sábado, julho 14, 2012

Varanasi

De Delhi a Varanasi de avião é pouco mais de uma hora, tempo poupado de forma imbatível quando comparado com as 12 horas de viagem de comboio.


Varanasi, a Kashi ou Benares, é um dos locais mais sagrados de toda a Índia. Uma das cidades do mundo habitadas há mais tempo, hindus de todo o país vêm aqui morrer ou para aqui são trazidos depois de mortos, pois aqui se alcança a moksha, a libertação da samsara, da roda da vida e da morte. O rio Ganges espalha fertilidade por onde corre e em Varanasi são lhe dedicados todos os rituais de celebração, quer sejam da vida ou da morte.

Ao longo de cerca de 6 kms estendem-se dezenas de ghats, as escadarias que dão acesso ao rio. Para dentro fica a cidade fervilhante de confusão, das ruas estreitas onde todos parecem caber: carros - poucos -, autoriquexós, bicicletas, pessoas, macacos e vacas, e bosta destas, muita bosta, há que olhar com atenção onde se pisa. Aqui não há beleza especial, só uma introdução ao que já esperávamos ser a Índia. Mas, aqui como cá, as crianças aproveitam as ruas para brincar. O cricket é senhor e as paredes dos edifícios nas ruas estreitas amparam a bola tacada. Pior quando jogam junto aos ghats, pois o destino frequente da bola é a água do Ganges.


















Mas é precisamente para estar no Ganges, ou tão somente para ver e sentir o Ganges, que pessoas de todo o lado chegam a Varanasi. Esta é a época de monções e, entre os riscos nada sérios, corremos o de não poder andar ao longo da beira do rio junto aos ghats quando o nível do rio está alto. Mas, felizmente para nós, e infelizmente para os indianos para quem monção é um ciclo natural, sobretudo de fertilidade, choveu pouco até agora e o caudal do rio está estranhamente baixo para esta altura do ano.

Os melhores momentos para se ver os ghats e edifícios de Varanasi junto ao rio é ao amanhecer e ao pôr-do-sol. Pela luz, claro, mas sobretudo porque é nesta altura que todos saem para se banhar, para fazer os seus rituais, para lavar a roupa. Todos convivem animadamente, homens e mulheres, muitos mais os primeiros do que estas, e vacas. Os barcos com os (poucos) turistas e (muitos) indianos vão passando junto aos crentes, tão perto que quase é possível partilhar as suas preces, as suas braçadas na água, levar até com os espirros da roupa molhada que está a ser lavada a bater nas pedras.

O ghat mais animado é o de Dasashvamedha, bem central e colorido. É para aqui que todos vêm, sobretudo por volta das sete da tarde quando acontecem cerimónias hindus com dança e música. Muitos ficam nas escadarias, mas muitos outros assistem desde os barcos.


De entre as dezenas de ghats existem dois que são usados para cremação. O de Manikarnika é o maior deles e vemos pilhas de madeira espalhadas, umas à espera dos corpos para serem usadas, outras já a arder em pequenas fogueiras. Os familiares, apenas masculinos, acompanham a cerimónia fúnebre junto ao seu ente ido. Isto porque o morto só se libertará feliz desta vida se não tiver lágrimas por perto, e ao que parece as mulheres são muito choronas. Primeiro o corpo, com roupa de cerimónia colorida vestida, é mergulhado no Ganges. Depois de aguardar secar nas escadas é colocado na fogueira. A madeira aqui utilizada diz-se que é da melhor qualidade, de lenta combustão, e o corpo pode demorar cerca de três horas a queimar. Após isso, as cinzas são lançadas ao Ganges e os familiares (normalmente o filho mais velho ou a viúva) observam uma série de rituais, entre os quais o corte do cabelo - rapado - e a veste de roupas brancas. Cerca de 300 a 400 cremações diárias são efectuadas aqui.
Existe ainda um lazareto ao cuidado de padres e outros voluntários que se ocupa de pobres de todo o lado a quem, sem família, só lhes resta aguardar a morte. A alguns deles é-lhes permitido cumprir estes rituais de purificação, de morte mas ao mesmo tempo de vida, no sagrado Ganges porque, há quem defenda e fica bem, na morte somos todos iguais, pobres e ricos, hindus, muçulmanos ou cristãos.

