sexta-feira, dezembro 16, 2016

Auschwitz


Oswiecim, cidade polaca conhecida mundialmente por Auschwitz, fica a cerca de 1 hora e vinte minutos de autocarro desde Cracóvia.

Quando marquei a viagem para Cracóvia em Setembro passado pensei não visitar de todo Auschwitz. Depois decidi que visitaria o lugar onde foram mortos mais de um milhão de judeus, mas não levaria máquina fotográfica. Acabei por ir a Auschwitz acompanhada da minha máquina fotográfica e tirei algumas fotos. Mais, jurei que nada escreveria sobre o assunto e eis-me aqui a fechar o ano de 2016 com estas memórias.

Não costumo temer nem o desconforto, nem o desafio de me confrontar com o desagradável. 
Não era bem o receio de estar face a face com o horror que percorria o meu pensamento. Simplesmente, comecei por entender que não necessitava desta experiência para aumentar os meus conhecimentos acerca do Holocausto.

A experiência de percorrer os blocos e as ruas cercadas de arame farpado dos campos de concentração foi dura, como esperado, mas também surpreendente pela localização do espaço (no meio da floresta) e sua arquitectura (serena).

Hoje, depois de visitar a Auschwitz e a Birkenau do século XXI, posso afirmar que estou ainda mais descrente na espécie humana. Já sabendo o fim da história, os visitantes atropelam-se no meio do relativo silêncio por ver o pedaço de cabelo, por chegar àquela foto, por apanhar o último assento no autocarro. Mas não há muitos que se detenham em observar as fotografias das pessoas reais em exposição - cujo olhar intenso nos confronta e derruba - que certamente não terão sobrevivido ao campo.

À pergunta se deveremos deixar de visitar Auschwitz, responderei que não: devemos visitá-lo e cada um vivenciar a sua experiência pessoal.

Lembrando o belo dia de sol que fazia quando visitei Auschwitz, que só fez foi confundir ainda mais os sentimentos, opto por recordar as palavras escritas por Primo Levi na sua obra essencial Se Isto É Um Homem:

"Hoje pela primeira vez o sol nasceu vivo e nítido por cima do horizonte lamacento. É um sol polaco, frio, branco e longínquo, e não consegue aquecer para além da epiderme; mas, quando se libertou das últimas neblinas, um murmúrio percorreu a massa decorada que somos, e quando eu também senti a tepidez através da roupa, compreendi como se pode adorar o sol."