terça-feira, novembro 18, 2014

Deambulações


Livro novo acabado de ser apresentado no fim de Outubro no Festival de Cinema SAL (Surf at Lisbon), Deambulações, de Bruno Garrudo, faz-nos, sobretudo, sonhar. 
O surfista, viajante, artista, fotógrafo, mostra-nos o seu trabalho quase independente, sem recorrer a uma editora, resultado das suas viagens solitárias em lugares que não nos é dito directamente onde são, mas que desconfiamos onde sejam. Lugares junto ao mar, onde ficam as desejadas ondas, mas lugares onde habitam também pessoas e mitos. Os poucos textos que anunciam as muitas fotografias são precisos e belos, quase poéticos, enlaçando-nos no sonho que ao folhear o livro se torna comum. As fotografias, essas, não são de surf, embora as ondas estejam muito presentes, são antes de vida. Uma vida que existe ainda primitiva, no sentido de que o que vemos nos transporta para uma busca das nossas origens. 
Se o que se busca num livro é a sua capacidade para nos deixar imaginar, fluir, criar personagens, então estas Deambulações são perfeitas. 

terça-feira, novembro 11, 2014

Porto Family Run

Com o pretexto de correr pelo Porto (não, ainda não foi este ano que nos aventurámos pela Maratona), fomos de fim de semana à Invicta.

Mas, então, se a prova era no domingo de manhã, sábado foi dia de descanso, certo? Nada disso, que o privilégio de passear pelo Porto não anda aí todos os dias.


Assim, como que numa espécie de aquecimento, saímos da Cedofeita, onde deixámos as malas, e caminhámos até à Ribeira. Revisitar Juan Muñoz e os seus "Treze a rir de um" no Jardim da Cordoaria, Torre dos Clérigos a romper num céu azul intenso, Livraria Lello repleta como sempre.



A Ribeira não lhe ficava atrás e passámos quase a correr pelas suas casinhas coloridas e os seus mercados de rua para atravessarmos a Ponte Dom Luís e almoçarmos no Cais de Gaia. O eleito foi o DeCastro Gaia, com os sempre saborosos petiscos de Miguel Castro e Silva, no edifício Porto Cruz. Aí aquela esplanada no terraço... Parece que o Douro está ainda mais próximo de nós.

De volta, subimos à Serra do Pilar, os contrastes do Porto deste século ali à vista: a modernidade e o turismo junto ao abandono e solitude - a ponte divide-os.



Não me canso de repetir: atravessar a Ponte Dom Luís deveria aparecer naqueles livros de 100 qualquer coisas a fazer antes de morrer. Então se o São Pedro nos brindar com umas abertas, como me tem feito sempre que me lembro de ir até ao Porto, o postal fica perfeito. O Douro é lindo e o cliché do Porto escuro e velho já era.


Junto à Sé uma constatação que passa a oficial: o Porto está na moda e os turistas estão a inundá-la. Espanhóis, claro, mas também muitos franceses, russos, asiáticos. Deu até para entabular uma conversa com umas chinesas que, tal como nós, apreciavam o emaranhado de telhados misturados na paisagem do centro portuense.

Santa Catarina pode continuar a artéria mais conhecida e frequentada do Porto, mas as ruas à volta dos Clérigos mostram todo o seu charme. Não é da Rua Galeria Paris e seus bares e restaurantes da moda que falo. É qualquer uma delas onde se vê aberta uma loja ou um restaurante de absoluto bom gosto. Espaços pequenos, intimistas, que parecem oferecer uma comida de petiscos caseiros, simples mas confortáveis. Um exemplo é a outrora abandonada Rua dos Caldeireiros que vai dar à Rua das Flores. Estas duas vias merecem ser percorridas para se sentir com está a actual pulsação da cidade. Os ferreiros já eram, mas junto a tascas autóctones encontramos hoje espaços de forasteiros interessados em dar uma nova vida, mais urbana, à cidade. Sem ruptura. Veja-se a reabilitação da Praça das Cardosas.






A Rua das Flores, essa, está totalmente virada para o peão. Para caminharmos pacificamente a observar os grafittis certeiros que por ali pululam. Os azulejos preservados dos edifícios. As suas varandas em ferro muito características. As esplanadas que dão ainda mais vida à rua. A cor que por ali abunda. E pensar que muitos mais edifícios ainda abandonados podem ainda vir a ser recuperados. Por agora, uma sugestão: uma refeição no Cantina 32, saboreando os seus pratos e aguardando ansiosamente pelas sobremesas, em especial o cheesecake de banana caramelizada e chocolate, apresentada num estranho e original vaso que parece não ter mais nada além de terra - report aqui. Mesmo assim, atirámo-nos a ele com a mesma confiança com que horas antes nos havíamos dedicado à nossa corrida.

Quanto à corrida, começámos os 16km junto ao Palácio de Cristal e logo subimos em direcção à rotunda da Boavista, um dos lugares mais inspiradores para os sportinguistas, com o leão a depenar a águia lá bem no alto. Com ainda poucos kms nas pernas, aproveita-se para apreciar as formas da Casa da Música e ir descobrindo os muitos edifícios apalaçados da imensa Rua da Boavista, sem esquecer recentes aquisições também arrojadas, como é o caso do edifício da Vodafone portuense. Com o Atlântico em frente, virámos para a direita rumo ao Porto de Leixões e disputámos as ruas com os surfistas que saiam de casa para devorar as ondas mesmo ali à porta. De volta à Rua da Boavista, confirmação de que a Fundação Cupertino Miranda nos esperava para a tarde para nos admirarmos com o modernismo de Dominguez Alvarez. E, pronto, paragem algures num canto do Parque da Cidade. Objectivo cumprido. Para o ano vem a maratona?