terça-feira, agosto 22, 2006

Aldeia das Dez



Alcandorada na encosta Norte do Monte do Colcurinho, Serra do Açor, e sobranceira ao Rio Alvôco. É aí que se situa esta aldeia.
É uma aldeia que, como muitas outras, tem uma igreja, cujo sino toca de hora a hora, e um adro.


Tem uma banda filarmónica que toca nos dias de festa que, quando são religiosas, têm sempre uma procissão, a maior das quais no dia do padroeiro S. Bartolomeu (24 de Agosto).


É uma aldeia em que, como todas as outras por este país, nas festas as mulheres dançam com as mulheres porque os homens preferem o tintol.
É uma aldeia onde é possível ter uma aula de astronomia a céu aberto porque o ar é impoluto.
Uma aldeia rodeada por pinhal e com vistas desafogadas, serenas e bonitas. Uma aldeia que funciona como miradouro, pois é possível avistar o topo do Colcurinho, a Serra da Estrela e outras aldeias serranas.


Uma aldeia onde se fazem e se come cavacas e tijelada.
Esta aldeia podia ser como muitas outras espalhadas por aí. Mas não. Esta é especial. É aqui que estão as minhas origens familiares paternas. Onde passava, quando era miúda, Verões intermináveis e despreocupados. Dias que começavam com o despertar ao som único do sino da igreja. Que eram passados a andar de bicicleta à volta do adro da igreja. A tentar jogar à bola também no adro da igreja. Embora esta missão fosse quase impossível porque havia, para algumas mentes, um conflito entre o sagrado e o profano (!!??). A brincar aos índios e cowboys nos pinhais, onde todos queriamos ser índios para podermos usar os arcos e flechas feitos por nós. A atazanar as galinhas, coelhos e gatos. Dias a tentar convencer, sem efeito, a avó que brincar a seguir ao almoço com 40º dá saúde e faz crescer.
Por todas estas memórias também eu canto a marcha da Aldeia das Dez (1945):

Nossa aldeia terra airosa
Linda alegre e singular
Cada pedra é uma rosa
Enfeitando o lindo altar

(...)
Cantemos à nossa terra
Nosso abençoado lar
Os encantos que ela encerra
São tais que não têm par

Terra que é nosso amor
Outra não vemos melhor
Nem por certo deve haver
De tanta gente lhe querer
Não cansemos de a louvar

quinta-feira, agosto 17, 2006

Caminhar na Quinta do Lago


Habituámo-nos a ouvir falar da Quinta do Lago sempre associada aos “ricos”, “famosos”, “bonitos” pertencentes à designada “alta sociedade portuguesa” e internacional. A Quinta do Lago do golfe, das festas no T-Club, dos banquetes no Gigi, das exuberantes moradias, enfim... do mostrar para ser visto.
A verdade é que a Quinta do Lago é tudo isto. Mas é muito mais. Sendo que este tudo mais é a melhor parte da história. Quem se lembrou de escolher aquelas bandas para lá instalar um recanto exclusivo e recatado para uma elite de ricos e famosos e dele fazer um resort escolheu muito bem. Mas, sorte a nossa, no nosso país ainda não é possível vedar o acesso às frentes do mar aos outros cidadãos não tão ricos e famosos. Pode o parque de estacionamento da praia da Quinta cobrar uma fortuna pelo mero serviço de aí deixar um carro, mesmo que os seus lucros não revertam para a protecção do habitat natural em que se encontra. O certo é que vale a pena engolir o sapo e lá deixar uma nota, aí isso vale.

Dito isto, a Quinta do Lago está situada em plena Ria Formosa.
A Ria Formosa está situada no Algarve e caracteriza-se por ser uma região de sapal e ter um habitat natural específico, ao longo de uma extensão de cerca de 60 km, desde o Ancão, no concelho de Loulé (e onde se encontra localizada a Quinta do Lago), até Manta Rota, no concelho de Vila Real de Santo António, abrangendo ainda os concelhos de Faro, Olhão e Tavira.
Iniciando um “tour” desde o parque de estacionamento da Quinta do Lago, existe a possibilidade de se percorrer a pé 2 trilhos naturais previamente definidos e (bem) sinalizados: o “Quinta do Lago” e o “São Lourenço”. Para além da saudável caminhada, ambos os trilhos têm ainda o valor acrescentado do iminente contacto com a flora e a fauna locais que se desenvolvem ali pertinho dos greens, do lago e do Atlântico, sob o sol algarvio.
O trilho da “Quinta do Lago” tem cerca de 2,3km e características de sapal e lago de água salgada. Por entre os pinheiros mansos, palmeiras anãs e rosmaninho, deparamo-nos com a criação de uma tapada de piscicultura com diversas espécies de peixinhos, como dourada, robalo, linguados, sargos, enguias.
Por seu lado, o trilho de “São Lourenço” desenrola-se ao longo de 3,2 km pelo sapal e pelo lago de água doce. Por este caminho é possível observar-se diversas espécies de aves, bem como o camaleão, um réptil em vias de extinção na Europa mas ainda relativamente fácil de se encontrar neste Parque Natural. No último ponto deste percurso existem umas ruínas romanas onde se poderá observar alguns tanques de salga (de peixe) da época romana do século II dC.


Para além destes 2 percursos “oficiais”, a vontade de descobrir mais sobre esta zona permite-nos percorrer caminhos ao sabor dos nossos próprios pés, seguindo a rota dos aviões que aterram e levantam voo bem ali ao lado, no aeroporto internacional de Faro.
Apesar dos aviões que sobrevoam esta zona constantemente (parece que estamos em Heathrow ou Charles de Gaulle), o rei por aqui é o flamingo. Isto no que diz respeito à natureza, a imperadora destas bandas. Mas não podemos esquecer o princípe, obra do homem – a ponte que liga os terrenos da Quinta do Lago à praia, construída sobre a Ria Formosa. A ponte, pedonal, é na sua simplicidade uma das mais bonitas e encantadoras que já tive oportunidade de ver. É uma passadeira de madeira de cerca de 320 metros, o que faz dela uma das maiores da Europa. Vista ao pôr do sol, reflectida na água juntamente com as cores muito especiais que entretanto o céu, o mar e a terra tomaram, é um privilégio para os nossos olhos. Olhos humanos, todos iguais ali no meio do visual que a natureza nos entendeu dar.

terça-feira, agosto 08, 2006

Aqueduto das Águas Livres

Quantas vezes os lisboetas e quem visita Lisboa passaram pelo Aqueduto das Águas Livres e ficaram deslumbrados? Falando por mim e generalizando pelos outros, muitas. Pois é, sempre que passava pelo Vale de Alcantâra (quase diariamente) pensava “hei-de subir e passear lá por cima”. Demorei mas cumpri.
No meu imaginário estava não só a imponência e monumentalidade do Aqueduto, que faz dele um "ex-libris" de Lisboa, mas também a história, contada em tempos pela minha professora de História, de um homem que se escondia no aqueduto e quando as pessoas iam a passar, roubava-as e deitava-as cá para baixo. Como esse homem acabou por ser enforcado depois de se perceber que não havia uma onda de suicídios mas sim uma de homicídios, lá fui eu descansadamente percorrer a parte mais imponente e visível do aqueduto, aquela que atravessa o Vale de Alcantâra e é composta por 35 arcos, o maior dos quais com 65 metros de altura e 29 de largura.