É este ambiente que nos é permitido sentir ao longo do Ganges e em Varanasi. Caminhar entre indianos, sentir claramente que estamos num mundo não ocidental, mesmo estranho para nós, e sentirmo-nos em paz, integrados. Escolher a pedra ligeiramente saída de um edifício no alto de uma escadaria que nos transporta a um beco e deixarmo-nos ficar aí sentadas, com o Ganges lá em baixo, movimento total, banco de areia branco na outra margem ali tão estreita ainda não inundado pela monção. E ver que de repente a atracção somos nós, olhos que se nos dirigem, comentários trocados, telemóveis apontados para nós para tirar fotografias. Afinal parece que tudo se reduz a um diferentes, mas iguais.


Uma palavra mais para o templo de Vishwanath, dedicado a uma encarnação de Shiva. Para se chegar lá temos de ir adentro da cidade, afastando-nos dos ghats e do rio, por umas ruelas apertadas e sujas, mas sempre seguras. A polícia é presença constante por aqui, ao que parece por causa de algumas tensões religiosas. A nós, não hindus, não nos é permitida a entrada no templo, ficando apenas disponível uma vista muito de fugida e apertada das cores douradas das suas torres. Parece ser lindíssimo, mas provavelmente teremos que esperar por outras vidas para o conhecermos de forma plena.

sexta-feira, julho 13, 2012

A Velha Delhi

A chegada a Delhi mostra-nos um aeroporto moderno, mas sem que a carpete deixe de reinar por todo o chão dos longos corredores. Optámos por ficar num hotel na zona de Paharganj, qualquer coisa como a meio caminho entre a Velha Delhi e a Nova Delhi. Pensava eu que do hotel até à Chandni Chowk, a rua de todas as lojas que levam a todos os mercados e até ao Lal Qila (Forte Vermelho), seria uma caminhada fácil. Desgraçadamente não consigo deixar de pensar como europeia, com cidades centrais e com tudo a pouca distância. Nada. Isto é Índia, mais propriamente uma cidade com 12 milhões de habitantes que apenas consegue o lugar de terceira maior do país. Cidade com carros, motas, auto-riquexós, táxis-bicicleta, pessoas em todo o lado, vacas aqui e ali. E uma temperatura de mais de 40 graus. A juntar a isso coloque-se uma noite a dormitar alguns minutos salteados num avião durante um voo de oito horas e tem-se um prefeito primeiro dia de férias de verão temporada 2012.
O primeiro dia em Delhi foi um domingo. Parece que uma grande parte das dezenas de milhões de habitantes da cidade tiraram o dia para visitar, primeiro, a mesquita Jama Masjid, depois, o Forte Vermelho. Mas antes fomos também todos almoçar ao Karim's, restaurante que serve comida mughal há mais de uma centena de anos. Molho de caril picante, claro, mas nada que o delicioso pão naan não trave. E, sim, comemos com a mão direita e com a esquerda devidamente posta de lado, meio que escondida para debaixo da mesa, como vimos fazer os locais (as doses industriais de filmes indianos a que venho assistindo também prepararam para a coisa).

A mesquita Jama Masjid é a maior de toda a Índia. Dá para acolher cerca de 25000 muçulmanos, essa imensa minoria de indianos que faz com que sejam muitos mais do que os habitantes de muitos países maioritariamente muçulmanos. Construída no século XVII, é muito ampla, com um pequeno lago no meio. Todos temos que deixar o calçado à entrada, mas o problema aqui não é apenas o chulé e sujar os pés - uma lembrança para quem se esqueceu já do início deste belo naco de prosa: estão 44 graus, os pés ardem, muito. Mas deixam de arder quando subimos ao minarete de cerca de 40 metros e aí o problema passa a ser o fôlego para vencer os degraus sob o calor.



