante nas suas cores e, por isso, inesperado.



Os Jardins de la Menara, apesar da sua imagem ser um postal obrigatório da cidade, estiveram longe de me encher as medidas. À parte uns camelos à entrada para turista montar ou fotografar, parece algo abandonado. Seria bom que pudéssemos ser teletransportados para o local exacto da foto da praxe.

Já o Jardim Majorelle é outra história. Uma história que não se espera encontrar em Marrocos e, talvez, um pouco deslocada, mas uma grata história. Ou talvez não, se pensarmos que Marraquexe – e Marrocos – não estão na moda apenas hoje, mas pelo menos desde a década de 60 e 70 do século passado quando um rol quase infindável de peças da nossa cultura a adoptaram como sua. Daí que criatividade e surpresa não sejam em absoluto de excluir em Marraquexe. Porque é disso que se trata, de um jardim inventado em pleno norte de África. As cores azul e amarelo berrantes ficam, assim, como cores oficiais de Marraquexe no nosso imaginário, a par do omnipresente ocre.







Dormir, Comer e Estar em Marraquexe

E para continuar nos “antros” de bom gosto, umas sugestões de hotel / riad, bar restaurante e sala de estar. Ou tudo misturado, que vai dar no mesmo.
Para passar a noite – e também o dia sem que sintamos isso como um desperdício – a melhor opção é um riad cheio de charme na Medina. Les Jardins de Mouassine (http://www.lesjardinsdemouassine.com/index.html), junto à mesquita de mesmo nome, foi a nossa (acertada) escolha. No primeiro piso fica o lounge e uma pequena banheira para o relaxe do dia turístico pela cidade. No segundo e terceiro piso os quartos, cada um com o seu nome. Neste último, existe um inacreditável terraço, parte exclusiva do nosso quarto, com espreguiçadeiras, bancos e um barzinho (onde é servido o pequeno almoço). Não possui vista para a cidade daí que seja ainda mais difícil imaginar não só o bulício, mas também o emaranhado de edifícios ocre sem interesse de maior que nos rodeiam.



Porque o verdadeiro interesse em Marraquexe está no interior dos seus edifícios, mesmo naqueles perdidos num qualquer beco de uma das suas ruas. Como é o caso do Dar Cherifa (http://darchrifa.blogspot.com), bem pertinho do riad Les Jardins de Mouassine (apesar das inúmeras voltas que demos para lá chegar). Mais um para a lista dos inacreditáveis, mais um edifício que ninguém daria nada por ele. E mais um pleno de carácter, acertadamente transformado em lugar para se estar a ler enquanto se aguarda por uma refeição ligeira. Possui igualmente um terraço onde apetece estar sem ser na hora do calor, e a subida até lá é imperdível para se ter uma real noção do espaço que é característico da arquitectura de Marraquexe.





E para não sairmos dos terraços, eis o Cafe Arabe (http://www.ilove-marrakesh.com/cafearabe/index_en.html), o restaurante e bar da moda. São 3 andares para refeição e copos, com o último a servir de sala de estar perfeita, onde não falta sequer um por do sol, belíssimo como sempre.







A comida e a simpatia marroquina foi omitida neste post. Neste caso, ambiente é tudo.

Os Palácios de Marraquexe



A Madrassa Ben Youssef é talvez o pedaço mais esplendoroso e encantador de Marraquexe. O desalento de não se poder entrar para conhecer as mesquitas da cidade compensa-se com este palácio que a partir do século XIV, e até ao ano de 1962, foi um dos maiores centros de ensino / aprendizagem do Corão. Este espaço grande, mas não tão grande assim que pudesse acolher cerca de 900 alunos, ainda para mais a partilhar apenas uma casa de banho – como chegou a acontecer – é um lugar de sonho. A entrada, depois de voltas e mais voltas deixando os souks para trás, faz-se por um corredor sem graça de maior que não nos prepara de todo para o pátio que nos espera. Uma pequena “piscina” rodeada por umas lindíssimas arcadas rendilhadas na mais pura arte mourisca à qual não faltam uns mosaicos de um bom gosto insuperável. No andar superior, onde ficavam as câmaras dos estudantes, umas janelinhas de encantar, sendo impossível evitar a fotografia da praxe com o visitante à espreita.



Ainda mal refeitas do banho de beleza da Madrassa entramos no edifício vizinho do Museu de Marraquexe certas de que nada mais nos deslumbrará tão intensamente. Pois, mas estes mouros são terríveis e o que nos espera em seguida não faz mais do que despertar em mim uma imensa vontade de voltar ao nosso tão próximo Alhambra. Já nem me lembro bem qual a arte representada no museu, não porque seja despicienda, mas antes por ter no pátio um “adversário” imbatível por memorável. Aqueles sofás obrigam-nos a contemplar mais uma dose de bom gosto de forma relaxada. O mármore do chão, cravado aqui e ali de mosaicos coloridos, de onde vai brotando umas fontes que irradiam tranquilidade, as portas e janelas lindamente trabalhadas que se encontram para lá das colunas quase que nos distraem do enorme candelabro que está sobre nós. Este palácio foi objecto de restauro há não muitos anos, ele que chegou a acolher a primeira escola para meninas da cidade. Temos, pois, que a Madrassa Ben Youssef era para rapazes e o que é hoje o Museu de Marraquexe era para raparigas. Um luxo só, este Marrocos.







Antes, porém, da visita a estes dois edifícios já tínhamos visitado – e admirado – o Palácio Bahia. Os edifícios sucedem-se uns aos outros, separados por uns pátios, até que chegamos a um grande jardim. Ou seja, há que entrar e ir andando para descobrir o que está para lá das portas. E, já agora, não nos limitarmos a olhar os azulejos nas paredes e chão, mas levantar bem a cabeça para observar os tectos em madeira. No fundo, sentidos bem despertos para não perder nada do muito que Marraquexe nos tem para mostrar para além das suas ruas.