Este troço, que liga a colina de Monsanto à das Amoreiras, é uma parte dos 18,6 km (58,1 km se contarmos com todos os ramais) que começam em Caneças e terminam em Lisboa, na Mãe d’ Água das Amoreiras.
Esta grande obra hidráulica foi construída, por ordem do “Magnânimo” D. João V, entre 1732 e 1748, quando entrou em funcionamento.
Durante muitos anos o Aqueduto serviu não só como meio de abastecimento de água para Lisboa como ponto de passagem e de acesso à cidade. Actualmente, e após um longo período em que estiveram encerrados por razões de segurança, os dois passeios que se estendem pelos arcos sobre o Vale de Alcantâra servem apenas (e já não é pouco) para se disfrutar e contemplar a cidade de cima, sentir tranquilamente a azáfama que se desenrola cá em baixo e estarmos mais próximos da serenidade do céu.


Vale a pena!

Ciudad del Este

Onte fui ver o Miami Vice ao cinema.
Filme sobre polícias, informadores infiltrados, traficantes.
O demais não vem agora a propósito. Vem, sim, a propósito, o facto de no filme aparecerem imagens aéreas, as vistas de pássaro, das Cataratas de Iguazu. Com água. Água em abundância a acompanhar a exuberância da floresta que envolve aquela falha na terra.
Por estas bandas faz-se a fronteira entre 3 países: Paraguai, Brasil e Argentina, e 3 cidades, respectivamente: Ciudad del Este, Foz de Iguaçu e Puerto de Iguazu.
Destas cidades, apenas a última é encantadora. A argentina Puerto Iguazu é também a mais pequena. A calma constante do chilrear dos pássaros é quebrada apenas pelos visitantes que acorrem ao Parque Nacional (em menor quantidade do que no lado brasileiro, uma vez que apesar das Cataratas ficarem fisicamente em território argentino é no lado brasileiro que fica a vista deslumbrante deste fenómeno da natureza) e aos casinos (que não existem no lado brasileiro). Mesmo assim, as suas ruas de terra batida e a ausência do movimento louco das grandes cidades vizinhas têm tudo a ver com a selva Guarani, tão presente no espírito desta cidade, tão distante do das outras.
Ao invés, Ciudad del Este seria uma cidade para esquecer caso fosse eu da opinião que existem cidades para esquecer. De qualquer forma, de todos os lugares onde já estive, é esta cidade paraguaia (a 2.ª maior do país atrás da capital Assunção) que me fez ficar perto de rever aquela opinião.
O filme Miami Vice mostra-nos, igualmente, imagens de Ciudad del Este. Da sua confusão abarracada, das suas ruas de terra batida, sujas, inundadas de caixotes da mercadoria que por lá se vende. E lá vende-se de tudo. E compra-se de tudo. É a terra, por excelência, da muamba, como diriam os brasileiros. Do contrabando, como dizemos nós, os portugueses.
Ciudad del Este é a 3.ª maior zona de tax free do mundo, só superada por Miami e Hong Kong. Aqui os negociantes fazem, ou julgam fazer, bons negócios, obtendo os produtos, autênticos ou copiados, por uma pechincha. Na curta cena do filme apanha-se bem o espírito da coisa.
Para se chegar à cidade vindo do lado brasileiro, atravessa-se a Ponte da Amizade – de um lado o Brasil, do outro o Paraguai – e a amizade entre os dois é mesmo necessária, pois se de todo o Brasil chegam muambeiros desesperados por arriscar na compra de mercadoria que esperam que lhes garanta a sobrevivência ao poder vir a render muito mais no seu país, pelo lado paraguaio a dependência da economia do vizinho Brasil é quase total.
Atravessar a ponte está mais para experiência de filme do que de vida real. Para evitar o caos absoluto é melhor fazê-lo a pé. Assim, no meio de um caos “apenas” quase absoluto, feito de encontrões e tropeções nas embalagens da mercadoria aberta às pressas e nas muitas personagens que compõem este “outro mundo” do sub-comércio, chega-se ao paraíso do consumo. Nada que ver com o ambiente das grandes feiras de Lisboa e arredores, igualmente feito de empurrões e de pregões que mereciam um roteiro especial. Aqui o cenário é de 3.º mundo mesmo. Antes de poisar por aquelas bandas, não havia visto nada igual e imaginava que semelhante cenário só existia nos filmes. Ontem, ao ver Miami Vice, recordei que, afinal, não existe apenas nos filmes e que estes apenas se limitam a retratar a realidade.

O arrependimento: o deslumbre do caos foi tal que nem houve tempo, coragem, ambição para o documentar em fotos.

quinta-feira, junho 29, 2006

Artistas Viajantes e o Brasil no Século XIX

Na Galeria de Pintura do Rei D. Luís está patente, até 31 de Julho, a exposição “Artistas Viajantes e o Brasil no Século XIX”. Baseada maioritariamente em pinturas da Coleção Brasiliana / Fundação Estudar, foram ainda acrescentadas para esta ocasão algumas peças dos acervos dos Palácios Nacionais de Queluz e da Ajuda – principalmente retratos da família real.




