quinta-feira, janeiro 11, 2007

Bilbao – Cidade Velha / Cidade Nova

Na generalidade, quando se visita uma cidade, ainda que a mesma esteja conotada com a modernidade e as obras recentes que a revolucionaram, é praticamente impossível não se dedicar parte do nosso tempo ao seu “centro”.
E no caso de Bilbao merece bem a pena que assim seja.
Como o referido em post anterior, a cidade foi fundada no ano de 1300, junto à ria. Até hoje permanece o traçado do que se denominou de “Siete Calles”, também conhecido como o “Casco Viejo”. Estas 7 ruas, estreitas, às quais hoje em dia desembocam mais um sem número de ruas ainda mais estreitas, estão pejadas de tabernas e restaurantes para todas as bolsas, bem como lojas de comércio mais tradicional ou da moda. Muito pitoresco, com as casas bem conservadas e com o seu colorido a dar mais encanto a quem por lá passa.


Como não podia deixar de ser, cidade espanhola sem a sua “Plaza” não é cidade espanhola. Em Bilbao este lugar toma o nome de “Plaza Nueva”, ampla e com arcadas, como se pede, e com uma animação quase constante em todos os minutos dos dias. Às horas das refeições, os locais ficam em pé à porta dos bares / restaurantes (porque não cabe mais ninguém lá dentro) ou sentados na esplanada aí perto. Para nós, pouco habituadas a este tipo de confusões para jantar, foi uma autêntica aventura, primeiro, conseguir pedir ao empregado uma dúzia de pintxos, depois, sair com os pratos empurrando a multidão aglomerada no bar sem os deixar cair.
Enquanto os pais, avós, tios, o que seja, convivem animadamente e bebem qualquer coisa, as crianças brincam, jogam à bola, andam de patins ou de skate no centro da praça. Ao domingo o local transforma-se com as bancas que lá são instaladas por aqueles que querem vender tudo e mais alguma coisa. Antiguidades e não só. Uma mini feira da ladra, onde ao lado dos vendedores mais ou menos profissionais se juntam aqueles que se querem desfazer dos seus tarecos.


Aqui perto do Casco Viejo fica o Mercado de la Ribera, com direito a site na Internet e tudo.
Segundo o site oficial do turismo de Bilbao, em 1990 este mercado de alimentos foi mesmo reconhecido pelo Guiness como o mais completo e é o maior no que diz respeito a número de comerciantes e postos de venda, bem como o maior mercado coberto da Europa, com 10 mil m2. Ufa! Com tantos dados estatísticos, resta acrescentar que o seu edifício, em art-deco, foi construído em 1929 e o seu amplo interior se divide em 3 andares. No rés-do-chão ficam as bancas do peixe, marisco e congelados; no 1.º andar as de carne e charcutarias; e no 2.º andar as de frutas e verduras. Ao tempo que o visitamos, o último andar servia ainda de espaço de exposições.
À frente do mercado encontram-se as arcadas dos edifícios da Rua de la Ribera. É obrigatório olhar para os seus tectos, de outra forma é muito fácil perdermos irremediavelmente um pouco da arte presente nas ruas da cidade. Os tectos estão pintados com motivos diversos – um parece remeter-nos para um imaginário indígena, outro para um ambiente bucólico, logo seguido de outro que relembra a violência da guerra e outro ainda que nos oferece o colorido da cidade moderna, acompanhada pela musicalidade das pautas.


A merecer uma olhada mais atenta, ainda, no centro antigo da cidade destacam-se as várias igrejas (San Antón, San Nicolás, Santiago) e o Teatro Arriaga.


Para além do núcleo mais antigo da cidade, vale igualmente a pena deambular pelas suas zonas mais recentes, não aquela que nos nossos dias anda nas mãos dos arquitectos mais famosos e nas bocas do mundo, mas sim aquelas para a qual Bilbao, tentando combater a falta de espaço, cresceu e se expandiu nos finais do século XIX, cujos projectos foram designados por “El Ensanche”. Daí a criação dos actuais bairros de Begoña, Deustu e Abando. Neste último, na margem esquerda da ria, fica o que hoje se considera o centro da cidade. Centro financeiro e centro de comércio, não abdicando, porém, de conservar áreas residenciais. A Plaza Moyua desempenha um papel de eixo central sendo atravessada pela Gran Via. Pelos quarteirões afora encontram-se alguns edifícios imponentes e elegantes, bem como ricos nos seus pormenores. É aqui nesta zona que estão situados 2 dos 3 mais afamados e populares cafés de Bilbao – o La Granja e o Iruña (o Boulevard fica no Arenal e encontrava-se encerrado aquando da nossa passagem pela cidade). O La Granja parece conservar uma atmosfera algo senhorial, enquanto que o Iruña possui uma decoração mourisca bem vincada quer nos seus azulejos quer em algum do seu mobiliário.


Um pouco mais afastado de Abando, já no que será considerado o bairro Basurto, fica o estádio de San Mamés. O nosso interesse pelo desporto em geral, e o futebol em particular, leva a que não nos esqueçamos de dar uma passada pelos estádios das cidades que visitamos. E aqui, mais uma vez, confirmamos que não é inevitável que estes grandes equipamentos sejam atracções de circo absolutamente disformes, monstruosos e desintegrados do local onde se encontram (logicamente que tenho sempre presente os maus exemplos dos estádios do Sporting e Benfica na minha cidade, Lisboa, e nos bons exemplos dos estádios do Boavista, no Porto, e do Vitória, em Guimarães). O estádio de San Mamés, onde joga o Athletic (a par do Real Madrid e do Barcelona é um dos 3 únicos clubes espanhóis a ter o privilégio de nunca haver sido relegado para a II divisão), ocupa discretamente um quarteirão (à semelhança, aliás, do que acontece com o estádio do Real, em Madrid) desde 1913, o que faz com que seja o mais antigo de Espanha, ainda que tenha sofrido uma profunda reabilitação por ocasião do Mundial FIFA de 1982. Para breve prevê-se a construção de um novo estádio numa área adjacente ao actual.


Por explorar, na zona mais central de Bilbao, ficou o bairro de Deustu, a provar que 3 dias inteiros gastos apenas na cidade não são demais.