terça-feira, julho 26, 2011

Jerash, Ajloun, Monte Nebo, Madaba, Karak e Shobak




A cerca de uma hora de Amman fica Jerash, a antiga Gerasa romana. É enorme, está bem conservada e, mais uma vez, não precisamos de muita imaginação para entender a função da maioria dos edifícios que sobrevivem. O que é muito bom, especialmente quando o sol inclemente nos mói a cabeça e não nos deixa pensar muito. Mas logo à entrada, ainda frescas, ficamos banzadas com o preço da entrada: 8 euros por um sitio arqueológico com uma entrada reles e com o preço emendado à mão numa placa, onde nem uma brochura estava disponível? Isso não é nada depois de ver o contentor que serve de bilheteira para cobrar os 50 euros diários de entrada em Petra. Mas deixemo-nos de conversa que ambos valem cada tostão. Ou, apenas um pouco mais de conversa: os meus 1000 euros de ordenado de um emprego em Portugal são nada quer para o taxista do norte da Jordânia, quer para o beduíno do sul do país. Fiquei de rastos. Mas prossegui viagem.





Jerash atingiu o apogeu enquanto cidade romana por volta do século III, tendo chegado a albergar cerca de 20 mil habitantes. É fácil de visitar, não tem muitas subidas, a não ser aos degraus dos seus belos teatros. Tecnicamente, a dificuldade está em passar pelos bodes que por lá pastam, entre uma coluna de uma antiga porta ou igreja romana e um pedaço de um templo.



Não muito longe, a cerca de 40 minutos, fica o castelo de Ajloun, envolto na paisagem mais verde que se pode encontrar na Jordânia. E, acreditem, o jardim do meu prédio, quando o Sr Diamantino vai de férias em Agosto e não há ninguém para regar a relva, é muito mais verde do que isto.



Aqui no norte da Jordânia estamos perto da Síria e de Israel, dois amigalhaços, e do vale do Rio Jordão. Um pouco mais a sul, mas perto de Amman e à beira do Mar Morto, fica o Monte Nebo e Madaba e mais uma série de locais bíblicos que não visitámos. O Monte Nebo, no entanto, não pudemos evitar, pese embora toda a nossa ignorância acerca da Bíblia. Mas foi aqui que, crê-se, Moisés viu a terra prometida e morreu descansado. A paisagem, se houver a sorte de apanhar um dia sem nuvens – o que não foi o nosso caso – deve mesmo assemelhar-se a um paraíso ou algo de ideal: é capaz de se ver o Mar Morto (esse é garantido porque o vimos), Jerusalém, Jerico e Belém.





A poucos quilómetros daí fica Madaba, a terra dos mosaicos. Esta é uma cidade pacata onde 1/3 dos seus habitantes são católicos. Quando esta comunidade começou a vir para cá, fugida de Karak, no sul, no século XIX, à medida que iam construindo as suas casas iam dando com uma série de mosaicos bizantinos. O mais importante dos quais é o mapa da Igreja de São Jorge com a terra prometida, considerado o mais antigo mapa da palestina. Existem várias igrejas ao lado de mesquitas, mas uma das que se deve visitar é a Igreja de São João Batista. Aí somos bem recebidos, a igreja é bonita, tem uma sala ao lado onde se pode ver um pouco da história de Madaba e podemos subir à sua torre para termos uma melhor percepção desta cidade encravada no deserto, como é quase toda a Jordânia.



Por falar em Karak, de onde os tais cristãos vieram, mais a sul na Jordânia, a sua visita é obrigatória pelo seu castelo. Dá para nos perdermos pelas suas muitas alas, em vários pisos, e muitas covinhas. Nesta cidade passei um dos maiores constrangimentos da minha vida. Como umas horas antes tínhamos estado em Wadi Mujib e tinha ficado com a roupa completamente encharcada, acabei por vestir o que saiu em primeiro lugar da mochila: uns calçõezinhos não muito curtos, mas curtos o suficiente para toda a gente olhar para mim, na sua maioria mulheres que cochichavam à minha passagem. Não, não foi apenas minha impressão. Até aí tínhamos andado muito bem comportadas no que a roupa diz respeito – calças por baixo do joelho e nada de camisolas de alças. A partir daí serviu de lição. Não há nada pior do que o incómodo de se sentir que se está a incomodar.



Voltando a castelos, em Shobak tem outro que se pode passar e visitar. É também um castelo dos Cruzados construído por volta do século XII.
Em seguida, alguns outros lugares a que daremos destaque individual e que perduraram na nossa memória como sítios e experiências fantásticas.