A Coleção Brasiliana reune um conjunto de cerca de 320 obras que nos apresentam a visão de artistas estrangeiros sobre o Brasil do século XIX. Obviamente, apenas uma infima parte destas podemos agora visitar.
A exposição procura dar uma perspectiva acerca de três grandes temas: o Rio de Janeiro e a corte, o registo dos viajantes e a paisagem brasileira.
Quando a corte portuguesa se transferiu para o Brasil, designadamente para o Rio de Janeiro, fugindo das invasões francesas, encontrou um lugar ainda provinciano e longe do esplendor arquitectónico e festivo que se vivia na metrópole. A vegetação imperava, mesmo no Rio. Aliás, felizmente que ainda hoje impera. Esse é o encanto do Rio. Os morros, a floresta e o mar dominam. E a primeira pintura que se encontra exposta, em dimensões bastante razoáveis, só nos faz desejar ter aportado ao Rio há uns séculos atrás. A respiração suspende-se. Toda aquela paisagem ainda imaculada de prédios e asfalto, mas com os três elementos atrás citados que fazem dela a Cidade Maravilhosa.
O que mais me agradou nas pinturas expostas foi a possibilidade de confrontar a cidade de então obra exclusiva da Natureza com a cidade de hoje também obra do Homem mas na qual a Natureza continua a ser senhora.
Não há bondinho, não há Cristo Redentor. Mas há Morro do Pão de Açucar e Morro do Corcovado, com a Baia de Guanabara e a Lagoa lá em baixo exclusivamente a banhar as suas bases. Há a Pedra da Gávea, com a vizinha Pedra Bonita apenas com o vôo livre das aves, que não o dos Homens. E há Ipanema e Leblon com as suas ondas e areias propriedade apenas da fauna local. E sem quaisquer casas. Provavelmente só os indígenas se atreveriam a ir para paisagens tão distantes. A cidade imperial desenvolvia-se quase em exclusivo no que hoje é conhecido como o Centro do Rio.
Encontram-se ainda expostas pinturas da Serra dos Orgãos, paisagens pisadas pela corte a caminho da “cidade imperial” de Petrópolis.
Imperdível esta exposição. Uma excelente ocasião para apreciar pintura e deixar-se viajar pela visão dos artistas que foram ao mesmo tempo românticos e aventureiros. Os primeiros viajantes que nos proporcionam agora imagens da vida na corte, da nobreza, dos nativos indígenas, dos escravos e da luxuriante vegetação e paisagem, ainda não exclusiva da Amazónia.

terça-feira, junho 27, 2006

BAJOFONDO TANGO CLUB


Tango com electrónica. Mas não só. Ao bandoneon foi acrescentado guitarra eléctrica, violino, baixo, piano, computador. Tudo mixado dá um som algo parecido com tango, rock, jazz, hip-hop.
Ou, melhor dito nas palavras dos integrantes do grupo, é um som do Rio da Prata, terra do velho tango, terra do novo tango.
Não podendo estar presente no concerto que os Gotan Project vão dar em Lisboa, no princípio de Julho, altura de férias, não podia deixar de ir ouvir e ver os Bajofondo, no Teatro Variedades, Parque Mayer, integrado nas festas de Lisboa.
5 estrelas. A experiência musical não podia ser melhor. Eu, que penso sempre que detesto dançar, dei por mim a abanar o corpo como não imaginava que o pudesse fazer. Foi a responsabilidade e o contagio de estar na primeira fila. Ou talvez tenha sido mesmo o som e o ambiente muscial que não deixa ninguém indiferente. Nem mesmo o casal de velhinhos de cerca de 80 anos que se mantiveram até final.
– “Então, o que achou?” – “Bem, não é muito o meu género, mas gostei”.

sexta-feira, junho 23, 2006

"A Vaca"

O prémio da + + + vai para a "Portucowlia", nos Restauradores.
Um ovo em cima do bife, devidamente patrocinada pela Cervejaria Portugália.
Bem imaginado.
E mais um símbolo lisboeta.

Prémio Especial Vieira da Silva

A menção honrosa nas vaquinhas de Lisboa vai para a “Alfacinha”, no Jardim da Estrela.
Parece ter sido inspirada nas pinturas de Helena Vieira da Silva.

As Vacas Mais “Lisboetas”

Eis as vacas em exposição mais representativas de Lisboa:


- “Táxi Vaca”, no Saldanha;



- “Electric cow”, nas Amoreiras;



- “Cowpombalina, no Largo de Santos;



- “Calçada Portuguesa”, na Praça do Município;



- “Vaca Pessoana”, na Praça do Município;

quinta-feira, junho 22, 2006

O meu top de Vacas

Que me desculpem todas as outras vaquinhas, mas das que já vi as minhas preferidas são:


- “Go out inside”, no Jardim da Estrela, a vaca na jaula, com o telefone pertinho para falar com o seu boi e os seus vitelos, criada pelos reclusos do Estabelecimento Prisonal Regional de Aveiro;



- “Cândida Charneca”, no Marquês de Pombal, a representante dos ciclistas;



- “Vaca Confortável”, no Parque das Nações, com pedrinhas coloridas a fazer lembrar os deliciosos smarties;



- “Lisboeta”, na Praça da Figueira;



- “Vaca fazendo arte”, no Campo Pequeno, com as patas encharcadas de tinta;



- “Madeira, Ilha de Sonhos”, no CCColombo, a mais kitsch, a par da “Varina”, na Rua do Carmo.

segunda-feira, junho 19, 2006

Vacas em Lisboa

A Cow Parade está em Lisboa.
Até ao fim de Agosto é possível tropeçar numa das vacas que estão espalhadas pela cidade.
Umas mais irreverentes ou imaginativas do que outras, mas todas elas obras de arte. Aliás, no site da Cow Parade, este evento é descrito como o maior acontecimento de arte pública do mundo. E acessível a qualquer cidadão que se proponha simplesmente passear pelas ruas da cidade.
Pena é que logo ao fim de alguns dias algumas das vaquinhas tivessem de ser removidas dos seus locais de exposição para o denominado “hospital da cowparade”, para reparação dos seus danos. A avaliar pela quantidade de paizinhos que insistem em colocar as suas criançinhas no lombo das vacas para lhes tirar a fotografia da ordem e pela quantidade de rapagões que insistem em fazer pegas de caras às boas das vacas, também neste hospital em breve haverá listas de espera. Já para não falar das vacas impiedosamente grafitadas ou com mensagens de "amo-te Cátia Vanessa".
Voltando à ideia que está na base deste projecto, que já passou, entre outras, por Nova Iorque, Estocolmo, Londres, Barcelona, Moscovo, Sydney, Tóquio, São Paulo e se encontra, igualmente, em exibição em Buenos Aires e Paris, dizia, a ideia do evento é entregar as vacas em fibra de vidro e tamanho real a artistas que as recriem a seu belo prazer. Após a sua exibição, as vacas serão leiloadas e o valor amealhado reverterá para o projecto MecenatoNet que colocará os fundos à disposição da Acapo, Ami, Apav, Cruz Vermelha, Liga dos Bombeiros e outras entidades de beneficiência.

