quarta-feira, dezembro 27, 2017

Epílogo - O Mar Siciliano Como Horizonte

Frequentemente no nosso dia-a-dia cruzamo-nos com imagens que nos agradam e que nos fazem sonhar.
Antes acontecia quando viajávamos pelas páginas das revistas de viagens. Hoje, na era instantânea digital, é só abrirmos o Instagram. Ali, a um deslizar do dedo, estão os destinos maravilhosos que nos vão inquietar.
O que fazemos quando nos cruzamos com esses locais?
No meu caso, registo nas minhas notas das coisas a fazer e aguardo pelo momento. O momento chegará. Umas vezes mais rápido do que outras.
Esta conversa vem a propósito de um dia me ter cruzado com duas imagens semelhantes a estas no Instagram.



Paixão imediata.
A viagem à Sicília correspondeu ao momento de conhecer estes dois destinos apontados no bloco de notas. Riserva Naturale dello Zingaro e Spiaggia dei Faraglioni em Scopello, respectivamente.
Ambos se localizam próximo de San Vito Lo Capo, que se situa na ponta noroeste da Sicília, junto ao cabo (capo) homónimo e está rodeada de montes imponentes, como o Mónaco, e de águas azuis turquesas divinais.


É uma vila costeira, cujo núcleo urbano apresenta uma arquitectura simples, em tons de branco e com pontos de contacto com a do norte de África.


É famosa pelas praias da envolvente e por ser a capital do couscous, sendo que todos os meses de Setembro decorre um festival deste cereal. A nossa estadia coincidiu com o evento, pelo que tivemos a oportunidade de o vivenciar e, literalmente, saborear.


Bem próximo de San Vito Lo Capo, no Golfo de Cofano, deliciámo-nos nas águas maravilhosas de uma cala, só nossa (que luxo!), da praia de Santa Margherita. 




O nosso paraíso apresentou-se de gala, com água quente e transparente. Ingredientes favoráveis para prolongados mergulhos e para nos perdermos no mundo subaquático através do snorkeling. Uma delícia de sonho.



Também próximo de San Vito Lo Capo, fica uma das duas entradas na Riserva Naturale delloZingaro (a outra faz-se mais a sul, por Scopello).
Na Riserva, de acesso controlado e limitado, é possível fazer caminhadas, observar a fauna e flora marcadamente mediterrânica e descobrir as maravilhosas praias. Há três itinerários, o costeiro, o de meia encosta e o alto. 




Fizemos o mais popular, o costeiro, que são cerca de 7 km de puro deleite, onde vamos descobrindo enseadas (calas) fantásticas. A cor e transparência da água, exaltada pelo substrato calcário, fascinam e chamam-nos para mergulhos fabulosos e retemperadores. 



A água quente faz com que nos percamos no mundo subaquático. O Mediterrâneo não é o melhor dos mares para incursões subaquáticas, mas ainda assim é sempre um deslumbre perseguir os cardumes de peixes.


Dentro da Riserva, de norte para sul, cruzamo-nos com a Cala Tonnarella dell’Uzzo, depois com a Cala Torre dell’Uzzo, de seguida com a Cala Marinella, Cala Beretta e Calla della Disa.

Cala Tonnarella dell’Uzzo

Cala Tonnarella dell’Uzzo

Cala Torre dell’Uzzo

Cala Marinella

Cala Beretta



Calla della Disa

Deixámos as restantes Calas para outro dia, no qual pretendíamos aceder por Scopello. Contudo, as elevadas temperaturas e ventos, potenciadores de risco de incêndio, fizeram com que os nossos planos fossem vedados, pois a Riserva, por precaução, esteve fechada.
Não houve espaço para frustrações, pois Scopello e a envolvente têm atributos de sobra para nos deliciarmos.
Charme é a palavra que mais se adequa a Scopello. Foi construída à volta de um baglio histórico do século XVIII, isto é a sede de uma propriedade rural, comummente murada/fortificada e no formato de pátio. 



O baglio é actualmente o coração da vilazinha, onde se concentram algumas lojas e restaurantes com esplanada. Fora deste espaço o núcleo, numa parte mais alta em relação ao mar, desenvolve-se por meia dúzia de ruazinhas e por uma praça com uma pitoresca fonte. É um espaço pequeno, bom para dias de puro relaxe.


Descendo para junto ao mar, encontra-se o outro elemento apontado no bloco de notas, a espantosamente fotogênica Spiaggia dei Faraglioni e a sua tonnara




Esta propriedade privada, ainda assim aberta ao público (mediante pagamento), é uma antiga fábrica de atum (fechada em 1980) à beira de uma pitoresca praia com peculiares formações rochosas em forma de torre, os faraglioni, que dão o nome à praia.




Dois dos faraglioni são encimados por torres históricas defensivas, as quais combinam com uma terceira na parte de cima da vila de Scopello.




