quarta-feira, janeiro 30, 2013

Uma Volta à Ilha - Stanley, Aberdeen e Repulse Bay


Os territórios conhecidos como Hong Kong são todos bem servidos de transportes. O autocarro é a forma de se chegar ao sul da ilha, onde ficam as melhores praias. Não visitámos tudo, ficou a faltar Shek O, a sudeste.


A primeira paragem do agradável percurso de autocarro foi em Stanley, conhecida sobretudo pelo seu mercado e praias. Tem uma avenida marginal pedonal com restaurantes e pubs que se encontram em qualquer grande cidade do mundo. O sol brilhava no primeiro dia do ano de 2013 fazendo com que o reflexo na água, juntamente com o pier adentrando a baia, fizesse um postal bonito.

Stanley foi um dos maiores povoamentos da ilha quando os britânicos aqui se estabeleceram. Hoje, apesar de albergar uma prisão de segurança máxima, é lugar para uma boa escapada da confusão da grande cidade, seja para os locais, seja para os turistas.



Seguimos para Aberdeen, com as suas casas flutuantes e, sobretudo, restaurantes flutuantes mega hiper turísticos como o Jumbo. O kitsch em todo o seu esplendor.

O porto de Aberdeen, é um emaranhado de barcos ali estacionados, testemunho de uma época que já lá vai onde muitos encontravam uma profissão na pesca e outras actividades relacionadas com o mar. Hoje muitos abandonaram os barcos e instalaram-se do outro lado do porto em Ap Lei Chau, diz-se que um dos lugares mais densamente populados do mundo. Olhando para aquelas fileiras de edifícios onde é difícil contar os seus andares ou sequer saber onde termina um edifício e começa o outro, não é difícil acreditar que metade da população de Lisboa caiba aqui. Se calhar estou a ser ingénua e na verdade a população inteira de Lisboa viveria aqui à larga.



Mas voltando ao porto de Aberdeen, onde é quase impossível escapar à pressão dos locais para fazermos um passeio de Sampan, o mais pitoresco é observarmos como muitos dos barcos hoje servem de casa. Uma distraída olhada e vemos roupa estendida; um olhar mais atento deixa-nos ver canteiros de flores a decorar a entrada destas casas improvisadas. Ou seja, sem darmos por isso estamos a ser testemunhas do dia a dia de uma família que teve de se adaptar a uma nova realidade. Não esquecendo, no entanto, que os rios sempre foram lugar de vida, onde se acorda, trabalha, descansa e dorme.

 
A próxima e última paragem desta jornada foi Repulse Bay, mais elegante do que Stanley e onde os ricos possuem a sua casa. Também, pudera. O visual desta zona é fantástico e ao virar de uma curva ainda plena de vegetação aparece-nos uma baia com uma praia de cortar a respiração, como Deep Water Bay, perto de Repulse Bay.

Nesta, ao fim daquela tarde, com o sol já a querer fugir, apesar de sentir tudo menos calor pareceu-me que este seria o local ideal para o primeiro mergulho do ano. Não se proporcionou, porém. Daí a umas poucas horas iria enfrentar o quase dia inteiro de viagem de volta para casa. Não sem antes assistir a mais uma explosão de cor e fantasia com o Santuário Kwun Yam, bem ao fundo da praia.




Este é uma colecção de divindades, com um sem número de estátuas, algumas delas enormes, representando diferentes figuras na mitologia chinesa. Mesmo não acreditando naquelas crenças de que se fizeres isto vais ter aquilo, vale bem a pena andar por ali observando todas estas imagens.

Excelente forma de acabar a viagem.

Sheung Wan



O nosso hotel ficava em Sheung Wang, diz-se que um bairro com um cheirinho da Xangai antiga. Da janela do nosso quarto minúsculo tínhamos a vista do Porto Victoria e mesmo em frente, em Kowloon, o edifício do International Commerce Centre, com 484 metros, o que faz dele o mais alto de Hong Kong e o quinto mais alto do mundo. Foi ele que nos deu as boas vindas a 2013, pois passámos a meia-noite no Parque Sun Yat Sen, bem em frente ao hotel. Pensava fugir à confusão vendo daqui o fogo-de-artifício a sair do Two IFC, como nos anos anteriores, mas desta vez mudaram a festa para o Hong Kong Convention & Exhibition Centre em Wan Chai e não vi mais do que uns vislumbres do fogo-de-artifício. Sem problema, pelo menos fugi mesmo da confusão.