O meu projecto resume-se a tentar visitar e fotografar todas as 101 vaquinhas em exposição em Lisboa. Nesta empreitada, já perto da sua conclusão, deparei-me com alguns dissabores. Por exemplo, a “Vaquinha Piu Piu”, no Rossio, já tinha sido levada para o hospital, por lhe terem rapinado as galinhas que lhe adornavam o lombo (entretanto já lá voltei e estimei em verificar que já está totalmente recuperada da sua saúde). A “Cowpyright”, no Campo Pequeno, foi sequestrada e, apesar de as investigações do crime terem sido bem sucedidas e a vaca ter aparecido, até à data ainda não foi reposta no seu habitat original. Também no metro do Marquês de Pombal era suposto estar lá a “Wishing Cow – Vaca dos Desejos. Não a vi. À “Electic cow”, nas Amoreiras, faltava-lhe as anteninhas do eléctrico que o ligam aos cabos. Quanto à “Polis”, no Largo do Rato, bem em frente do PS, a polícia terá sido impotente para evitar que lhe partissem a sirene.
Tive, no entanto, mais sorte por ter ido travar conhecimento a tempo com as vaquinhas “Limi the Kid, a comer um queijinho” e “Waca”, presentes no Parque das Nações, “Cândida Charneca, no Marquês de Pombal, e “Vaca Preciosa” na Av. de Roma. Nesta última ainda lhe vi a malinha de madame rasgada e com defeito. Quando virei as costas já os senhores doutores a tinham ido buscar.
As melhoras para todas as enfermas.

quinta-feira, maio 25, 2006

Manas Aus Dusseldorf

Dusseldorf fica a cerca de 40 km a sul de Colónia. Traduzindo, são 25 míseros minutos de comboio, a não ser que calhe estacionar na linha um regional que vá parando em todas as terras vizinhas, caso em que a viagem sobe para uns 50 minutos.
É a capital do Estado “Nordrhein-Westfalen”, embora talvez quer Colónia quer Bona possam ser internacionalmente mais conhecidas. Parece que a ideia por aqui é dividir as distinções. Colónia ficou com o título de maior cidade da zona e com a maior Catedral da Alemanha, Bona ficou com o lugar de capital – quando a Alemanha Federal foi país – e Dusseldorf ficou com o lugar de capital do Estado.
De todas estas cidades vizinhas, Dusseldorf é aquela em que a modernidade mais tem atacado.
A zona do velho porto à beira Reno sofreu uma recauchutagem absoluta com a reconversão urbanística de que foi (vem sendo) alvo. O MedienHafen, serve hoje de laboratório para os arquitectos darem asas à sua imaginação, um pouco à semelhança, salvo as devidas proporções, quer em área quer em qualidade, de La Defense, em Paris, e do nosso Parque das Nações.
O Neuer Zollhof, de Frank “talvez Parque Mayer” Gehry.


Colorium, de William Alsop, e a invasão de “Flossies”.

Para além da arquitectura, a cidade possui dois museus de alto nível dedicados à arte contemporânea.
O K20, que expõe pinturas do século XX de Picasso, Chagall, Klee, entre outros, bem como de expressionistas alemães, incluindo o meu preferido Kirchner. Igualmente, apresenta exposições temporárias. Provavelmente visitei aqui uma das exposições mais interessantes que alguma vez tive oportunidade. Oportunidade e sorte. Porque é mesmo assim. Por vezes calha visitarmos uma cidade e termos a felicidade de lá estar exposto algo ou em curso um evento que mais nos toca. No K20 continua patente até 25 de Junho uma mostra de maquetes de alguns dos museus do século XXI que se encontram já concluídos ou em construção ou, até, sob projecto ou estudo. Maquetes e projectos para todas as sensibilidades, desde as imperceptíveis até às óbvias. O mais perto que tenho a ver com arquitectura é a vontade de brincar com Legos até hoje, no entanto, gostei muitíssimo de, por exemplo, saber e conhecer a ideia para um museu em Lyon (Musée des Confluences) com o formato de uma brutal nave espacial.
Pouco mais de 1 km a sul fica o K21, como o nome indica dedicado à arte do século XXI, aquela em que vale literalmente tudo e face à qual muitas vezes nos indignamos e questionamos: será isto arte? Tudo é válido, quanto mais não seja para nos rirmos e afirmarmos que também eramos capazes de fazer “aquilo”, só não temos é a distinta lata de expor “aquela coisa”. Como dizia o guia da Lonely Planet: “Espera sentires-te chocado, entretido e provocado”. Assim foi.
O edifício é uma adaptação de uma mansão do século XIX, à beira de um lago e com bastante verde à sua volta. Uma imensa calma no exterior que não deixa adivinhar o que se encontra exposto no interior. O piso inferior, reservado às exposições temporárias, contém umas “escotilhas” que dão directamente para o lago, o qual se encontra precisamente ao nosso nível dando a ideia de que estamos no meio da sua água.

A Altstadt de Dusseldorf, correspondente à “cidade velha”, é composta de ruas pedonais inundadas por lojas da moda. Aqui e ali vêem-se snacks onde se pode comer rapidamente e em pé as tradicionais salchichas cortadas às rodelinhas e acompanhadas com inúmeros molhos e batatas. É uma boa alternativa para uma (1) refeição fugindo das amarras do controlo do colestrol.
Junto à Altstadt, em direcção ao Reno, damos de caras com a Rheinuferpromenade, ponto de encontro para todas as actividades, desde simplesmente passear sem destino aparente ou poisar numa esplanada a beber uma(s) cerveja(s).
Toda esta movida e a vida nocturna intensa por estas bandas fazem com que este lado do Reno, com a sua “promenade” e, principalmente, a Altstadt seja conhecido como “o mais longo bar do mundo”.
Para quem tem outros interesses, que tal dirigir o seu olhar para a outra margem do Reno? Incrível como a poucos metros de toda esta agitação possam pastar idilicamente centenas de ovelhas. A modernidade citadina a um passo da vida do campo.
Ainda na Altstadt e para quem, como eu, não pode viver sem um gelado diariamente, é obrigatória uma ida à gelataria “Pia Eis”. Obrigada uma vez mais ao meu amado guia da Lonely Planet que me permitiu optar pela “Pia” e me lambuzar por apenas 1 euro com um delicioso gelado de 2 bolas. Aqui por estas bandas toda a gente come gelados, chova ou faça sol, sempre mais do que saborosos e a preços mais do que acessíveis. E não falo dos gelados tipo Olá, que parecem deter quase o exclusivo cá no nosso país. Também são bons (quem me tira o SuperMaxi tira-me quase tudo) mas os cones com milhentos sabores à escolha são outra loiça. Sem falar de que nos países de “clima horroroso” não se corre o risco de ouvir a resposta “ainda não estamos na época” à pergunta “tem gelados?”