A vista lá de cima mostra todo o poder do caos numa cidade. Edifícios sobre edifícios, e os poucos espaços que não foram por eles açambarcados logo vêem instaladas pessoas e mais pessoas que tudo vendem. Daqui vê-se bem o vizinho Forte Vermelho onde, contrariando o acima dito, há finalmente espaço para se estar, mesmo se esta parece ser a maior atracção de domingo em Delhi (15 cêntimos de entrada para os indianos, 3,80 euros para os estrangeiros). Chegou o momento de dizer que se vêem muito poucos turistas não indianos e deve ser por isso que os jovens indianos nos confundem com ETs e não tiram os olhos de nós. A sério. Desta vez não somos só nós que disfarçadamente tentamos tirar fotos aos locais. Eles também o fazem, mas a nós.


O Forte Vermelho tem a cor ocre que também a mesquita toma. Mas lá dentro das intermináveis muralhas há ainda uma série de outras construções em mármore que os Mughals erigiram no seu tempo áureo do mesmo século XVII, com o propósito de transferirem a capital de Agra para Delhi. O Forte foi, assim, mandado construir pelo imperador Shah Jahan, entre 1638 e 1648, o mesmo que mandou construir o Taj Mahal. Estando aqui nos dias de hoje, não é difícil imaginar os imperadores ou os marajás do passado passeando-se imponentes nos seus elefantes ou palanquins por esta cidade dentro da cidade, pelos jardins que envolviam os seus palácios, mesquitas, hammans, bem como os salões dedicados às audiências.

Com a queda dos Mughals, os britânicos adulteraram o espaço construindo quartéis para servirem o seu exército. Desde a independência da Índia face aos britânicos, em 1947, o Forte é o local da comemoração oficial anual daquela data. Hoje, em permanência, como que a lembrar quem é que governa, vemos a bandeira indiana ao vento lá bem em cima da Porta Lahore. Dentro desta fortificação não falta sequer um bazar onde podemos trazer para casa o pitoresco Ganesh. Ou Shiva. Ou Vishnu. Ou qualquer outra divindade hindu. Ou budista. Deuses protectores não faltam.

Saindo do Forte seguimos a Chandni Chowk, rua das compras que começa com o templo jainista de Digambara e termina com a Mesquita Fatehpuri. Ao lado desta fica o bazar das especiarias. Mas antes disso já passamos por muita confusão e muitos outros mercados. Uma boa introdução à capital indiana, à qual voltaremos daqui a uma semana.


Finalmente, a Índia

Depois de muito penar, lá consegui convencer a mana a visitar a Índia numa época em que se corre o risco de sofrer com as monções. Eu, por outro lado, fui convencida a dedicar apenas 11 dias a este tão desejado e esperado destino. Eis portanto o relato duma viagem muito condensada, forçosamente com o uso de muitos aviões e poucos autocarros e comboios.

sábado, abril 14, 2012

Guimarães





Em 2012 a cidade berço foi escolhida, juntamente com a eslovena Maribor, capital europeia da cultura. Claro que isso, e o facto de o centro histórico da cidade ser património da humanidade, são apenas desculpas para a visitar uma vez mais.
Só que desta vez, a par do dito centro histórico e do Castelo e do Paço dos Duques de Bragança, houve que dedicar tempo também à cultura.
E à tradição.
Logo pelo meio-dia, ainda a caminho de Guimarães, a TSF falava acerca das rebuçadeiras e encontrar uma delas passou a ser um objectivo primordial. A nova estrela da rádio recebeu-nos e vendeu-nos os pirulitos - oito por um euro - abancada ali à entrada do centro histórico na Alameda junto ao Largo República do Brasil, lugar que nos explicou que a custo a Câmara a deixou assentar arraiais. Aí, um senhor contou-nos a história destes pirulitos e rebuçados que só se vendem na época da Quaresma: era uma forma das mães convencerem os pequenos a irem à missa nesta altura. Desse dito senhor ficou a sugestão de um restaurante que já levávamos indicado de casa e para o qual até já tínhamos reservado o jantar dessa noite: o Papaboa. Pela risota dos amigos que o acompanhavam ele desbroncou-se - era o dono dos dois restaurantes da cidade de mesmo nome. À noite, por sua sugestão, provamos um pão-de-ló fantástico, uma autêntica gemada, regado a vinho do Porto. E mais ficou encomendado para domingo de Páscoa.







