sexta-feira, fevereiro 24, 2017

London, London 2017

Já no embalo para a próxima semana:


sexta-feira, fevereiro 17, 2017

Amadeo de Souza-Cardozo / Porto Lisboa / 2016-1916

Até dia 26 deste mês ainda podemos ver em Lisboa, no novo espaço do Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Chiado, a exposição de Amadeo que pretende recriar uma outra do mesmo Amadeo que aconteceu há 100 anos, no Jardim Passos Manuel, no Porto, e na Liga Naval Portuguesa, em Lisboa. Na época esta exposição foi apresentada por Almada Negreiros como “mais importante do que a descoberta do caminho marítimo para a Índia”.
Modernista e vanguardista, as obras de Amadeo são encaixadas à vez no cubismo, futurismo e expressionismo, numa mostra da sua clara versatilidade.
O que mais me agrada na sua pintura são as cores e a geometria do seu desenho.
O nosso primeiro modernista pode ter andado por Paris, mas o resultado das suas pinceladas remete directamente para a paisagem portuguesa, como é evidente nestas duas obras.



As casinhas, portas e janelas, e Manhufe, arredores de Amarante, como aperitivo de uma futura viagem ao norte para (re)descobrir o Portugal de Amadeo.

sexta-feira, fevereiro 10, 2017

1 Dia no Parque das Nações

A proposta para se iniciar o dia vem em escolha múltipla, mas sempre na zona norte do bairro do Parque das Nações: que tal uma corrida junto ao rio, uma partida de ténis debaixo da Ponte Vasco da Gama ou umas braçadas na piscina ao ar livre do ginásio I Am Fit (antigo Club House)? A vista aliada ao prazer do exercício físico (para quem o tem) é imbatível por estes lados.


Para quem esta ideia causa desconforto e um arrepio de preguiça só de a imaginar, a solução é a de ver outros exercitarem-se. Dirija-se para debaixo da Ponte Vasco da Gama e deixe-se ficar a assistir aos malabarismos dos miúdos no skate park mais bonito do mundo ou, pelo menos, o skate park com a localização mais bonita do mundo. Esta área é ainda ideal para observar a fauna do Parque, nomeadamente flamingos e outras aves.


Depois da queima de umas calorias, partindo do local onde iniciámos o nosso desporto matutino, seja a praticar ou a assistir, o ideal é abastecer com umas frutas e outros alimentos no Pomar da Rosa, uma instituição incontornável do bairro para os lados do Rossio de Levante, e descansar um pouco numa das esplanadas de café na acolhedora Praça no final do Passeio dos Jacarandás. 

Reposta a energia que nos fará falta para o resto do longo dia, seguimos em direcção à Torre Vasco da Gama, em pleno Parque Tejo. 

(um aparte que se impõe: os nomes por aqui são inspirados. Já escrevemos Levante e Jacarandás. Que dizer de Rua Ilha dos Amores, Passeio das Garças, Estacada das Gaivotas, Travessa Corto Maltese, Terreiro dos Radicais ou as mais famosas Alameda dos Oceanos e Avenida da Boa Esperança? A homenagem às epopeias marítimas dos portugueses estão por todo o lado, assim como aos heróis populares da cultura mundial - para aprofundar mais sobre a toponímia do bairro é clicar aqui http://www.portaldasnacoes.pt/item/toponimia/)

Continuando o caminho junto ao rio até à Torre Vasco da Gama, com sorte com o dia podemos observar o espelho que se forma na água do Tejo.


Um pequeno desvio interior para o prédio redondo verde e branco (que inicialmente marcava a fronteira entre os concelhos de Lisboa e Loures) leva-nos a conhecer um conjunto de homens verdes que levitam sobre a água de um lago / fonte - são os "Homens de Bessines", de Fabrice Hybert, a primeira obra de arte pública sugerida neste itinerário.



De volta ao rio, e já junto à Torre, eis-nos face a face com outra obra de arte, também verde, mas desta vez passível de ser tomada por nós - é a "Cursiva", de Amy Yoes, e podemos subi-la e tentar caminhar sobre as suas curvas. Como seus vizinhos distintos encontramos um painel de azulejos do surrealista Roberto Matta (é tentar identificar o que os seus bonecos andam para ali a fazer) e a belíssima arquitectura do bloco de apartamentos da autoria de Manuel Aires Mateus (aquelas varandas são de fazer inveja a qualquer ser provido de emoções).




