segunda-feira, agosto 17, 2009

Glaciares e Mais Glaciares



Mýrdalsjokull, Sólheimajokull, Svinafellsjokull, Skaftafellsjokull, Vatnajokull.
O que liga todas estas palavras? Para além da dificuldade em pronunciá-las (e decorá-las), é mesmo a sua parte final “jokull”, ou seja, e para facilitar a coisa, simplesmente “glaciar”. Estes ficam todos no sul da Islândia, mas podemos ainda acrescentar à lista o Snaefellsjokull (o da Viagem ao Centro da Terra de Júlio Verne), no leste, o Langjokull (no vale de Kaldidalur), mais ou menos no centro e o mais perto de Reykjavik, ou o Drangajokull (o único que não vislumbrámos), bem a norte, nos Fiordes Orientais.
Traçado o cenário, é bom de ver que o difícil é não depararmos com um glaciar na Islândia, afinal de contas eles cobrem cerca de 15% do país e têm influência na paisagem islandesa que nos chegou até hoje, nomeadamente na criação dos vales glaciares e dos fiordes. Numa viagem pelo sul, então, eles vão-nos acompanhando na nossa jornada de carro ao longo da Ring Road, muitas vezes a poucos metros de distância. Mesmo com toda esta familiaridade com o branco vivo do gelo, não nos cansamos de os ver e, pode dizer-se, o auge é a chegada à Jokulsárlón (lón=lagoa).





Nesta lagoa vão boiando calmamente os icebergs que se vão desprendendo a todo o momento dos glaciares ali por perto, para depois de derreterem seguirem a sua viagem rumo ao mar. Estes pedaços de gelo, por entre os quais vão nadando deliciosas focas, tomam formas únicas, custa até a acreditar que alguns não tenham sido propositadamente esculpidos por mãos humanas. A lagoa é verdadeiramente fotogénica, só assim se justifica que com o dia horroroso que se vivia quando por lá passámos as fotos ainda consigam mostrar a beleza do lugar. As cores claríssimas dos icebergs ajudam, é certo.

Quanto ao Vatnajokull é que não houve ajuda possível. Mal dava para ver qualquer pessoa a mais de um metro do nosso nariz, mas ainda assim insistimos em metermo-nos numa viagem organizada e subimos até ao centro de apoio (só os jipes passam nesta estrada) para um passeio de skidoo (a mota que anda nos glaciares). Justificação: marcar presença no maior glaciar da Islândia (e o 2.º maior em área da Europa), o 3.º maior ”ice cap” do mundo ou o 1.º maior sem contar com os existentes nos pólos (um “ice cap” é uma massa de gelo perpétua no topo de uma montanha).
Para se compreender melhor a dimensão deste glaciar resuma-se a coisa ao seguinte: ocupa 8% de todo o território islandês, distribuído por belos 8100 km2 – assim o imaginamos porque o nevoeiro não permitiu confirmar. Logo, o passeio de mota pelo topo do Vatnajokull serviu apenas para gastar um bom dinheirão para andar numa mota sem rodas, antes com um género de esquis (o skidoo).









Melhor empregue foi o $ e o tempo pela aventura no glaciar Svinafellsjokull. Depois de devidamente equipadas, com crapons e martelinho para agarrar bem o gelo, partimos em excursão organizada por uma caminhada naquele glaciar, melhor opção do que o Sólheimajokull (uma língua do Mýrdalsjokull) por este último ser mais escuro, isto é, “sujo”, conforme conselho da portuguesinha da Icelandic Mountain Guides. (Curioso como pode não se encontrar turistas portugueses nos cantos mais remotos do mundo, mas pelo menos um trabalhador encontra-se sempre)
Ainda assim, o Svinafellsjokull também é escuro em muitas das partes onde os iniciantes fazem a sua caminhada. Apesar de retirar algum encanto ao azul intenso que normalmente nos vem à ideia quando pensamos em glaciar, esta situação é absolutamente normal e deve-se aos sedimentos que se vão soltando da terra quando o glaciar a invade. Ao retrair-se traz consigo estes sedimentos. Todavia, encontramos ainda muitas crevasses (fendas naturais que são abertas nos glaciares), mais ou menos largas, mais ou menos profundas, mais ou menos de um azul cristalino que nos faz sonhar. Ao mesmo tempo, este é um dos grandes perigos para quem se aventura em andar por cima do glaciar, poder escorregar e cair num buraco do qual se poderá não conseguir sair. E com tantos glaciares mesmo ali juntinho à estrada, sem esforço de maior para os alcançar, há que ter cuidados redobrados com as aventuras. Sair da estrada rumo à beira do glaciar, sim, mas não cair na tentação de o subir sem equipamento e acompanhamento adequado. O que até nem é muito difícil pois só vê-los ali de perto já nos enche as medidas.