O centro histórico de Guimarães está de facto um mimo de conservação e reabilitação. As suas ruas estreitas e intrincadas são fáceis e agradáveis de percorrer, cheias de bons exemplos de belos edifícios. Mas o mais pitoresco são mesmo as suas casas de cores vivas mas sóbrias, com varandas de madeira e portas e janelas em destaque.
O Largo da Oliveira é, no entanto, o ex-líbris da cidade, não pela igreja de Nossa Senhora da Oliveira, mas pelo carismático Padrão do Salado, um pequeno monumento gótico, e pelas colunas também góticas do edifício estilo alpendre do Domus Municipalis. De registar ainda o também pitoresco Largo de Santiago que à noite, à semelhança do Largo da Oliveira, vê as suas casinhas iluminadas com pequenos pontinhos de luz nas fachadas.





O Castelo e o Paço dos Duques de Bragança estavam fechados no domingo de Páscoa (galo! fui à procura do domingo de borla e bati uma vez mais com o nariz na porta). Muitíssima gente a passear pelo Campo de São Mamede, no entanto, e a contentar-se por ver os monumentos no seu exterior (não fiquei muito chateada porque os havia visitado há poucos anos). O Castelo poderia ser apenas mais um não fosse aquele que foi construído (e muito alterado depois disso) antes mesmo de D. Afonso Henriques lá nascer e morar. Foi a Condessa Mumadona que no século X o havia mandado construir para defender o seu convento. E, pronto, o Estado Novo fez questão de o transformar num símbolo da nacionalidade.





Salazar tentou ainda que o Paço dos Duques de Bragança (o qual recuperou da quase ruína) fosse lugar da Presidência da República, mas o máximo que conseguiu foi levar decoração de outros palácios para lá ocupar as suas salas vazias. Mandado construir por um filho bastardo de D. João Mestre de Avis no século XV, nunca foi casa dos Bragança. A sua arquitectura é única em Portugal e não tem nada a ver com as construções da época ou de qualquer outra. Tem sim tudo a ver com os castelos normandos, tendo as construções senhoriais francesas servido de inspiração.

Mas como este ano a cidade se dedica à cultura vamos então focarmo-nos nela. Guimarães e o vale do Ave vivem ainda hoje da indústria, embora esta tenha sido assolada pelo fecho de portas de muitas fábricas. Ora, a programação da Capital Europeia da Cultura faz-se valer dessa aura industrial e, principalmente, com a alteração e transformação da paisagem e edifícios industriais para a vertente cultural. Pega na antiga Fábrica da Asa, dos lençóis, e transforma-a no Espaço Asa, a poucos kms da cidade, em Covas, à beira da estrada nacional. Por esta altura estava a ser apresentada a exposição dedicada ao arquitecto Nuno Portas, a qual fazia muita questão de ver, mas tive que bater com o nariz na porta por "espaço em remodelação". Quê? Ainda agora abriu e já está em remodelação? E logo no fim-de-semana da Páscoa? Mas foram todos rezar, ou quê? Fica a imagem exterior do edifício, ao estilo Pompidou rural.
Antes tinha tentado dar com a Fábrica Pátria, de plásticos, hoje Casa da Memória, mas o máximo que consegui foi não dar o tempo e o passeio por mal empregues e contornar as ruas até ao Estádio do Vitória. Já nem tive coragem de me por a caminho dos dois outros espaços: a antiga Confil, de têxteis para crianças, hoje Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura, e a antiga Fábrica da Ramada, de curtumes, hoje Instituto do Design.





Segui, então, para o Palácio e Centro Cultural Vila-Flor, o espaço cultural por excelência da cidade, já entrado no roteiro da música moderna do país, que não se fica só por Lisboa e Porto. Lá vi a exposição "Missão Fotográfica: Paisagem Transgénica", com fotos de habitações e fábricas aos caídos dos arrabaldes e montagens do castelo e de outros edifícios.



