O dia amanheceu com um sol que deixou o céu limpinho. Tudo perfeito para visitar
a maior atracção
de Kyoto, o Kinkaku-ji, também
conhecido por Pavilhão
Dourado. Yukio Mishima fez questão
de lhe dedicar um livro de mesmo nome, no qual um tresloucado monge acaba por
deitar fogo a toda aquela beleza. Conta a verdade do que aconteceu em 1950, em
que o edifício
principal do templo foi consumido pelo fogo e ficou totalmente destruído. O que vemos
hoje é, por
isso, uma reconstrução,
mas não
desilude em nada.
Veredicto: o lugar que não
se pode perder de ver, pelo menos uma vez na nossa vida.
Coberto em ouro, o edifício principal do templo é perfeito e ao mesmo tempo imponente às margens do idílico lago. Um verdadeiro postal, a que não falta sequer um precioso reflexo no lago. Originalmente construído como uma vila em 1397 para o Ashikaga do momento, após a sua morte foi convertido em templo budista. Hoje temos a felicidade de percorrer o seu espaço e agradecer o gosto especial e tocante de tanto militar zen.
Aqui perto fica o Ryoan-ji, um templo ideal para se confrontar os vários tipos de jardim. Aquele a que estamos mais habituadas, árvores verdejantes à volta de um lago de nenúfares, e aquele que esperamos encontrar na ideia que temos do Japão, o jardim japonês zen. Este último tem aqui o maior exemplo de Kyoto, o jardim de rochas. É um jardim sob a forma de um rectângulo de 25 por 10 metros, sem árvores, apenas com 15 rochas dispostas sobre um manto de gravilha. O que significa este jardim? Depois de contemplação e meditação lá chegaremos. Está tudo nos princípios do budismo zen de harmonia e simplicidade.
A uma curta viagem de autocarro fica o Nijo-jo, o castelo
construído em
1603 como residência
oficial em Kyoto de Tokugawa Ieyasu, o primeiro shogun do último shogunato. A
sua arquitectura demonstra o poder que este detinha. Não esquecer que o centro do poder político nessa época era Edo
(moderna Tóquio),
mas Ieyasu fazia questão
de marcar presença
também na
capital imperial. E que presença.
Este é um belo
exemplo da arquitectura de castelos deste período
e da cultura Momoyama, a dos três
homens que procederam à
unificação
do Japão no
final do século
XVI e princípio do século
XVII (Nobunaga, Hideyochi e Ieyasu). Aqui encontramos o Palácio Minomaru,
elegante para servir guerreiros, onde se vêem
diversas pinturas muito bonitas nas suas várias
divisões de
tatami. O chão
de madeira range à nossa
passagem, como se fosse um bando de passarinhos a cantar. O enorme jardim não é menos delicioso,
quase um jardim botânico.
Do castelo até Arashiyama ainda é uma longa jornada, para quem se vinha habituando a ter os templos todos concentrados a uma curta distância. Esta zona de Kyoto é extremamente popular entre os turistas japoneses. A paisagem ajuda, tal como existirem aqui mais uma série de templos de topo. A montanha é muito cénica, principalmente no ponto em que o rio é atravessado pela ponte Togetsukyo, e permite diversas caminhadas. Nós dedicámo-nos a duas das suas atracções: o Tenryu-ji e a Floresta de Bambu, para além de temos gasto a saliva só de olhar para as incontáveis lojas de doces que por aqui pululam. Ao final da visita vingámo-nos com uma mega taça com quase toda a doçaria que merecíamos degustar.
A Floresta de Bambu é um daqueles cenários que se julga existirem só nos filmes. Mas é real e é uma delícia ver o bambu todo juntinho e tão alto. Pena que não possamos caminhar entre ele, antes mais parecendo que nos limitamos a assistir ao show da bancada.
A visita ao Tenryu-ji, da escola rinzai do budismo, permite-nos
contemplar o seu lindíssimo
jardim zen e as não
menos lindas salas do seu edifício.
Sentar no tatami e deixar-nos ficar ali a olhar, por entre as portas de correr,
o verde e o lago é cumprir
os preceitos do zen à
nossa maneira.
Ao jantar tivemos a ida à
nossa primeira izakaya. O balcão
já estava
cheio, calhou-nos então
sentar no chão
junto às mesas
baixinhas. Toda uma outra experiência
japonesa, a juntar à sempre
surpreendente gastronomia.
Ao fim deste dia pudemos já
concluir algo estranho para nós
alfacinhas de gema: porquê
esperar que o sinal fique verde para os peões
quando se vê que a
um km de distância não
vem lá nenhum
carro? Embora lá atravessar
isso - as manas a subverter o costume da civilidade em Kyoto.