Aproxima-se o corredor onde se sucedem os restaurantes. Não é tempo ainda de almoçar e por isso exploraremos os jardins que se escondem entre estes restaurantes e o rio. São os surpreendentes Jardins Garcia d' Orta. Os seus sendeiros serpenteiam por uma grande diversidade de plantas de todo o mundo. 



No final, já perto da quase nave espacial que parece ser o Pavilhão Atlântico (actual Meo Arena), um dos símbolos da Expo 98, encontramos o Lago das Tágides com esculturas de João Cutileiro. Uma vez mais, o nome "Tágides" e as figuras aqui representadas buscaram inspiração nas ninfas de Camões. Por ali a nadar ou simplesmente a brincar na água vemos umas belas meninas nuas em mármore quase rosa, que se torna mesmo rosa quando os raios de sol lhes dão a atenção merecida, não faltando sequer a falua, o barco tradicional do Tejo.


Uns passos para trás no caminho conduzem-nos de volta ao tal corredor de restaurantes onde logo numa das primeiras portas encontramos o The Old House. As máscaras da ópera chinesa não enganam: é mesmo um restaurante chinês. Um dos melhores e mais autênticos da cidade. É conferir pela clientela chinesa que ocupa as suas mesas e, sobretudo, pelos saborosos pratos que serve.

De barriga cheia, continuamos o passeio.

Estamos já perto do Centro Comercial Vasco da Gama, "Vasco" para os amigos, ladeado pelas suas duas torres de apartamentos de 110 metros de altura que em pouco tempo se tornaram um postal da Lisboa deste século XXI. Não entramos, porém, que não é dia de compras.



Um estreito carreiro de água com as bandeiras de (quase?) todos os países do mundo abre-nos o caminho até a este shopping e até à escultura Homem - Sol, de Jorge Vieira; à esquerda e um pouco antes, uma outra escultura icónica. É a Rizoma, de Antony Gormley, nove figuras humanas entrelaçadas umas nas outras, representando os ramos de uma árvore que por sua vez representa a união entre os homens.





Pavilhão de Portugal, do Pritzker Álvaro Siza Vieira, fica aqui mesmo. As suas linhas direitas e a sua cor branca não enganam, é mesmo do Siza. Ainda não se encontrou um destino para o interior deste pavilhão que esteja ao nível da grande obra de arquitectura que é - classificado como monumento de interesse público e Prémio Valmor em 1998. Vai recebendo eventos, uns mais distintos, outros mais vulgares. Sob a sua pala - obra monumental da engenharia de Segadães Tavares - tanto podemos assistir à gravação de um reclame de carros como de um programa de tv das manhãs, música pimba como música rock, aula de aeróbica como parque de transição de uma competição de triatlo. O melhor mesmo é apanharmos o espaço vazio e, depois de circundarmos todo o edifício para melhor percebermos os seus pormenores, deixarmo-nos ficar por ali, pela sua praça coberta, a tentar entender como é possível a sustentação daquela pala imensa, tão fina e ligeiramente curvada. 


Debruçados na espécie de varanda que dá para a Doca dos Olivais observamos os teleféricos a deslizar no horizonte por cima do rio e imaginamos a colecção de espécies marítimas que estará para além dos vidros do Oceanário (ou então, paramos de imaginar e conferimo-las numa visita a este que é um dos melhores Oceanários do mundo).



Estamos no eixo central do que foi a Expo 98 e no que até hoje continua a ser um espaço vivido. Há o Oceanário, há o shopping, há o Meo Arena, mas há também ainda o Pavilhão do Conhecimento, o Casino de Lisboa e muitos restaurantes. E muitas empresas que aqui têm os seus escritórios, de que é exemplo a Vodafone e o seu edifício de arquitectura característica e criativa.




mobiliário urbano feito de bancos e floreiras com listas coloridas, obra de Carrilho da Graça, é mais uma marca da Expo 98. Impossível de esquecer e de evitar os vulcões ao longo da Alameda dos Oceanos. Estes cones revestidos a azulejos de várias tonalidades jorram água de tempo a tempo, água essa que se vai juntando num canal até formar uma onda, numa erupção deliciosa cuja observação constitui um dos passatempos preferidos das pessoas de todas as idades que visitam o Parque das Nações. 