O Museu Alberto Sampaio vale também uma visita, se não pela sua colecção de arte sacra (de que não sou adepta), pelo menos pelo claustro que fica paredes meias com a Igreja Nossa da Oliveira.
Quanto a animação de rua, esperava muita e com excepção de uns chatos brasucas com a sua arte de capoeira que se instalaram no Largo da Oliveira, de armas, bagagens e música de berimbau que nunca mais se calava (lembrar que a Pousada onde fiquei dá para o Largo), não vi nadinha. Nem um teatrinho de rua, nem sequer um fulano qualquer vestido de D. Afonso Henriques.
Moral da história: Guimarães não precisa do epíteto de CEC para ser visitada.

quinta-feira, abril 05, 2012

Parque e Palácio de Monserrate



A caminhada desde o centro da Vila até Monserrate é agradável e fácil, pela estrada com não muito trânsito mas sem bermas.
Monserrate tem uma história curiosa que começou com o nome de Quinta da Boa Vista no século XVI, mesmo século em que foi aí construída uma capela dedicada a Nossa Senhora de Monserrat.
Depois de propriedade de nacionais passou para uma série de ingleses, como De Visme, o responsável pela construção do primitivo palácio neo-gótico no lugar da capela, ou William Beckford que se dedicou à construção do jardim, incluindo a cascata e os arcos de pedra. Com a partida deste no princípio do século XIX o local entrou em declínio e a sua fama romântica cresceu, muito por causa de Lord Byron e dos seus relatos de viagem. Em 1841 inicia-se a reabilitação de Monserrate – palácio e jardins – por intermédio de outro inglês de nome Francis Cook. Em 1949, após a compra da propriedade por um português comerciante de antiguidades que leiloou o recheio do palácio e tentou lotear a quinta, o Estado adquiriu-a. Se dissermos que só em 2001 se iniciou o processo de recuperação do hoje imóvel classificado, dá para ver muito bem quantas décadas teve esta beleza para se degradar.
O certo é que hoje ela aparece-nos em todo o seu esplendor. No seu conjunto é um excelente exemplo da arquitectura do período romântico em Portugal, com uma mescla de gótico veneziano com influências indianas e mouriscas. O jardim, que vem por aí abaixo do palácio, ou este vem por aí acima, bem pertinho do céu, como se um troféu se tratasse, o jardim, dizia, é um manto interminável de verde, com caminhos que se entrecruzam com direito a ramos a fazer de ponte e laguinhos com nenúfares.
As obras no interior ainda estão a desenrolar-se ao mesmo tempo que podemos ir aproveitando o já recuperado. E que bem recuperado. Uma maravilha que deixo para as fotos. Mas não deixo de pensar e dizer… ai aqueles tectos!















Sintraaa!!!

Este ano comecei com um almoço nas Azenhas do Mar.
Talvez um bom auspicio para visitar Sintra. Melhor dizendo, revisitar, que tudo lá merece incontáveis retornos.
Há dias voltei a Monserrate, depois de lá ter estado em 2007, precisamente o ano em que se iniciou o processo de recuperação do interior do Palácio.


Antes, em 2004, subi até ao Castelo dos Mouros.


Em 2005 subi um pouco mais até ao Convento dos Capuchos.


Em 2006 foi a vez de um passeio de eléctrico até à Praia das Maças, com direito a piquenique na areia.


Em 2007 visita à Pena como cicerone para os primos emprestados brasileiros.


A Regaleira foi alvo de umas quantas visitas, uma das quais a trabalho quando ainda não estava aberta ao público e outra para assistir a uma peça de teatro em movimento – o Hamlet em ambiente misterioso.


Mas o bom da Regaleira, tal como de Seteais, é que ficam mesmo ali à beira da estrada, prontos para serem devorados pelo olhar e todos os nossos outros sentidos.