A visita ao centro de Dusseldorf completa-se com uma passagem rápida pela Konigsalle, Ko (com o trema no “o”) para os amigos, uma avenida com lojas de um lado e do outro das marcas de alta costura, sem piada por ali além. É mais fotogénica do que vista ao vivo e a cores.
Para além do que foi possível visitar num dia de passeio a Dusseldorf, mais haveria para ver e fazer. Como sempre, em qualquer cidade, dure a visita 1 dia ou 1 ano.
Poderia, por exemplo, ter passeado pelos jardins do Hofgarten, que ocupam uma área nada modesta da cidade. E, ainda no que diz respeito a jardins, poderia ter dado um saltinho aos jardins japoneses da cidade, um pouco afastados do centro mas certamente uma novidade em relação a tudo o que possa já ter visto.
E poderia, também, ter subido à Rheinturm, uma torre panorâmica de 180 metros de altura às portas do MedienHafen. Certamente que dali se avista toda a cidade. Certamente que o clima do dia que lá passei não permitiria avistar pouco mais de 1 metro à frente e, assim, a subida ficará para a próxima.

terça-feira, maio 16, 2006

August Macke e Bona


Igreja de Sta Maria com neve

Manas Aus Bonn

A minha geração habituou-se a ouvir falar de Bona. Nascemos e Bona já era capital da Alemanha Federal há uns anos. Mas não muitos. Tornou-se capital em 1949, após a II Grande Guerra Mundial e as consequentes divisões da Alemanha e Berlim pelos aliados. Nessa altura, foi com surpresa que Bona ganhou a corrida ao posto de “capital provisória”, principalmente a Frankfurt, uma cidade bem maior, quer em termos de habitantes como de projecção internacional e económica. À escolha não terá sido alheio o facto de Konrad Adenauer, então chanceler, ter nascido nos arredores de Bona. O certo é que a pequena cidade, a quem alguns acusavam de provinciana e sem sofisticação para o posto, reinou até 1991 quando na sequência da reunificação alemã um ano antes se decidiu pelo retorno da capital para Berlim.
Bona fica a cerca de 30 km a norte de Colónia, a maior cidade da zona do Reno. De comboio são cerca de 20 minutos. Uma curta jornada, por isso.
A cidade pode ser pequena e pode ter perdido os serviços e ministérios do Estado. Mas pareceu bem acolhedora e com um ritmo agradável pela sua acalmia. Digo pareceu porque lá estive apenas no domingo de Páscoa e debaixo de uma chuva copiosa que, acredito, afastou toda a gente das ruas. Isto no centro. E pela manhã. Nos museus e pela tarde, já sem chuva, a multidão saiu não sei bem de onde. Afinal não serão assim tão poucos os habitantes da cidade. Ou os que existem gostam mesmo de sair das suas casas, ainda que num domingo de Páscoa com um tempo assim não tão convidativo para o passeio.
A Munster Basilika estava a rebentar pelas costuras pela missa da manhã. Uma vez mais, doloroso e ao mesmo tempo gratificante de observar a capacidade do Homem em destruir e prontamente reconstruir os imóveis que são parte da sua urbe. Esta igreja ficou praticamente toda destruída por altura da II GGM e está hoje novamente de pé.
A principal praça da Altstadt de Bona é a Markt, cujo edifício mais simbólico é o Rathaus (o equivalente à câmara municipal), com a sua fachada barroca em tons rosa e com motivos trabalhados em ouro e prata. Faz lembrar uma casa de brincar em ponto grande.

Bona tem uma das maiores universidades da alemanha, acolhendo cerca de 30000 estudantes.
Igualmente, a cultura tem uma representação bem marcada e marcante na cidade. Beethoven nasceu em Bona e por todo o lado se sente a sua presença. Há a sua casa “Beethoven Haus”, um monumento “Beethoven Memorial”, uma escultura em concreto “Beethon” e ainda um centro de congressos e concertos, uma orquestra e um festival, todos com o seu nome, respectivamente “Beethoven Halle”, “Beethoven Orchester Bonn” e Beethovenfest Bonn”.


August Macke, um dos maiores nomes do expressionismo alemão, viveu grande parte da sua curta vida criativa em Bona, até morrer num campo de batalha na I GGM. A sua casa em Bona, que servia igualmente de atelier, foi comprada e restaurada pelo “munícipio” e transformada em Museu. Todavia, para ver as suas pinturas o melhor é visitar o Kunstmuseum Bonn (ainda que tanto o Ludwig, em Colónia, como o K20, em Dusseldorf, também acolham trabalhos de Macke).

Precisamente, o Kunstmuseum Bonn, para além da sua colecção de Macke e de outros expressionistas alemães de ambas as margens do Reno, comporta ainda obras de outros artistas alemães do pós-guerra, bem como exposições temporárias. O seu edifício é também ele uma obra de arte, principalmente pela sua monumental pala e pela luz natural que o seu interior recebe. A arquitectura do edifício é obra de Axel Schultes, cujo projecto foi escolhido ainda Bona era a capital federal, apesar da construção do museu só ter terminado e aberto ao público em 1992.
Para fazer face à perda do estatuto de capital, com a correspondente saída dos serviços da cidade, o governo federal injectou bastante dinheiro para que Bona pudesse continuar a marcar o seu ritmo próprio. Com isso, e para ocupar os edifícios entretanto deixados vagos, Bona tem atraido diversas companhias e organizações internacionais.
É assim que o Bundesviertel tem vindo a ver a sua renovação com a instalação destas recém chegadas entidades, quer alemãs quer internacionais, onde antes tinha lugar a Chancelaria, o Parlamento e a residência oficial do presidente, por exemplo. Nesta zona, também conhecida por “Museumsmeile”, ficam ainda alguns excelentes museus como o já citado Kunst, o Haus der Geschichte der Bundesrepublik Deutschland, sobre a história recente alemã do pós-guerra, e o Museum Koenig, de história natural.

