segunda-feira, fevereiro 29, 2016

Memorial do Holocausto

Desde 2004, as Portas de Brandeburgo passaram a ter como vizinho o impressionante Denkmal für die ermordeten Juden Europe (Memorial dos Judeus Assassinados na Europa), convencionalmente conhecido por Memorial do Holocausto.
Este memorial aos judeus vítimas do Holocausto, concluído em 2004 e inaugurado em 2005, pelos 60 anos do fim da 2ª Guerra Mundial, foi desenhado pelo arquitecto americano Peter Eisenman.

 
Corresponde a 19 000 m2 de um terreno coberto com 2711 blocos de cimento - semelhantes a sarcófagos, com as mesmas dimensões horizontais mas com alturas diferentes, distribuídos por uma grelha rectilínea, mas ainda assim labiríntica.
 




Para além desta parte escultórica, o memorial inclui também um centro de informação. 
A intenção de Eisenman, na minha opinião muito conseguida, foi criar uma atmosfera que provocasse um sentimento de confusão, desorientação e inquietude.
 
 
 
O conjunto, austero e frio, visa assim representar um sistema supostamente ordenado mas que perdeu o contacto com a razão humana.
O memorial foi alvo de várias críticas durante todo o processo. Desde a rejeição do projecto original ao escândalo da contratação da empresa de pintura anti-graffiti utilizada nos blocos de pedra, a qual está relacionada com uma empresa envolvida nas intenções nacionais-socialistas de perseguição aos judeus, nomeadamente na produção do gás utilizado para o extermínio dos judeus.
Algumas das críticas ao projecto apontam que o mesmo devia incluir o nome das vítimas, assim como o número dos mortos, os autores nazis e o lugar onde ocorreram as mortes, de forma a não encobrir o crime dos visitantes (alguma desta informação encontra-se no centro de informação).
Outros, como o crítico de arquitectura Nicolai Ouroussoff, consideram antes que o memorial consegue transmitir os horrores do Holocausto sem recorrer a sentimentalismos, mostrando como a abstração pode ser uma ferramenta mais poderosa para transmitir as complexidades da emoção humana.
Parece-me que o memorial, sem palavras, consegue transmitir isso mesmo.

domingo, fevereiro 28, 2016

O Muro de Berlim

A presença do Muro marcou Berlim de forma inegável. Actualmente parte das áreas por onde passava o Muro são alguns dos principais pontos turísticos da cidade.
Porém, a presença do Muro e a sua história é oferecida de formas diferentes. Se a East Side Gallery, em Friedrichshain, com o muro pintado por artistas, nos dá uma leitura leve, artística e mesmo divertida, não nos remetendo para o drama das quase três décadas de encarceramento da população da Berlim Oriental, já o Memorial da Bernauer Strasse, no bairro de Prenzlauer Berg, transporta-nos para o sofrimento e a barbárie daqueles tempos.
Na East Side Gallery, um troço de muro de 1,3 Km paralelo ao rio Spree, podemos ver a arte urbana desenvolvida por diversos artistas do mundo na sequência da queda do Muro.
A cor está presente e a temática expressa está intimamente relacionada com a história.




Um dos murais mais famosos é o beijo do líder soviético Brezhnev ao líder da RDA, Honecker, obra, de 1990, de Dmitri Vrubel designada My God, Help Me To Survive This Deadly Love.

 
Este graffiti reproduz o beijo icónico entre os dois líderes em 1979, aquando da celebração dos 30 anos da criação da RDA.
O mural do francês Thierry Noir é também considerado um dos mais icónicos. Noir foi, em 1984, o primeiro artista a pintar o Muro e aparece, inclusivamente, no filme de Wim Wenders Asas do Desejo, de 1987.


O Trabant, carro icónico da formação comunista da Alemanha Oriental, a rebentar pelo muro, obra de Birgit Kinder, é outra das pinturas mais conhecidas.
 

Mas muitas outras são fascinantes. Pena o estado de conservação que já obrigou a novas repinturas, processo polémico na medida em que nalguns casos não foram os artistas originais que as refizeram. Após esse restauro, algumas das pinturas estão actualmente protegidas por gradeamentos, o que retira muito do encantamento do espaço.
Noutras partes da cidade é também possível ver vestígios do Muro, como na área envolvente à Potzdamer Platz.
 