Fica a faltar o Palácio da Vila, nunca visitado mas tantas vezes fotografado, cartão postal da Vila de Sintra.

E uma estreia absoluta: o Chalé da Condessa d´ Edla, aberto o ano passado.

terça-feira, janeiro 10, 2012

2012



Depois de uma corridinha à beira rio, comecei o ano de 2012 com um almoço junto ao mar, nas Azenhas do Mar, encavalitada na rocha debruçada sobre a areia.

domingo, janeiro 08, 2012

As Livrarias do Rio

Quando saio à rua, seja onde for, dificilmente consigo escapar a olhar para as bancas de jornais. Tenho a certeza de que esse meu hábito surgiu no Rio de Janeiro, onde esquina sim esquina sim há sempre jornais e revistas para olhar.
Claro que decisivo para este meu gosto por publicações foi o facto de o meu pai comprar sempre vários jornais por dia (a Capital era vespertino, por isso havia que comprar mais qualquer outro para entreter as manhãs, e ainda havia os desportivos), fora os semanários.
E depois existe a paixão pelos livros. E pelas livrarias. Não que as livrarias do Rio sejam as melhores do mundo. Não o sei. Mas têm livros em português, muitos livros em português mesmo.
Como tinha poucos dias no Rio, acabei por deixar ao acaso a entrada numas quantas, fosse no centro ou na zona sul. Já sabia que a livraria da Travessa era uma das que valia a pena ter em conta. O bom foi ter calhado de ir à sua loja original, a da Travessa do Ouvidor, no Centro, rua a quem deve precisamente o seu nome.
E depois calhou também ter passado na livraria Letra Livre, para os lados do Real Gabinete Português de Leitura, muito acolhedora e com livros em primeira e em segunda mão.
Mas a que mais gostei foi a livraria Argumento do Leblon. Fui jantar ao Sushi Leblon e a Argumento estava a uns poucos metros dali, mesmo do outro lado da rua. Esta é a livraria que aparece sempre nas novelas da Globo do Manoel Carlos. Apesar de não ver novelas há mais de uma mão cheia de anos, ainda me lembro de algumas das suas histórias passadas no bairro do Leblon e lembrava-me da cara dele. Dai que o tenha reconhecido logo quando entrou velhinho e curvado para mais uma noitada de tertúlia na sua livraria. O agradável, mas não inédito, da Argumento do Leblon é o espaço de barzinho mesmo junto aos livros. E porque é disso que se trata comprei uns quantos e logo me arrependi de não comprar uns quantos mais (não que os preços sejam uma oportunidade). Um deles foi o "Lavoura Arcaica" de Raduan Nassar e a moça da caixa logo me disse, emocionada, que este era o seu livro de cabeceira. Não podia deixar de o ler logo. Não é uma obra fácil, fez-me lembrar a escrita de Clarice Lispector, também complicada. Mas gostei e voltei para casa mais feliz.

sábado, dezembro 31, 2011

O Rio Está Podendo

É curioso que num mesmo dia tenha calhado de meter conversa, ou vive-versa, com dois brasileiros e os dois tenham acabado por falar do mesmo: aquilo lá por Portugal está mau, né não?
À pujança do Brasil, que até foi convidado para emprestar dinheiro ao FMI para acudir aos países europeus, corresponde a crise destes. Pujante como o Rio haverá poucos, em crise como Portugal também poucos haverá. No nosso não foi descoberto uns poços de petróleo ao largo, os tempos do Europeu de Futebol também já passaram e os de Jogos Olímpicos provavelmente nunca virão. Claro que os cariocas mais realistas estão cientes de que este momento de euforia pelos grandes eventos e grandes obras é também uma oportunidade para mais marosca e corrupção. Mas enquanto isso os cariocas vão enchendo aos restaurantes e as lojas com preços de grandes cidades europeias. E, curiosidade maior, brasileiros de todo o país estão vindo visitar o Rio.
É, o Rio está podendo.
(uma adenda: vai ter que melhorar muito a recepção aos turistas quer no aeroporto - oh esperas atrozes, seja pela imigração, seja para receber as bagagens, seja para chegar ao centro ou zona sul com aquele trânsito infecto - quer nas brochuras para os ditos em museus ou qualquer outra atracção)