Nas traseiras desta área, e a caminho do Schloss Poppelsdorf com a sua imensa avenida verde de mesmo nome a desembocar na Universidade de Bona, fica um bairro residencial (e onde estão ainda instaladas algumas embaixadas e consulados) que desconheço o nome mas que foi, talvez, o que mais me encantou e marcou na cidade e aquilo que mais recordarei. O bairro em si não tem nada de especial. Talvez por isso. É puramente residencial, com edifícios de 2 ou 3 andares de ambos os lados das estreitas ruas, com lombas imensas para poderem quebrar a velocidade dos carros e, assim, permitirem às crianças desviarem-se com todo o tempo do mundo do caminho, fazendo uma ligeira pausa nos seus jogos. À entrada da frente das casas, nos seus pequenos jardins, várias bicicletas estacionadas, como prova de que aquele é o meio de transporte de eleição por aquelas bandas. Agrada-me a ideia. Cidade plana, bem se vê, o estafado argumento para justificar o porquê de não se ver bicicletas nas ruas de Lisboa. O curioso é que as bicicletas de Bona, ou de Colónia, Dusseldorf, Berlim e, provavelmente, de toda a Alemanha, são bicicletas cujo modelo no nosso país é mais conhecido por “pasteleira”. Aquelas duas rodas mais do que datadas e fora de moda, que apenas se vislumbram nas aldeias. As (poucas) bicicletas de Lisboa não, essas são de marca, Scott, Trek, Kona, Giant ou, mais modestamente, da Decathlon, como a minha. A estas usamo-las para passear e são de “topo”. Os alemães usam-nas para o seu dia-a-dia e são “rascas”, deixam-nas à porta de casa (mal) amarradas a qualquer lado, ao frio e à chuva, mas dão-lhes uso.
Estranha forma de vida esta, a de andar sob duas rodas e a de viver na calmaria, vendo os filhos brincar à porta de casa sem que os carros lhes passem por cima.

sexta-feira, maio 05, 2006

Manas Aus Koln

Colónia é a 4.ª maior cidade alemã e fica situada na região do Ruhr / Reno, uma das maiores áreas metropolitanas da Europa em termos de população, com cerca de 12 milhões de habitantes.
Colónia fica-se por 1 milhão de habitantes e é a maior cidade do “Nordrhein-Westfalen” (Norte Reno Westfalia), ainda que a capital do Estado seja a vizinha Dusseldorf e a também vizinha Bona tenha sida a escolhida para capital provisória da República Federal Alemã em 1949, no final da II Grande Guerra Mundial.
Colónia desempenha ainda um papel importante na indústria da comunicação social, uma vez que as grandes cadeias de televisão ARD e RTL têm lá a sua sede.
Após o desembarque no aeroporto, partilhado com Bona, não é difícil nem demorado chegar ao centro de Colónia. Existem comboios de hora a hora e a viagem não demora mais do que 15 minutos. O que complicou a coisa foi achar que o primeiro comboio que passasse na linha indicada era aquele a tomar. Sem receios entrámos num comboio bem moderno e confortável. Quando a sra revisora pediu os bilhetes aproveitei para, confiante, mandar um “gutten tag, ihr sind die karte”, esticando a mão. O pior foi depois, perdemos ambas a vontade de falar em alemão e passámos rapidamente para um idioma mais favorável à prevaricadora. Pelo que entendi da explicação, aquele era um comboio de alta velocidade que ligava as grandes cidades alemãs, bem como Amesterdão. Como não tinha nenhuma paragem antes de Colónia e a sra revisora nos perdoou a reposição do dinheiro correspondente àquele bilhete (de 2,20 passaria para 14 euros), seguimos a viagem confortavelmente. Os alemães são brutos, é? Implacáveis, é? Arrogantes e mal educados, é? Então a sra revisora devia ser imigrante.

A estação de comboios de Colónia não poderia ficar mais no centro da cidade e, com isso, melhor localizada. Saindo das suas portas ergue-se imediatamente a Catedral de Colónia, o seu maior símbolo e aquele que nos permite identificar a cidade pelo mundo. A Catedral e o rio Reno. Ou melhor, os dois ao mesmo tempo com a ponte Hohenzollern a piscar-lhes o olho para a fotografia.

A ponte liga as duas margens do Reno e não tem mais do que 200, 300 metros. É obrigatório caminhar por ela, de dia e de noite, para que se possa ficar com uma boa perspectiva da brutal Catedral às margens do rio. Igualmente, é possível, se as pernas e o corpo aguentarem, subir os 500 degraus da torre da Catedral.

Lá do topo observa-se toda a cidade velha bem debaixo dos nossos pés. Estas vistas de pássaro costumam ser imperdíveis e aqui, mais uma vez, não desiludem e vê-se tudo aquilo que a nossa vista – e o clima – nos permitem alcançar. No caso específico de Colónia, interrogamo-nos como foi possível a destruição de grande parte do que vemos agora lá em baixo, por altura da II Grande Guerra Mundial, em que tudo ficou reduzido a escombros. E interrogamo-nos ainda mais, como foi possível a Catedral ter escapado, apenas com uns arranhões, aos bombardeamentos.
A Catedral de Colónia (em alemão: Kolner Dom ou, oficialmente, Hohe Domkirche St. Peter und Maria), em estilo gótico, começou a ser construída em 1248 e as suas obras apenas terminaram em 1880. Nessa época era o edifício mais alto do mundo, com as suas duas torres a atingirem os 157 metros. Tem ainda 144 metros de comprimento e 86 metros de largura. Medidas bem formosas no que toca a monumentalidade. Pena é a que as suas fachadas estejam tão escuras, cortesia dos anos de poluição. O monumento está inscrito desde 1996 na lista do Património Mundial da Unesco, mas em 2004 foi colocado noutra lista, cuja distinção ninguém deseja, a dos Bens Patrimoniais em Risco, devido aos edifícios que vêem crescendo na sua envolvente e o impacto (negativo) que produzem na Catedral.


A cidade velha, “Altstadt”, mas tão tão velha assim, dada a reconstrução a que foi obrigada após a II Guerra, percorre-se num instante, com poucas ruinhas com imensos restaurantes para turistas comerem. Mais pitoresco é o Fisch-markt, com as suas casinhas coloridas. O melhor desta zona da cidade é a possibilidade que oferece de se passear à beira do Reno.

Pelo que deu para entender, a cidade que os habitantes de Colónia vivem estende-se para oeste da Catedral, com ruas comerciais estritamente pedonais, até se chegar ao “Quarteirão Belga”. Aqui, sim, vive-se um ambiente de bairro e pode-se jantar em restaurantes acolhedores e modernos, sem o ar de constante pub da cidade velha.