É considerado um dos sítios mais idílicos da Sicília por ser tão pitoresco. O visual é de tal forma perfeito e cinematográfico que foi escolhido para ser um dos cenários do filme Ocean's Twelve.
A aura que o local apresenta, contribui para que seja ultimamente muito procurado. Ainda que não seja um destino de massas, a sua pequena escala faz com que facilmente encha. 



Isso em terra, porque no mar temos uma imensidão só para nós, onde podemos nadar nas águas cristalinas e obter uma visão para terra menos comum e distinta da que se alcança por terra. Ambas deliciosas, tal como toda a nossa incursão pela Sicília.

terça-feira, dezembro 12, 2017

Giro In Macchina In Sicília Occidentale

Sicília é riquíssima em sítios arqueológicos. O objectivo era escolher um. Entre os vários, tivemos dúvidas entre qual escolher, mas o nosso itinerário acabou por desempatar e escolhemos Selinunte.



Não nos arrependemos. Nem um pouco. É impressionante e cativante. É um pouco da Grécia em Itália. De facto, em tempos, foi a colónia grega mais a ocidente e contemplava mais de 100 000 habitantes e templos importantes.



Hoje sobrevivem algumas ruínas espantosas desses templos, cuja beleza é acentuada pela maravilhosa localização, com o mar como vizinho.




Junto à imensidão das colunas e do mar, que se esprai logo ali, percebemos quão pequenos somos e, simultaneamente, como imensos somos para, em tempos longínquos, projectarmos obras daquela magnitude.
Seguindo a costa Sul para oeste, cruzamo-nos com a Tunísia. Não, não atravessámos o mar para o continente africano. Permanecemos na ilha, em Itália.


O ponto é que Mazara del Vallo, por estar mais próxima da costa africana do que da ponta nascente da Sicília, apresenta muitas influências urbanas e culturais do vizinho continente. O centro histórico é o kasbah, coração desta cidade de origem sarracena. Apresenta-se labiríntico e polvilhado de magníficos edifícios barrocos e Normanos.




Ao mesmo tempo que a nossa vista alcança uma igreja, logo de seguida, surpreendentemente, vislumbramos uma mesquita, enquanto isso sentimos aromas do norte de África. 



Percebemos o porquê quando nos sentamos à mesa para nos deliciarmos com um maravilhoso couscous de peixe, a comida típica local, um chá e doces árabes.
A mistura de influências seduz e emociona. Assim como nos faz pensar na quantidade de dimensões e camadas inerentes a uma identidade e como são ridículas as xenofobias e intolerâncias, infelizmente, cada vez mais exacerbadas.
As influências árabes continuam a fazer-se sentir no presente, já que a cidade, um importante porto, acolhe muitos habitantes tunisinos e do Magreb, vizinhos do outro lado do Mar Mediterrâneo.


Enquanto deambulamos pelas sinuosas ruas do kasbah, vamo-nos cruzando com diversos azulejos pintados à mão, os quais decoram as paredes dos edifícios.



Na praça central, a Piazza della Reppublica, concentram-se diversos edifícios elegantes e monumentais, como a Catedral, o Palazzo e o Seminário Vescovile .



Prosseguimos a nossa viagem e paramos em Marsala, terra do vinho doce homónimo. Charmosa e elegante são dois adjectivos que lhe acentam bem.



No seu pequeno centro histórico impressiona a elegante pavimentação, caldeiras e sistema de drenagem em mármore. Assim como a graciosidade das praças e dos edifícios barrocos.




Ainda na costa oeste, em direcção a norte, entre Marsala e Trapani, surge a paisagem evocativa das salinas e dos moinhos. O sal ali produzido é considerado o melhor de Itália.



As salinas de Trapani são um centro de produção de sal desde tempos antigos e foram um grande negócio durante séculos. Embora o negócio actualmente não seja tão florescente, a paisagem encanta pela serenidade e organização.


Continuando para norte, depois de subirmos serpenteantemente monte acima, chegamos à fascinante Erice, alcandorada a 750 metros acima do mar. Durante a subida, aproveitamos e surpreendemo-nos com a belíssima paisagem e as cores magnetizantes do final de tarde.


Erice é uma vila medieval fortificada e charmosa, repleta de património, do qual se destaca o Duomo. 


Mas também as várias praças, onde vamos desembocando na nossa deambulação.


As múltiplas igrejas e o castelo também encantam.



Pela sua posição geográfica oferece-nos magníficas panorâmicas para Trapani e seu porto, ilhas Egadi, Mar Tirreno e para o Monte Cofano.



Para além destes inúmeros argumentos ainda alberga a famosa pastelaria Maria Grammatico, considerada uma das melhores da Sicília. 
De Erice, que merecia mais tempo, seguimos para San Vito Lo Capo, onde passámos os dias seguintes. Aí abriu-se um novo capítulo da nossa viagem. O próximo a ser relatado.