Mas é na Bernauer Strasse onde mais se sente o Muro como ele foi.
A Bernauer Strasse foi uma das ruas em que um lado fazia parte de Berlim Ocidental e o outro de Berlim Oriental.
 
A intervenção museológica ali feita é extraordinária. O Gedenkstätte Berliner Mauer, para além de um centro de documentação, de um fantástico centro interpretativo, inclui um percurso interpretativo ao longo de toda a rua (cerca de 1,4km) com elementos explicativos que nos permitem perceber a evolução da construção do Muro, a transformação ao longo dos anos daquela parte da cidade com a construção de um muro ainda mais intransponível devido à cegueira crescente de quem mandava, assim como entrar em algumas histórias pessoais de quem tentou atravessar o Muro. 


Por vezes percorrendo Berlim damos por nós a questionar a que Berlim pertencia aquele território. Marcas subtis no pavimento ajudam a responder.
Porém, na Bernauer Strasse, através de uma instalação extraordinária e de grande sensibilidade é perceptível com nitidez como era feita a divisão do território. Ao mesmo tempo em que em alguns troços permanece a presença do Muro, na maioria da extensão da rua foi colocada uma instalação semelhante às cofragens dos muros no lugar onde este passava. Estes elementos dão-nos a noção de barreira, mas simultaneamente oferecem a transparência e possibilidade de atravessamento que o Muro durante décadas não permitiu.
 

Não há como não nos revoltarmos, chocarmos e emocionarmos ao termos acesso aos relatos de quem viveu esta situação na primeira pessoa. Seja por estar impedidos da natural liberdade, por familiares estarem impedidos ou por os vizinhos do outro lado da rua estarem.


Choca saber que de um lado da rua alguém tomasse livremente banhos de sol no seu jardim ladeado pelo muro e no outro uma multidão estivesse na fila para aquisição do racionamento definido nas lojas do povo, como mostram os registos fotográficos do centro de interpretação.
Impressiona também que o Muro tenha dividido o sistema de transportes, contribuindo para que algumas estações de metro tenham virado estações fantasmas, porque remetiam para território oriental. É o caso da estação Nord-bahnhof S-Bahn, que dá acesso à Bernauer Strasse. O metro passava, mas não parava nestas estações altamente patrulhavas por guardas de fronteira da RDA.
 
 
Mas não há como não nos emocionarmos com imagens, algumas implantadas nas empenas dos edifícios, como a do soldado a saltar a barreira de arame farpado ou também com os registos da queda do Muro e termos vontade de ter estado naquele momento histórico junto das pessoas que sofreram e lutaram anos pela queda daquela vergonha da humanidade.

 
Como não compreender que após a declaração da queda do Muro, muitos insistissem saltar o mesmo em vez de passarem por partes já derrubadas. Provavelmente naquele momento, para muitos, foi a concretização do acto de transgressão desejado durante anos a fio.
Por outro lado, como não fazer um sorriso irónico e pensar que quem lidera o mundo é patético. Sobretudo,  quando nos primeiros metros após o Checkpoint Charlie (que virou uma palhaçada turística), onde antes, de 1961 a 1989, a partir daquele ponto até Vladivostok o controlo era totalmente soviético e hoje está instalado um McDonald's, um dos maiores símbolos do mundo capitalista.
 

 
 
É nesse momento que me questiono, porque razão a humanidade não aprende com os erros do passado. 

sábado, fevereiro 27, 2016

Berlim - Evolução de uma Cidade ao Ritmo de Aberrações

A história do século XX da Alemanha fez-se de aberrações. Várias. Demais.
Primeiro o grotesco, aterrador e desumano regime nazi de Hitler, o qual conduziu ao posterior envolvimento directo da Alemanha na 2ª Guerra Mundial.
Na sequência da 2ª Guerra Mundial deu-se a divisão da Alemanha em dois países, a República Democrática Alemã (RDA), a oriente, e a República Federal Alemã (RFA), a ocidente.
Berlim também foi dividida em duas: Berlim oriental, pertença da RDA e sob controlo soviético e Berlim ocidental, da RFA e sob o jugo dos americanos, franceses e britânicos. A cidade passou assim a estar dividida em quatro sectores (soviético, americano, francês e britânico).