Por mais voltas que se dê em Colónia sempre se vai ter à praça da Catedral, a Roncalli. Vindos da estação de comboios ou a caminho do Museu Romano-Germânico ou do Museu Ludwig. Com o primeiro, mesmo que não se o visite, fica-se com uma imagem da presença dos romanos pelas margens do rio Reno, pois existem esculturas à volta do museu e o seu lobby, também com esculturas e artefactos, é visível do exterior através de um vidro.
Já o Museu Ludwig é um dos mais importantes no que diz respeito à arte pós-moderna, com uma excelente colecção de pop-art. Possui ainda uma boa colecção do expressionismo alemão e a maior colecção de obras russas de Avant-Garde fora da Rússia. E mais uma vez ficou a prova: Picasso, ainda que tenha vivido muitas décadas, não parava de produzir. Está, igualmente, muito bem representado no Ludwig de Colónia.
Em Abril o museu acolhia uma exposição temporária de Salvador Dali, intitulada “La Gare de Perpignan”, a qual levou magotes a visitarem as obras do surrealista aí expostas. Igualmente, bastante interessante a exposição, também temporária, de fotografia de alguns dos indivíduos mais fotografados do mundo – James Dean, Elvis, JFK, Marlyn Monroe, Marlene Dietrich e ... Adolf Hitler. Os alemães já vão ousando falar, escrever, filmar e expôr o seu ditador. Nada mau para quem em 1998, em plena Sachsenhausen, perto de Oranienburg, arredores de Berlim, não sabia indicar onde ficava a zona que tinha sido usada para campo de concentração.
O edifício onde está instalado o Ludwig foi concluído em 1986 e encontra-se espremido entre a Catedral, a estação de comboios (e a sua linha) e o Reno. O desenho do seu telhado, em zinco metálico, é ondulante, como melhor se observa do topo da Catedral.


De um fim de semana da Páscoa, com feriados e mais feriados, não se poderia esperar mais do lojas fechadas. O objectivo não eram as compras, mas não restou outra solução se não deambular pelas ruas. Felizmente, e mesmo assim sendo, as ruas estavam cheias de movimento, com as pessoas a andarem de um lado para o outro sem destino aparente ou, antes, com o único objectivo de passear. Melhor assim, não há nada mais desagradável do que visitar uma cidade que nos é estranha e não ver ninguém nas ruas, não nos apercebermos da sua vida, das suas rotinas.

Morrer de tédio em Colónia ninguém o fará. Se não se entra nas lojas nem se passeia junto ao Reno, então existem ainda mais museus a visitar para além dos já citados.
Um deles bastante curioso: o Museu do Chocolate. Na sua loja vende-se todo o tipo de chocolates como pãezinhos quentes. Um sucesso entre as famílias. Ao lado deste, fica o Museu do Desporto Alemão e Museu Olímpico. Quem gosta de desporto não o deverá perder, até porque não encontrará muitos exemplos do género.
Por último, ainda que mais existam, uma referência para o Museu Wallraf-Richartz, o qual não visitámos. A sua colecção, que abrange arte do século XIII ao século XIX, com diversos Rubens e Rembrandts, mudou-se recentemente para um edifício com uma interessante arquitectura, especialmente construído para o efeito.

Em resumo, se for a Colónia vá avisado: depois de picar o ponto na obrigatória Catedral, mesmo que seja esquisito não pode fugir aos seus museus, pois há os de todos os géneros e para todos os gostos.

Manas Aus Deutschland

A ideia era ir até à Alemanha por altura do mundial de futebol, ver um ou dois jogos, escolher uma ou duas cidades. A Fifa recusou-nos o bilhete no sorteio que realizou e, por isso, a visita à Alemanha foi antecipada para o fim de semana da Páscoa.
A escolha da cidade de destino teve que ver, sobretudo, com o preço da viagem de avião. A Alemanha é, provavelmente, o país para onde existem actualmente mais ofertas de voos, quer pela Tap quer por companhias “low cost”.
Berlim já era nossa conhecida, ainda que numa cidade destas fique sempre muito (tudo?) por conhecer. Para mais, estivemos lá em 1998, altura em que nem o Reichstag estava ainda remodelado, e desde aí muita reconversão a um ritmo frenético sofreu a capital, talvez uma das que mais mudou de cara em menos de uma década (Potsdamer Platz e Museu Judaico parecem ser bons exemplos para se querer voltar lá em breve). Aliás, a ida a Berlim serviu para contrariar a ideia que tinha da Alemanha e dos alemães em geral. Ideia feita que, infelizmente, muitos de nós não conseguimos contrariar. O passado persegue e é mais forte do que a vontade de esquecer e de seguir em frente. No entanto, e tirando o facto de muitos não falarem inglês e o meu alemão ser francamente rudimentar, tenho boas recordações dos deutsches.
Para o retorno à Alemanha, a primeira escolha tinha recaido sobre Munique ou Frankfurt. A Tap voa para ambas.
Todavia, a escolha final viria a ser Colónia, destino mais em conta em termos de passagem aérea (German Wings) e, na realidade, aquele que estava programado a princípio com a desculpa de assistir à estreia de Portugal e Angola no mundial de futebol, não fosse a dona Fifa ter trocado as voltas àquela intenção.
Ou seja, Munique, Frankfurt, Estugarda, Hamburgo, Dresden e, claro, Berlim, ficarão para uma(s) próximas(s).

quarta-feira, maio 03, 2006

Kings of Bergen em Lisboa


Os Kings of Convenience são uma daquelas bandas não mainstream que fazem um surpreendente sucesso em Portugal. Como Lloyd Cole, Tinderticks e outros dedicados às músicas melódicas.
Sábado encheram por completo a Aula Magna, em Lisboa.
Erlend, um dos elementos do duo, já era sobejamente conhecido por ser um animador nato, seja nas músicas mais suaves dos KOC, seja a solo com músicas mais viradas para a electrónica ou mesmo como DJ.
Eirik, mais sério, contrabalança o ruivo com ar de nerd estouvado. Tão sério, tão sério, que arriscou cantar “Corcovado” de Tom Jobim num português praticamente impecável, mesmo se a pronúncia de algumas palavras da letra tenham arrancado risotas do imenso público presente.
A banda vem de Bergen, Noruega. E Erlend contou-nos nessa noite que há uns anos atrás esteve no Lux e passeou bem juntinho ao rio. Esta semana voltou a jantar para os lados da Bica do Sapato e deu de caras com o mesmo que já tinha visto em Bergen: a vedação que impede os cidadãos de usufruirem em pleno o espaço junto ao rio. Rio Tejo em Lisboa, Oceano Atlântico em Bergen. Hoje apenas se espreita o rio ou o mar.
Em ambas as cidades a água tem um presença fortíssima.

Em Bergen, como se não bastasse a água dos fiordes que entra pela terra a dentro, existe ainda um enorme lago (artificial?) bem no centro da cidade.