Sheung Wan, apesar de junto ao porto, tem umas quantas ruas inclinadas e é lugar de lojas e negócios tradicionais, como herbanários, antiguidades e, principalmente, toda a sorte de espécies do mar que são deixadas a secar. E também cogumelos e mais um sem número de elementos não identificados. Tudo seco.

Nada que ver com a sofisticação do centro de Hong Kong, pois.

Mas o que mais importa para mim é ficar num local que ainda seja autêntico, ainda que não bonito. E o tipo de lojas / negócios por aqui, eles sim são novidade para os nossos sentidos, olfacto e visão, sobretudo, que não me atirei a degustar esta sequidão. Mas é também interessante ver o bulício das ruas, sem engravatados por perto, antes troncos nus a trabalharem duro. Ou a descansarem, provavelmente vindos da sessão matinal de tai chi.




O eléctrico típico da região, o Hong Kong Tramways, um dos primeiros transportes da cidade, atravessa quase toda a zona norte da ilha, sendo Sheung Wan uma das contempladas, daí que esta seja uma das melhores opções de transporte para este bairro, que fica ainda perto do terminal de ferries para Macau.



Entre vários templos, por aqui fica também o Templo Man Mo, como não podia deixar de ser encravado entre prédios imensos e com um cheiro de incenso forte. Este é um dos mais antigos e famosos templos de Hong Kong e bem especial para mim, pois uma das duas divindades a quem está consagrado é a Man, o deus da literatura.


Hong Kong - Centro da Ilha

Apesar de hoje se verem cada vez mais arranha-céus em Kowloon, como se fosse uma competição face a face com os da ilha, a maioria e os mais conhecidos ficam na ilha de Hong Kong, concentrados sobretudo na Central e Wan Chai.

No entanto, um pouco por todo o lado eles estão lá. Um dos mais impressionantes é o Highcliff, um edifício residencial de 252 metros de altura, construído já de si numa cota alta, tão estreito que custa a crer que se aguente nas canetas. Mas ele lá esta, parece que a desempenhar o papel de guardião do Happy Valley, o hipódromo onde são disputadas as corridas de cavalos onde as apostas são também elas uma atracção. Este hipódromo, tal como tudo nesta cidade, sejam templos, igrejas, edifícios coloniais ou parques e jardins, fica esmagado entre uma série de prédios. Não é de lamentar, não é feio, é bastante pitoresco.

Estes edifícios que se destacam na paisagem tanto podem ser de escritórios ou residenciais. Ou centros comerciais. Em alguns dos seus pisos podemos encontrar hotéis ou restaurantes, nunca saberemos à partida se não tivermos o trabalho de casa feito.

Os arranha-céus podem ser a imagem de marca de Hong Kong, mas, mais do que isso, eles são uma necessidade, quer face à escassez do território e pressão demográfica, quer face ao terreno declivoso.

Há obviamente edifícios mais elegantes do que outros.


A minha preferência recai no Two IFC (International Finance Centre) que invadiu a paisagem em 2003 tornando-se o mais alto da ilha, título que ainda hoje possui do alto dos seus 416 metros.


Mas também gostei das bolinhas do Jardine House, mais velho três décadas, à data da sua construção o mais alto da vizinhança, considerado o primeiro arranha-céus de Hong Kong.


Outro a registar é o edifício da Torre do Banco da China, o qual parece desafiar as leis da geometria, tornando-se mais estreito quando está mais perto do céu. Apesar dos chineses considerarem que ele vai contra os princípios do feng shui, só temos de lhe agradecer por nos deixar ir no seu elevador supersónico até ao 43º andar e ganharmos uma outra perspectiva da cidade.

A especificidade do Central Plaza é o seu relógio. O seu topo é triangular com uma espécie de antena a apontar o céu e quando foi construído em 1995 os seus 374 metros deram-lhe à época o prazer de ser o mais alto da Ásia.

Isto parece que quando se constrói um edifício por estas paragens o objectivo principal é ser o mais alto, nem que seja da sua rua.

E, depois, mais modestos na sua baixeza, há outros edifícios icónicos em Hong Kong, como é o caso do HSBC, obra de Norman Foster de 1985, aquele que tem os leões a guardá-lo e, diz-se, se se acariciar as suas patinhas tal gesto trar-nos-á sorte.