 
Na sequência destas divisões surgiu o Muro de Berlim. Uma das muitas aberrações da humanidade. Não existem razões nem desculpas para tal ideia abstrusa. Ainda mais o tempo que durou. 28 anos. Longos e dolorosos 28 anos. De 1961 a 1989. Quase três décadas de controlo ditatorial feito pela Stasi, a polícia política do regime comunista liderado pelo SED.
 
Parte do muro na área de Potzdamer Platz
 
Não dá para entender e aceitar como a mente humana pode ser tão cruel. É inadmissível como a fraqueza e o medo de perder o controle de alguns, comprometeu irremediavelmente a vida de tantos.
A Berlim actual, urbanística e também turística, é um produto dessa situação histórica. Urbanisticamente, houve áreas, primeiro, destruídas pelos bombardeamentos da guerra e, outras, que foram impedidas de se desenvolverem naturalmente, por serem percorridas pelo Muro ou por estarem nas imediações do mesmo. Potsdamer Platz é o exemplo maior disso.
Turisticamente por alguns dos símbolos do horror do passado serem actualmente elementos turísticos da cidade (Muro, Museu Judaico, Reichtag, entre outros).
Vamos percorrer a Berlim do presente, a qual se dirige ao futuro sem esquecer o passado.

Where Are We Now? | Berlim por David Bowie

Had to get the train
From Potsdamer Platz
You never knew that
That I could do that
Just walking the dead

Sitting in the Dschungel
On Nürnberger Strasse
A man lost in time
Near KaDeWe
Just walking the dead

Where are we now, where are we now?
The moment you know, you know, you know

Twenty thousand people
Cross Bösebrücke
Fingers are crossed
Just in case
Walking the dead

Where are we now, where are we now?
The moment you know, you know, you know
As long as there's sun
As long as there's sun
As long as there's rain
As long as there's rain
As long as there's fire
As long as there's fire
As long as there's me
As long as there's you
Graffiti no RAW em Friedrichshain

Foi com esta música, Where are we now?, do álbum The Next Day, de 2013, que David Bowie relembrou uma parte da história de Berlim, nomeadamente os tempos que por lá viveu, nos anos 70 do século XX.
O tom melancólico da música remete-nos para tempos cinzentos.
Não conheci a Berlim dessa época.
Estive a primeira vez na cidade em 1998, nove anos após a queda do Muro e oito anos após a reunificação. Encontrei uma cidade viva, mas ainda em reconstrução e a reunificar-se.
Recentemente, regressei a Berlim e encontrei uma urbe vibrante, ainda em construção, mas com o caminho bem definido e em que sabemos onde estamos. No entanto, com sol, chuva ou contigo inevitavelmente tropeçamos no passado e lembramo-nos - é bom que não esqueçamos para que não se voltem a repetir os mesmos erros - da cidade onde esteve muita gente noutros tempos menos radiosos que seguramente se questionava "Onde estamos nós?".

segunda-feira, fevereiro 22, 2016

Alhambra - Mais algumas fotos

O cenário 

Os pavilhões e pátios do Generalife

As janelas rendilhadas

E os arcos trabalhados 

E as portas decoradas

Os mosaicos e a caligrafia 

As formas decorativas

A água 

Mais água 

Jardins e mais água 

Água a correr para a saída 

sexta-feira, fevereiro 19, 2016

Alhambra - Alcazaba e Palácios Nasridas


Se começarmos a visita à Alhambra pelo Generalife percorreremos, depois, um trajecto agradável que nos levará até à Alcazaba e aos Palácios Nasridas, o topo da cultura islâmica na Europa. Antes, porém, passamos por partes das muralhas ainda de pé e, em especial, pelo Convento de São Francisco (agora transformado em Parador, o equivalente espanhol das Pousadas de Portugal), pela igreja de Santa María de la Alhambra e pelo Palácio de Carlos V. O convento e a igreja estão hoje no espaço que antes da reconquista ocupava a antiga mesquita da Alhambra e não deixarão grande memória para o futuro do visitante.