Mais Um Dia Feliz no Rio



Segunda feira nunca seria a confusão de domingo para subir ao Pão de Açúcar. Mas escaldada com a multidão do dia anterior no Corcovado, eram 9 horas e já estava à beira da Praia Vermelha, no bairro da Urca, com o meu bilhete comprado e com pouco mais de uma dezena de pessoas por companhia.
Pude assim escolher o lado que me deu vontade dentro do bondinho e tirar as fotos na subida à larga e sem atropelos. Por sorte o dia esteve novamente claro e com a visibilidade a mil.



Na primeira paragem, no topo do Morro da Urca, vê-mos logo o Cristo lá em cima com a Baia da Guanabara cá em baixo, com os seus barquinhos estacionados nas águas plácidas, como diz o hino brasileiro ainda que se refira a outras águas.
Praticamente sozinha, deu para puxar a cadeira e esticar as pernas em direcção ao outro lado da Guanabara, com a praia de Flamengo e o centro do rio por trás, procurando identificar alguns edifícios; a piramidal catedral metropolitana é fácil, a torre com o relógio da Central do Brasil, idem. Puxei a cadeira para o outro lado e deixei-me ficar a olhar, já cheia de saudades, para o delicado e fino recorte da paisagem da capital carioca. Morros e mar, umas vezes escondendo-se uns dos outros, outras abraçando-se e envolvendo-se, até se tornarem o inevitável cliché: a cidade maravilhosa, cheia de encantos mil. Palmas.



Do que não me lembrava é que aqui em cima, já na ultima paragem no Morro do Pão de Açúcar, para além da paisagem continuar soberba, podemos perder-nos num pequeno trilho com vista para Niterói por entre os ramos da intensa vegetação, ao mesmo tempo que a tentação de descansar ou piquenicar nos vários banquinhos e mesinhas nos vai tomando.



Descendo, junto à Praia Vermelha tem inicio outro dos "must's" do Rio, a pista Cláudio Coutinho, também conhecida por "Caminho do Bem Te Vi". Sao cerca de 2,5 km ida e volta num trilho absolutamente sossegado e seguro que serpenteia o Morro da Urca e o Oceano Atlântico. Daqui partem também aqueles que querem atingir o morro escalando-o.
Antes coragem para voar sobre o Rio de asa-delta, o que, infelizmente, também não tenho. Esta actividade parte da Pedra Bonita e cai nas areias da Praia de São Conrado. Como para mim já me basta ver aterrar os passarinhos improvisados e esta é, ainda por cima, uma das praias mais bonitas do Rio, anda pensei dar uma saltada até lá. Mas à tarde voltaria para Lisboa e com medo de me atrasar neste transito caótico, decidi-me por uma volta no pacato e acolhedor bairro da Urca.



Este é um dos mais nobres e carismáticos bairros do Rio, único por aqui. Nos anos 40 do século passado o Casino da Urca trazia animação nacional e internacional e Carmen Miranda morava por lá. Hoje, muitos anos depois da proibição do jogo, ficaram as suas moradias elegantes encravadas entre os morros verdejante da Urca, Pão de Açúcar e Cara de Cão e a baia da Guanabara, com direito a uma pequena praia mesmo ali à porta. Um luxo.





E tive ainda direito a 60 minutos de praia em Copacabana (os únicos da viagem). Não vi o fiscal da natureza, mas fui muito bem tratada, com direito a cadeirinha por poucos reais.

Poucos lamentos desta rápida estirada ao Rio de Janeiro. O principal tem que ver com isso mesmo: a rapidez da viagem que ainda por cima ficou atrasada por um dia por causa do avião. Muito haveria para visitar, mas do que me propus inicialmente apenas não fui ao Museu de Arte Contemporânea de Oscar Niemeyer, em Niterói, nunca por mim visitado, e ao Bairro de Santa Teresa. Não é pouca coisa, mas espero não demorar outros dez anos para os ver.