sábado, outubro 18, 2008

Ha Long Bay, o Sonho

Ha Long Bay, inscrita na lista da Unesco como património mundial da humanidade, é tudo paisagem natural.
Espectacular, fantasioso, misterioso, bizarro, surreal, irreal, escultural, artístico, e por aí vai. Tudo palavras estimulantes mas, ao mesmo tempo, comuns e fáceis que não conseguem traduzir verdadeiramente o cenário que tomamos a nossa frente, à nossa volta, dentro de nós. Puro deslumbre harmonioso. De cortar a respiração.
E que cenário assim tão grandioso é este?



São milhares de ilhas e montes de calcário, pejados de vegetação, com caves enormes e prainhas acolhedoras, que emergem imperialmente das águas de cor de esmeralda do Golfo de Tonkin, no norte do Vietname, a cerca de 3 horas de camioneta de Hanói.
Esta colecção de pináculos (houve quem contasse cerca de 1969 ilhas, em 1553 Km2, ou “apenas” 775 ilhas nos 434 Km2 da área considerada património mundial), tem-nos com vários tamanhos e formas. Aliás, um dos passatempos mais em alta é o de tentar adivinhar qual o objecto que melhor representará aquelas silhuetas que vemos à nossa frente: “olha, uma tartaruga!”



Outras explicações são necessárias.
Este local tem uma idade tectónica de cerca de 250 a 280 milhões de anos e é o resultado de um processo de deriva dos continentes que com a erosão e a acção do vento criou o cenário que chegou aos dias de hoje.
Mas, para além desta explicação oficial e geofísica, existem outras, baseadas nas mais diversas lendas.
Conta-nos uma delas que o fenómeno a que assistimos em Halong teria sido criado por um dragão que vivia nas montanhas e que ao descer para a costa, à medida que a sua cauda ia sacudindo, fendas eram abertas nos vales, e quando o dito dragão mergulhou mar adentro, tudo o que ficou para trás encheu-se de água, ficando apenas visíveis os pináculos.
Outra lenda diz-nos que, na luta contra os invasores, um dragão desatou a cuspir fogo e que desse fogo surgiram cinzas que se transformaram nas ilhas com os pináculos curiosos que vemos hoje.
Uma outra lenda ainda fala-nos de dragões a cuspir pérolas que emergiram do mar para se tornarem ilhas, tendo os invasores contra elas chocado com os seus barcos, daí resultando inúmeros cacos que formam hoje os inúmeros pináculos.
Comum a todas estas lendas, eis-nos o dragão. Certo, certo, temos que Ha Long significa “onde o dragão desce para o mar”.



Para navegar pelas águas de Halong Bay basta chegar a Halong City e escolher um dos milhares barcos à disposição dos turistas – este é, aliás, o local mais visitado em todo o Vietname.
Viagem de 1, 2, 3 dias, para todos os gostos e feitios e, principalmente, para todas as bolsas.
Nós vínhamos já desde Hanói com tudo tratado para 2 dias, com dormida no barco, com capacidade para 18 pessoas, fora a tripulação. Éramos 5 (!). Ou seja, com muita facilidade o barco era todo nosso.
Do deck dava para entender porque estávamos tão poucos – umas quantas dezenas de barcos navegavam lado a lado connosco, alguns deles também à larga.
Pelos vistos, ao contrário do que se faz em muitas ocasiões, aqui as agências não se juntam para minimizar os custos (até porque a maioria dos barcos eram iguaizinhos e da mesma companhia). A estupidez e ignorância maior é que aqui os custos não são apenas monetários, pois o custo ambiental e ecológico dispara com tantos motores a agredirem o ecossistema deste sítio que pretende – e está bem na corrida dos nomeados – a entrada na lista das 7 Maravilhas Naturais do Mundo.
No entanto, sem hipocrisias, não me perturbei com esta ideia enquanto me encharcava e pingava de suor deitadinha a contemplar a paisagem. Vida mansa.
A comida servida a bordo não foi nada má – marisco e peixinho e mais os sempre presentes rolinhos vietnamitas. A este propósito, foi muito interessante registar a inquestionável superioridade lusa no que toca ao desafio de se debater com a alimentação do marisco e peixe – as 2 irmãs dinamarquesas e o solo austríaco ficaram à toa com a empreitada.



Na viagem de 2 dias (muitíssimo mal aproveitada, há que dizê-lo com frontalidade, como dizia o outro, uma vez que se entra no barco às 13:00 de um dia e se deixa o mesmo barco às 11:30 do outro dia), para além de navegarmos pela baia entre as ilhas e montes, visitámos umas caves imensas e inacreditáveis numa das ilhas – Hang Sung Sot.



Numa outra descobrimos uma lagoa enorme, depois de uma entrada esculpida na rocha que parecia ter sido moldada exactamente para este efeito.



Na ilha de Titop parámos um pouco na sua praia para uma banhoca nas águas cor de esmeralda de Ha Long e subir ao seu topo – 7 minutos exactos sem parar de escalar degraus para alcançar o prémio de uma vista fabulosa.



No fim do dia, depois de uns mergulhos desde o último andar do barco (orgulho-me de referir que fui a única que não o fez, por uma questão de princípio, já que sou contra as alforrecas que inundam as águas daqui por serem uma cópia bem disfarçada de sacos de plástico que, como todos sabem, infectam o nosso planeta – nada que ver com alturas, portanto), tivemos direito ao por do sol.





E haverão habitantes em Halong Bay? A resposta é sim. Originalmente havia apenas uma vila de pescadores, mas hoje existem cerca de 10. São 1600 pessoas que moram, como não podia deixar de ser, em casas flutuantes (como no Mekong) e que vivem da pesca, da aquacultura e, surpresa, do comércio.