Chegados à rotunda temos à nossa direita o Cabeço das Rolas. Subimos e todo o Parque das Nações fica aos nossos pés. É provável que sejamos os únicos e que nos surpreenda o silêncio. No ponto mais elevado do bairro temos, para além da vista, mais jardins, incluindo jardins de água, e mais espaço para se estar. Como existem bancos com cobertura, o espaço é ideal para um piquenique ou, pelo menos, uma paragem para um lanche.



Lá em baixo vemos a Torre da Galp e mais uma obra de arte: as linhas de Pedro Calapez, melhor vistas ainda da plataforma elevada daquela torre. 

Voltamos para junto do rio e estamos na Marina do Parque das Nações. Ao longo dos anos tem havido dificuldades em manter os barcos aqui, por dificuldades de assoreamento, mas agora parece estar melhor. Nesta área junto à Marina encontramos uma enorme concentração de edifícios de habitação cujos arquitectos pensaram estar a desenhar barcos. Nenhum deles, porém, chega a brilhar tanto como as torres à vela que ladeiam o Centro Comercial Vasco da Gama. O piso na Marina é óptimo para se andar de patins. As esplanadas por aqui, confesso, não me cativam, pelo que passo rápido e volto no caminho.


Não sem antes, porém, apreciar a Onda. A Onda Luso Americana remete uma vez mais para a tradição marítima portuguesa e é uma escultura em aço inoxidável que pretende representar a emigração dos portugueses para os Estados Unidos da América. Foi oferecida pela Comunidade Luso-Americana a Lisboa e nela podemos encontrar inscritos os nomes dos emigrantes que quiseram participar neste projecto.


Já estamos a retornar no nosso passeio pelo Parque e passaremos à porta do Teatro Camões, sede da Companhia Nacional de Bailado, onde podemos consultar a programação. Os espectáculos oferecidos pela companhia costumam ser fantásticos, muitos deles de ballet contemporâneo. Uma excelente opção para se entreter a noite.




Mas como a noite ainda não terá caído, tempo ainda para uma deambulação pelos últimos jardins do itinerário em proposta. São o Jardim das Ondas e os Jardins d' Água, ambos criação de Fernanda Fragateiro. A água é uma inspiração evidente, assim como o são os demais elementos da natureza.


Caso o dia tenha passado rápido e a noite já o tenha vencido, não resta muito mais do que o jantar. Opções não faltam, mas a escolha recai sobre o Butchers, restaurante de carnes maturadas com preços bem acessíveis. Fica mesmo nas traseiras do Casino de Lisboa, onde podemos terminar a noite depois de um gelado como sobremesa na Oficina do Gelado, a sua gelataria sua vizinha.


Caso o dia de luz ainda dure, a proposta é tomar a telecabine junto ao Jardim das Ondas até à Torre Vasco da Gama. Aqui, na proa do terraço do Hotel Myriad, é o lugar ideal para assistir ao fim do dia acompanhado de um chá ou de outra bebida.


De saída do bairro do Parque das Nações, tempo ainda para apreciar a arquitectura da Estação do Oriente, projecto de Santiago Calatrava, hoje já outro postal incontornável da Lisboa deste século. A sua iluminação nocturna realça ainda mais o seu desenho.

Apesar do dia longo, muito terá ficado a faltar conhecer e viver. 



Para aguçar o apetite para uma nova visita, adianto o painel de azulejos cheio de heróis da banda desenhada que decora a abrilhanta o Hotel ART’S, obra do artista plástico islandês Erró. Aqui, talvez mais do que em qualquer outro lugar, está bem evidente o espírito jovem e descontraído do bairro e, sobretudo, disposto a abraçar a modernidade expressa sob qualquer tipo arte.



Como chegar à zona norte do Parque das Nações:
Comboio - estação de comboio de Moscavide e, depois, cerca de 5 minutos a pé até ao Rossio do Levante.
Metro - estação de metro Oriente ou estação de metro Moscavide e, depois, cerca de 20 / 30 minutos a pé desde cada uma delas (distância praticamente igual) até ao Rossio do Levante.
Autocarro - números 400 ou 708 desde a estação de metro Oriente. 