Já o Palácio Carlos V é impactante. A sua construção teve início em 1527 e este é um poderoso palácio renascentista. Ou seria um poderoso palácio renascentista não se desse o caso de estar lado a lado com os palácios nasridas (existe mesmo uma ligação interior entre eles) e qualquer pessoa esperar visitar outra arquitectura que não esta. Sim. Não há que recear as palavras - este edifício pode ser belo mas está aqui completamente deslocado. Ainda assim, vale a visita se não ao seu Museu Nacional de Arte Hispano-Muçulmana (o qual reúne objectos achados nas imediações) pelo menos ao seu claustro surpreendentemente circular.


Depois de seguirmos pela Puerta del Vino, junto ao Palácio de Carlos V, teremos acesso à Alcazaba e aos Palácios Nasridas.


Alcazaba é a parte mais antiga do complexo da Alhambra, uma estrutura defensiva cuja construção teve início logo com a instalação da dinastia nasrida na região. Esta viria mais tarde a incluir a mesquita e palácios.


A entrada nos Palácios Nasridas é efectuada pelo Palácio Mexuar, depois de passarmos pelo pátio Machuca. O Mexuar é uma espécie de antecâmara do que virá depois. Esta era a sala do conselho dos muçulmanos e cenário de festas. A sala que é hoje a entrada para a antiga residência dos sultões seduz pelas suas quatro colunas em mármore que sustentam a abóbada revestida em estuque e o tecto forrado a madeira. 


Os pormenores murais com mosaicos com decoração geométrica têm desde logo aqui o início da sua presença que se revelará constante ao longo da visita pelos demais espaços dos palácios. Tal como o uso da caligrafia como decoração.




Segue-se o Cuarto Dorado - espaço mínimo, intimista, feito de um pátio com uma fonte, três degraus que preparam a chegada a uma parede imensamente bela, toda coberta por filigranas de estuque dourado, cinco deliciosas janelas que se abrem altaneiras, duas portas cujos caixilhos são envolvidos por azulejos e mosaicos na banda inferior. Não poderia haver lugar mais intenso, pleno de encantamento, para preparar a entrada no complexo dos palácios.




Ainda não refeitas de tanta delicadeza - na Alhambra nunca o estaremos - entramos no Patio de los Arrayanes (parte daquele que é conhecido como Palácio de Comares, residência oficial do sultão). O nome deve-se aos arbustos de murta podados que acompanham as laterais da piscina rectangular. É impossível não nos deliciarmos com os reflexos dos pavilhões que brincam na água da piscina. Aliás, a água aqui desempenha uma outra função para além das já focadas, igualmente elevada, a de reflexo, o qual significa a impermanência das coisas materiais - por isso há quem diga que a Alhambra foi feita por e para intelectuais dados a preocupações místicas.



Neste pátio as fachadas laterais possuem janelas e arcos simples e os pavilhões de cada um dos topos colunas de mármore branco que suportam uns arcos elegantes. Há que estar atenta a todos os pormenores, à decoração mourisca em estuque, ao trabalho em filigrana que contorna as portas e janelas, aos mosaicos e às inscrições em cima dos mosaicos. 


O uso do mosaico é uma arte decorativa com origem na arte islâmica vinda do Próximo Oriente e do norte de África e da corte Nasrida acabou por se espalhar para toda a Península Ibérica. O colorido é evidente, luminoso e radiante, sempre com padrões geométricos.


Já a caligrafia árabe, parte da arquitectura e arte islâmica, manifesta-se em inscrições de três tipos: versículos do Corão, ditos tradicionais religiosos e poemas louvando Deus e os construtores da Alhambra. Juntamente com os arabescos florais e os ornamentos geométricos, a caligrafia é graciosa e dá ao conjunto uma extravagante fantasia. Ao mesmo tempo, porém, o movimento rítmico da caligrafia confere-lhe uma harmonia absoluta. 

O recurso a estes elementos abstratos - motivos florais e geométricos - deve-se ao facto de no mundo islâmico ser proibida a representação figurativa. As flores, folhas e trepadeiras e os quadrados, losangos e estrelas, combinados ou entrelaçados, resultam num rendilhado requintado e encantador capaz de nos transportar para uma outra dimensão e despertar em nós uma imaginação que desconhecíamos ser possuidores. Na descrição do Patio de los Arrayanes, por exemplo, Washington Irving deixou discorrer a pena sobre histórias de sultões, vizires, princesas, todos eles seres apaixonados e contemplativos.