Em Lisboa os desejos de todos os alfacinhas de verem na cidade uma maior comunhão com o Tejo, que não exclusiva da zona do Parque das Nações, não tem vindo a tornar-se realidade. Pelo contrário, às intervenções prometidas, se vierem mesmo a ser concretizadas, esperam-nos décadas de estaleiros de obra, à semelhança do que acontece no Terreiro do Paço.
Porque temos de nos sentar à beira-rio com uma rede a separar-nos fisicamente e esteticamente do que deveria ser nosso por inteiro?
Regras da UE, que não olha a nomes nem às especificidades dos locais, seja Portugal ou Noruega, ou qualquer um outro que não tenha relação com a água.
Assino por baixo o que o norueguês dos KOC afirmou: É um crime. Roubaram-nos os locais onde nos costumavamos apaixonar.

sexta-feira, março 24, 2006

A Área Protegida da Serra do Açor

A Serra do Açor fica na zona centro do nosso país, entre a Serra da Lousã e a Serra da Estrela, e abrange vários concelhos, entre os quais Arganil e Oliveira do Hospital.
Não desdenhando da restante paisagem, a Área Protegida da Serra do Açor comporta dois ex-libris: a Fraga da Pena e a Mata da Margaraça, ambos situados no concelho de Arganil e abrangendo em parte as freguesias da Benfeita e de Moura da Serra.
Habituada que estava desde que nasci a passar algumas temporadas do ano pelas bandas da Serra do Açor, mais especificamente em Aldeia das Dez (10 badaladas, 10 casas, 10 habitantes, 10 o quê?), concelho de Oliveira do Hospital, cometi a proeza de demorar 29 anos para verificar in loco a maravilha que são aqueles dois poisos. Ainda fui a tempo de encontrar locais que parecem permanecer intocados pelo Homem. Embora longe de conhecer todo o país, ou sequer de estar próxima de o alcançar, avanço sem receios a colocação da Fraga num qualquer top dos recantos mais bucólicos e fascinantes do Mundo e quiça da Europa e de Portugal!
A Área Protegida da Serra do Açor é constituída por cerca de 346ha, de entre a totalidade de cerca de 1297ha que dispõe aquela montanha. Nesta Área Protegida a altitude varia entre os 400m e os 1012m, o que mostra bem o desnível e o recorte da paisagem. Para lá chegar, dominam os vales e mais vales. A estrada, como quase todas as outras por aqueles lados, é um composto de curvas e mais curvas, em asfalto e, depois, subitamente, em terra.


No Verão do ano passado a paisagem era desoladora. O fogo consumiu grande parte da Serra do Açor, tudo o que se via à volta parecia lava, de tão preto que os vales ficaram. O cenário era ainda mais chocante quando se deparava com o tão próximo que as chamas chegaram dos povoados. A preocupação principal – e talvez a única possível – era salvar as casas, daí o traçado que parece realizado a regra e esquadro presente na paisagem. No entanto, milagrosamente o fogo não penetrou quer pela Mata da Margaraça quer pela Fraga da Pena. Milagre? Só se for o de 2005, porque há uns anitos atrás não poupou a Mata.


Só para nos localizarmos convenientemente no mapa, direi que a povoação mais conhecida por perto, quer da Mata quer da Fraga, é o Piodão, aldeia sistematicamente colocada nos tops das mais bonitas, mais antigas, mais altas, mais pequenas, mais não sei o quê do país. O certo é que, passe todos aqueles títulos artificialmente criados para constar de um qualquer livro ou folheto de propaganda, o Piodão consegue manter as suas características de rainha das casas em xisto, com a sua igreja propositadamente a destoar no seu branco da cal. À chegada somos assaltados pelos vendedores na rua – de pão, de artesanato, de tudo o que calhar. Pena é que a casa com original artesanato que ficava por baixo do Museu tenha fechado. Os dois artesãos que faziam – e vendiam – os seus trabalhos com as matérias primas retiradas do que a natureza por ali reserva, como é o caso do xisto e da urze, eram (serão) uns verdadeiros artistas.

A Fraga da Pena


A chegada não é muito fácil. Não que o caminho seja muito mau. Simplesmente, fica quase no fim do mundo – será que ainda falta muito? Já a teremos passado? Talvez por isso se mantenha ainda tão autêntica.
A Fraga é um pequeno recanto, com imensa vegetação, fresquíssimo, uma excelente opção para ultrapassar parte dos dias de verão intenso. Ainda para mais pode-se banhar nas suas águas.
A caracterizá-la, o acidente geológico que constitui a queda de água de cerca de 70 metros, distribuida em várias plataformas. A cascata vai caindo desde lá de cima até um espaço onde a água é pouco mais do que congelante, protegida que está pelas árvores. Subindo as escadas – em xisto, nem sempre inteiro ou completamente seguro – descobre-se a cascata nos seus vários níveis. A cada “andar” uma pequena piscina artifical. No último “andar”, só para aqueles com mais fôlego para subir degraus, um verdadeiro ninho para os namorados. Desculpa lá, ó casalinho, se vos interrompi algumas coisa!

Pelos caminhos da Fraga vamo-nos deparando com algumas pequenas construções – todas elas em xisto. A maior delas, e talvez em melhores condições, possui um alpendre cacheado de videiras com as suas uvas a cairem-nos pelos ombros. Um mimo.
Por aqui, o silêncio apenas é interrompido pelo diálogo (ou monólogo) dos bichos que por ali andam e pelo passar da água da ribeira ou o cair da mesma água pela cascata.


A Mata da Margaraça

A Mata da Margaraça, uns kms antes da Fraga da Pena para quem vem do Piodão, o contrário para quem vem de Arganil ou Coja, ocupa parte da vertente norte da denominada Serra da Picota e, diz-nos o seu centro de acolhimento, é um resíduo do que foi um dos mais opulentos maciços florestais das Beiras.
Da partida do centro de acolhimento e de interpretação – em xito, pois claro –, na qual se prevê, igualmente, a instalação de um núcleo museológico, são possíveis vários cenários para explorar a Mata, uns mais longos outros para quem ali vai de fugida. São inúmeros os caminhos que poderemos explorar, muitos dos quais atravessados por ribeiras.

O seu coberto vegetal é abundante, exuberante e, em parte, raro. Carvalho e castanheiro, medronheiros, folhados, azereiros e ulmeiros. Por toda esta riqueza vegetal, a Mata da Margaraça está incluída na rede europeia de reservas biogenéticas. Actualmente a Mata é propriedade do ICN.
Nas suas imediações existem escassas e pouco habitadas povoações. Ainda assim, vê-se que estas terras atraiam os agricultores, pelas quelhadas que vão povoando a paisagem que nos leva até à Mata (plataformas sustidas por pedras de xisto destinadas a conter a terra das encostas), e pelas levadas de água de rega.
A Mata propriamente dita é um contraste com a paisagem que a circunda, motivada pela aridez dos pinheiros que resistiram ao fogo impiedoso.
A sua fauna é também variada. Felizmente que não vi nenhum bicho raro, pois se qualquer insecto me deixa em transe... Não vi, ou fiz por não ver, nem javali, nem geneta. Nem coruja-do-mato, nem gavião, nem açor. Nem salamandra-de-cauda-comprida, nem lagarto-de-água. Ufa!