terça-feira, julho 19, 2011

Amman



Amman é ao mesmo tempo uma cidade nova e uma cidade antiga, com vestígios de civilização já desde o neolítico, depois ocupada pelos Assírios, pelos Persas, pelos Gregos – que lhe deram o nome de Filadélfia –, pelos Nabateus, pelos Romanos, pelos califados dos Omíadas e dos Abássidas… ufa!
Então porquê dizer que é uma cidade nova? Porque até 1887 era quase que apenas um ponto no mapa. Foi quando os otomanos decidiram construir o comboio que ligaria Damasco a Medina que Amman passou a ser um ponto importante de passagem para os peregrinos e para os comerciantes. E, depois, com a criação do estado de Israel em 1947, iniciou-se a primeira grande vaga de imigrantes palestinianos, seguida de uma segunda vaga em 1963 na sequência da Guerra dos 6 Dias, mais outra com o regresso a casa de muitos jordanos e mais pessoal que trabalhava no Kuwait depois da Guerra do Golfo em 1991 e, até ver, uma última de iraquianos com a invasão do Iraque em 2003.
Com isto tudo, não espanta que cerca de 60% dos jordanos sejam de origem palestiniana. Voltando a Amman, essa tem hoje quase 3 milhões de habitantes e espera-se que em 20 anos dobre a sua população.
A Jordânia, ao contrário de alguns dos seus vizinhos, não tem petróleo nem gás. Com excepção de uma parte relativamente pequena junto ao vale do Rio Jordão, o resto do país é praticamente deserto e impróprio para o cultivo. Mas esforços têm sido postos em marcha para tornar a capital um importante centro de negócios da região. O skyline tem vindo a mudar e, a ver pelos muitos guindastes, gruas e estaleiros vistos nas suas ruas, muito mais mudará em breve.
Não passamos lá muito tempo. Pareceu-me uma cidade difícil de entender, mas segura, com muitas colinas – dizem que são 7, como dizem de Lisboa – ocupadas por casas e mais casas. Não fosse por tudo o resto, só a contingência da constante recepção de refugiados imigrados nunca permitiria que fosse aqui possível qualquer tipo de ordenamento do território, em especial um urbanismo pensado e com lógica.
À parte disso, é perfeitamente perceptível a existência de duas Ammans. A do centro, com os souks e mulheres cobertas nas ruas. E a localizada mais a ocidente, em bairros como Abdoun e Shmeisani, também com mulheres cobertas nas ruas, mas com edifícios mais bonitos e modernos. E também Jabel Amman, bem juntinho ao downtown, uma mudança radical que pode ser percorrida a pé sem sequer ter que passar por um dos famosos circles que dominam o tráfego em Amman.
Aqui, no meio do caos das casas construídas nas colinas da cidade, que com a cor da terra se confundem, vamos encontrando umas ilhas que nos lembram que esta é uma cidade no século XXI. Exemplos?


– Darat al-Funum, uma espécie de centro de arte contemporânea, com um encantador café que ainda por cima tem uma vista que nos ajuda a esquecer do mundo, assim como o faz a sua escultura


– a esplanada empoleirada dos gelados Movenpick


– o restaurante lounge Living Room. Fica uns pisos acima de um dos restaurants mais chiques da cidade, daí talvez o pretensiosismo deste ponto da moda. Mas a cor que o cair do sol aplica no monte de casas ali mesmo à mão supera tudo.

Voltando ao centro de Amman, é mesmo imprescindível almoçar no Hashem. O quê? Falafel e húmus, pois claro. O melhor mesmo é ir deixando que nos ponham a comida na mesa, na certeza de que o preço não passará dos 5 euros por pessoa. ~





E, depois, um mergulho na antiguidade com a visita ao teatro e cidadela. A antiga Filadélfia tinha um teatro que comportava 6000 pessoas. Lá em cima, no mais alto monte da cidade, ficava a Citadela – Jebel al-Qala´a, com ruínas dos períodos romano, bizantino e omíada que permitem mais do que imaginar o que havia por ali. Com estas duas “atracções” é interessante verificar o corte no tempo que existiu em Amman.
Uma das cidades do mundo a ser habitada de forma continua há mais tempo, teve história, foi quase que abandonada e decresceu em população até que desde há um século tem vindo a crescer astronomicamente neste item. Conserva umas ilhas de edifícios históricos interessantes e aqui e ali outros edifícios mais recentes que dificilmente perdurarão no tempo. Na sua maioria não são agradáveis à vista, mais pelo contexto histórico em que acabaram por ser construídos e a função de servirem de abrigo a um fluxo enorme de refugiados.
Cenário negro e cidade a passar rapidamente? Não, de todo. Não é certamente a cidade que mais gostei de conhecer, eu que facilmente me deixo fascinar por cidades caóticas e do “3.º mundo” (tipo La Paz e Phnom Penh).
Mas é uma cidade. Com gente, com vida, a crescer necessariamente. E nas cidades, se caminharmos por elas, se perseverarmos, somos sempre brindados com uma surpresa aqui e outra ali.

quinta-feira, julho 07, 2011

Passado e Futuro



A ideia inicial para viagem de Verão deste ano era o Japão. Mas com os acontecimentos de Março deste ano - terramoto e tsunami - e sobretudo com as imagens e situação caótica relatadas pela Kioko, minha professora de japonês, a mudança de planos impôs-se.
Vai daí, deu-se a primeira experiência das manas pelo Médio Oriente (sem contar com a Turquia: Istambul é Europa e o resto do país, sim, Ásia; mas vamos fazer desta viagem agora a primeira no dito Médio Oriente).
Jordânia, com a histórica e mítica Petra.
Emiratos Árabes Unidos, com o futuristico e megalómano Burj Khalifa.