Uma palavrinha para o Hong Kong Convention & Exhibition Centre, em Wan Chai. Todo em vidro, do seu interior temos acesso a toda a vizinhança, o que inclui a outra margem do Porto Victoria. E vemos que as obras não param nunca em Hong Kong, e parece haver sempre mais terreno para ganhar às águas.


Outra palavrinha para a Catedral de St John's, edifício colonial do século XIX a destoar da paisagem futurista. Mas o mais interessante é constatar como apesar de tão diferentes estes edifícios conviverem tão bem.

quarta-feira, janeiro 23, 2013

As Vistas de Hong Kong

Hong Kong tem também cenários naturais belíssimos, mas as vistas que se procuram são as dos seus edifícios enormes, a disputarem o céu. Uns mais elegantes do que outros, quase todos eles bem juntinhos.

Duas vistas, pois, imperdíveis:

- desde Tsim Sha Tsui, em Kowloon, género de Cais do Gingal, em Almada, a ver Lisboa, mas sem direito a viagem de barco Star Ferry em menos de 10 minutos.



- desde o The Peak, o ponto mais alto da ilha, a cerca de 370 metros de altitude. Há duas opções para se alcançar o pico donde teremos uma das vistas mais espectaculares do mundo. Ou através do Peak Tram, numa curta subida. Ou através do autocarro, numa longa volta com direito a todos os cenários que não se devem perder, incluindo, digamos, as traseiras da ilha, com as suas enseadas mais do que cénicas.

Hong Kong


Hong Kong é uma das regiões especiais administrativas da China, situada no sul deste país, onde o Rio das Pérolas encontra o Mar do Sul da China.

Muitos epítetos se lhe aplicam, talvez o mais conhecido seja o "onde o oriente encontra o ocidente". É um dos maiores centros financeiros do mundo, uma das regiões mais densamente populadas do mundo, o seu skyline é dos mais preenchidos do mundo, o seu porto um dos mais movimentados do mundo. Chega de tanto mundo, para esta região que há apenas dois séculos não passava de uma vila de pescadores e os cheiros que a inundavam eram aromáticos, levando ao seu nome: Porto Perfumado, ou seja, Hong Kong.

Desde o século XV, quando o primeiro europeu aqui chegou (quem mais se não um português?) que as suas costas eram lugar de encontros comerciais. Mas a política chinesa da época era uma de reclusão e fecho dos seus portos aos estrangeiros. O evento que tudo veio mudar foram dois na realidade: a primeira guerra do ópio (entre 1839-42) e a segunda guerra do ópio (entre 1856-60) opondo os chineses ao império britânico. Estes, conhecendo o vício dos chineses pela papoila que os bifes conseguiam obter de outras suas colónias, usaram essa "falha" para obrigá-los a abrirem os seus portos ao comércio e concederem-lhes regimes mais favoráveis nas negociações. Conseguiram assim o território da ilha de Hong Kong. Ao longo dos anos os britânicos foram estendendo o seu território em terras da China à península de Kowloon e aos Novos Territórios.

É precisamente de todas estas áreas de que se fala quando nos referimos hoje a Hong Kong: a ilha propriamente dita, onde estão os maiores arranha-céus e o seu centro financeiro, a península de Kowloon, bairros onde as tríades se instalaram, e os Novos Territórios, terra sem nada até há uns poucos anos e onde hoje se vêem prédios e mais prédios numa luta desbragada a caminho do céu e a caminho da China. A fronteira com a China fica a poucos quilómetros daqui, com Shenzhen logo a aparecer.

À beira de todos estes territórios encontramos ainda umas quantas ilhas, umas mais a atirar para o rochedo, outras bem grandotas, como Lantau, a ilha do aeroporto, da Disneyland e do Buda gigante.

Hong Kong é, pois, muito mais do que prédios e compras. Dá-nos uma ou duas mãos cheias de possibilidades para caminhadas ou zarpar num barco.

Um aviso à navegação, porém, no que respeita às compras: tirando os produtos da Apple, em que Hong Kong é o ponto do mundo em que eles são mais baratos, não creio que se façam melhores compras aqui do que em Nova Iorque, a não ser que se esteja mesmo numa de perder tempo só com isso e se procure abundantemente nos pontos menos óbvios afastados do centro.