Onde comer:
The Old House (chinês)
The Butchers (carnes)
Piquenique no Cabeço das Rolas
Pomar da Rosa - mini-mercado

Museus / Arquitectura
Oceanário de Lisboa
Pavilhão do Conhecimento
Pavilhão de Portugal
Arte pública urbana

Espectáculos ao vivo:
Teatro Camões
Casino de Lisboa
Meo Arena (Pavilhão Atlântico)

sexta-feira, fevereiro 03, 2017

Da Expo 98 ao Parque das Nações


Até à decisão de acolhimento da Exposição Universal de 1998 nos terrenos do que é hoje o Parque das Nações, esta zona era dominada por um forte carácter industrial e portuário. Aqui estava a refinaria da Petrogal e outras ligadas à indústria petrolífera, o Matadouro de Lisboa, o Aterro Sanitário de Beirolas, o Depósito de Material de Guerra, a Fábrica de Pólvora e outros mais. 

Como marca desse passado não tão longínquo assim, ainda hoje subsiste a Torre da Galp, perto do Hospital CUF Descobertas. E nos poucos terrenos livres para construção deve também subsistir a dificuldade para se escavar o solo agredido por décadas e décadas de indústria pouco amiga do ambiente.

Junto ao rio desenvolveu-se em tempos uma vibrante actividade portuária e a via férrea que pela sua linha corria (e corre) era igualmente um factor de atracção de unidades de produção. Mas a decadência, degradação e poluição eram já gritantes nos anos 90. Para quem por aqui perto sempre viveu era fácil um desconhecimento da realidade. Certo que sentia por vezes um mau cheiro no ar e ouvia que a culpa era de uma tal Beirolas. O mais perto de se chegava do rio, sem nunca o vislumbrar, era do pavilhão do ginásio do Atlético de Moscavide. 

Na década de 90 as obras foram acontecendo e mesmo os vizinhos não suspeitavam a volta que levaria toda esta área de fronteira entre a região mais oriental do concelho de Lisboa e o concelho de Loures. 

Anunciava-se uma nova cidade e foi isso que das águas do Tejo emergiu, como um milagre inspirado nas epopeias dos nossos navegadores. 

O pretexto foi a Expo 98, dedicada aos Oceanos (embora o móbil tivesse sido os Descobrimentos Portugueses - repare-se que em 1998 comemorava-se os 500 anos da viagem de Vasco da Gama à Índia). Muito cepticismo rodeou o pretexto, mas creio que nem mesmo o mais pessimista então não pode deixar de reconhecer uma real revalorização e revitalização de uma parte da cidade de Lisboa que pura e simplesmente não existia para os cidadãos. Mais, terá começado aqui a ideia de devolução do rio à cidade, que hoje se reivindica - e vai manifestando - em toda a extensão de frente de Tejo por Lisboa.


Assente num planeamento urbanístico rigoroso (embora muito do previamente planeado tenha ficado pelo caminho), a Parque Expo, entidade encarregada desta empreitada, reconverteu usos e procurando respeitar o ambiente e a paisagem criou uma nova centralidade na cidade. 

A Expo 98, numa época de euforia no nosso país, pretendia mostrar ao mundo um Portugal moderno e virado para o futuro. Não desconheço que as festanças se pagam e que esta se terá feito pagar muito bem. Mas do ponto de vista urbanístico o legado da Expo 98 é um sucesso. Trouxe a tal nova centralidade à capital do país, novas infra-estruturas e novos equipamentos, novas áreas residenciais, comércio e serviços e novas zonas verdes.

Quase vinte anos depois, do ponto de vista de residente faço um balanço simples e curto: a qualidade de vida é muito boa, sendo o Parque das Nações praticamente auto-suficiente em termos de serviços e comércio, com destaque para a qualidade ambiental e paisagística superiores que oferece; as acessibilidades, quer de transportes públicos quer de transporte privado, deixa a desejar - o metro fica apenas no centro empresarial do Parque e esquece os residentes das zonas limítrofes e as filas de carros chegam a ser insuportáveis às horas de ponta. Este último aspecto, o das acessibilidades, mostra, creio, que a realidade da "cidade imaginada" do pós-Expo 98 superou a ambição dos seus criadores. A nova cidade não morreu com a Expo 98 e aí está bem viva e aberta ao mundo.

Eis as mais emblemáticas obras que a Expo 98 nos legou, espalhadas ao longo de cerca de 5 km de frente de rio:

    Ponte Vasco da Gama

    Gare do Oriente

    Torre Vasco da Gama 

    Pavilhão de Portugal

    Pavilhão Atlântico

    Oceanário 

    Pavilhão do Conhecimento

    Teatro Camões

    Mobiliário urbano