quarta-feira, abril 02, 2008

Elvas



Oh Elvas oh Elvas, Badajoz à vista, sou contrabandista, trá lá lá…
Como poucas, Elvas ganhou direito a constar do cancioneiro nacional.
Como muitas, eu sou uma daquelas que, previsivelmente, quando ouve a palavra “Elvas” é quase incapaz de instintivamente não soltar aquela musiquinha do muito estimado (a sério) Paco Bandeira.
Aqui vai a letra completa:

«Eu nasci no Alentejo
À beira do Guadiana
Sinto orgulho quando vejo
A paisagem Alentejana!

Ó Elvas, ó Elvas
Badajoz à vista.
Sou contrabandista
De amor e saudade
Transporto no peito
A minha cidade.

Uma malta da cidade
Chamou-me de provinciano
Eu tenho grande vaidade
De ter nascido alentejano!»

Elvas continua no Alentejo, à beira do Guadiana.
Badajoz está cada vez mais à vista e mais perto, graças às estradas milagrosas que nos põem de Lisboa a Espanha em menos de 2 horas.
Os contrabandistas, esses, perderam a vez.
E, hoje, os caramelos não têm mais graça e são os espanhóis que invadem Elvas. Elvas e não só, ainda para mais em se tratando da semana santa.
Quanto ao provincianismo, e apesar da muito discutida caracterização deste termo, poderá algum cidadão elvense que cresça numa cidade com o extenso – em quantidade e qualidade – património monumental que Elvas possui ser provinciano?
E nem vale a pena argumentar que o melhor desse património teve a sua glória entre os séculos XVI e XVIII, que o recente Museu Arte Contemporânea de Elvas (MACE), com a colecção de António Cachola, está aí para comprovar mais um esforço de colocar o Alentejo na rota da modernidade no que ao património cultural diz respeito.

E, depois, temos o seu centro histórico, que, segundo o mais do que autorizado José Hermano Saraiva, “poucas cidades portuguesas têm um centro histórico tão antigo e tão autêntico”.
E cuidado, acrescento eu.


Se tivesse que escolher uma cor para identificar este centro de Elvas escolheria o amarelo – branco à parte, pois esse domina todo o Alentejo. O casario parece encontrar-se bem conservado, por entre as ruas estreitas, e pelo menos uma risca amarela, um friso amarelo que seja, está presente em muitos dos edifícios.



O desenvolvimento de Elvas aconteceu muito por culpa da sua posição geográfica, bem junto à fronteira com Espanha. Foi a 2.ª no Alentejo a ser elevada a cidade, logo em 1513 (a 1.ª foi Évora, ainda hoje a mais importante cidade alentejana). Antes disso, porém, já havia sido ocupada pelos romanos, árabes e, em 1228, sob a batuta de D. Sancho II, pelos cristãos do Reino de Portugal.

A presença romana e árabe são, aliás, ainda hoje notadas pelas influências que deixaram no Castelo, instalado lá no alto, como não podia deixar de ser, proporcionando hoje uma vista fantástica da planície alentejana e do emaranhado confuso de telhados das casas elvenses.



Elvas é conhecida como a cidade fortaleza.
As muralhas foram-se estendendo do castelo e da alcáçova de forma a abranger grande parte da urbe que chegou aos nossos dias. Para além desta fortificação urbana, e mais uma vez motivada pela posição geográfica da cidade e no sentido de a proteger, Elvas viu crescer na entrada sul o Forte de Santa Luzia (construído entre 1641 – logo a seguir à restauração – e 1687) e na entrada norte o soberbo Forte da Graça (cuja construção teve inicio em 1763).



Vale a pena um passeio sem demoras pelo centro dentro das muralhas de Elvas, fazendo paragens mais atentas pelo MACE (instalado num bonito edifício que foi outrora o Hospital da Misericórdia, acolhe hoje obras de alguns dos nossos grandes nomes da arte contemporânea, incluindo Joana Vasconcelos com o seu Wash and Go, meias e mais meias a imitarem os rolos para lavar os automóveis, mais uma prova da sua imaginação e boa disposição) e pela Igreja de Nossa Senhora dos Aflitos ou da Consolação ou das Domínicas (tantos nomes pela qual é conhecida podem servir para nos baralhar, mas não há nada que enganar: um pouco acima da Sé, damos de caras com uma pequena capela do século XVI com um interior surpreendente – uma bonita cúpula sobre o altar e ricos azulejos decorativos).

E depois, já fora das muralhas, ficam então os grandes ex-libris de Elvas: o Aqueduto da Amoreira, o Forte de Santa Luzia e o Forte de Nossa Senhora da Graça, a merecerem post autónomo.