Para lá deste Patio, o chamado Palácio dos Comares possui a Sala de los Embajadores. Os arcos esmagam-nos com tanta decoração e perfeição e há ainda que perscrutar o tecto em madeira com embutidos. Já ao nível dos nossos olhos voltamos a observar os detalhes em cima dos mosaicos com inscrições que nos revelam que "Apenas Alá é vencedor", para além de inscrições poéticas. Esta Sala de los Embajadores funciona ainda como miradouro, com vistas fantásticas do rio Darro e do bairro Albaicin através de janelinhas rendilhadas.

Se o tema da água jogou no pátio, agora aqui jogam os temas da luz e das sombras. Exterior / interior; pátios / miradouros. A interligação entre eles é total, demostrando um uso flexível dos espaços (e não só nesta sala). A decoração intensa nesta sala de paredes altas faz todo o sentido, uma vez que era aqui que se desenrolavam as recepções de estado, havendo que recordar que era a diplomacia e não a guerra o substracto da dinastia Nasrida.

Já aqui usamos quase todos os adjectivos superlativos possíveis e ainda não chegámos ao Patio de los Leones, cujo cartão de visita anuncia ser o topo do topo da arquitectura Nasrida. Poderá ele surpreender-nos ainda mais? 



Sim, surpreende. O seu brilhantismo é ainda maior. A sua perfeição, graça e beleza conjugam-se para nos oferecer o espaço mais harmonioso de toda a Alhambra. A geometria, simetria e sentido de proporção são absolutas. O pátio de forma rectangular é rodeado de colunas e arcos, com duas espécies de pequenos "tronos" de cada lado que mais parecem casinhas de bonecas rendilhadas, enquanto que ao centro fica a fonte sustentada pelos doze leões, cartão postal primeiro da Alhambra. Os leões simbolizam o sol e a vida. Das suas bocas corre a água em direcção aos quatro pontos cardeais. A água a correr, sempre o elemento água presente. Aqui procura-se representar os quatro rios do paraíso através de quatro finos cursos de água, cada um deles correndo para cada um dos lados do pátio. A intenção é a de que este seja um jardim divino. Mais uma vez, a influência dos jardins persas é evidente, nomeadamente pela característica do chahar bagh (o jardim de quatro partes). Houve quem dissesse que o Patio de los Leones seria a versão moura de uma vila rural no meio da cidade; outros há que preferiram compará-lo ao jardim zen. O certo é que este delicado pátio despertará em nós um estado de bucolismo e contemplação que só pode resultar num sentimento intimista absoluto.


Ao redor do Patio de los Leones ficam salas de um luxo imparável. 
Já dissemos que os jardins e os pátios são extensões exteriores dos edifícios e tanta beleza exterior não pode deixar de ser acompanhada por uma igual beleza interior. Assim é, em especial a Sala de los Abencerrajes com a sua imponente cúpula em forma de estrela com pequenas janelas e muqarnas embutidas. A perfeição não tem fim, seja através da solução para que a luz penetre num quarto interior escuro, seja através da estupenda e original decoração.



A Sala de las Dos Hermanas (após contorno da Sala de los Reyes, fechada para restauro na altura da nossa visita) possui igualmente uma cúpula fantástica, mas o fulgurante trabalho artístico parece atingir aqui o pleno na decoração das paredes e na sucessão de janelas e arcos debruçados para o jardim de Lindaraja.



A continuação do percurso faz-nos passar pelo Miradouro de Daraxa, com mais uma vista privilegiada para o Albaicin. As habitações privadas ficavam por aqui e foi por aqui também que Washington Irving se deixou estar a escrever o seu Tales of Alhambra em 1829. Não admira a sua inspiração tal a exaltação dos sentidos que se vive na Alhambra.

A visita aos Palácios Nasridas terminaria com o Palácio do Partal, o mais antigo, mas não passámos por ele. Este é mais um dos postais da cidadela, com a sua majestosa Torre de las Damas à beira da piscina e as montanhas atrás a completar o cenário.
À saída dos Palácios Nasridas os espaços aprazíveis continuam, jardins, fontes, sempre a água a correr solta. 
E, por fim, não é que haja quem queira deixar a Alhambra, mas podemos tomar a Puerta de la Justicia para retornar ao centro de Granada, numa agradável e curta caminhada pelo Bosque de la Alhambra até chegarmos à Plaza Nueva.
A continuación...