domingo, setembro 03, 2017

Terraços de Longji

E, enfim, para o final da viagem pelo sul da China que se pretendia rural calhou-nos uma vaga ideia de ruralidade e de remoto. 
Os terraços de arroz de Longji estão a 90 km de autocarro de Guilin mas a todo um mundo de distância. São mais de duas horas num caminho maioritariamente ziguezagueante e de tirar o fôlego; pelas paisagens fabulosas, sim, mas também pelas curvas apertadas numa estrada estreita que deixa ver as ribanceiras demasiado próximas. 


Esta área ficou completamente fora dos radares do turismo até aos anos 90, altura em que fotografias dos seus terraços atraíram as atenções do mundo. 
O sítio é extremamente fotogénico, mas é igualmente uma ode ao espírito criador e ao engenho do Homem. Ao longo de cerca de 60 km os chineses têm hoje, num processo que teve o seu início  no século XIII, durante a dinastia Yuan, um complexo e completo método de irrigação que faz um óptimo uso da escassa área arável e deste declivoso terreno montanhoso. E, assim, conseguem plantar arroz num local muito improvável.


Longji significa literalmente "espinha do dragão". É isso mesmo que o recorte dos terraços alcandorados na montanha faz lembrar. A imaginação dos chineses para nomes sugestivos é um mimo e aqui funciona na perfeição. Eis alguns dos nomes dos lugares a visitar: "música do paraíso", "mil camadas para o céu", "nove dragões e cinco tigres".

Normalmente, quem visita os terraços de Longji opta por pernoitar numa de três aldeias: Ping'an, Dazhai ou Tiantou. 
Ficámos com esta última. 


Saímos no autocarro em Dazhai e caminhamos cerca de meia-hora até ao nosso inn, logo começando a sentir a força do cenário. Dependendo da época do ano em que se visita estes terraços de arroz, as cores serão diferentes. A seguir à época de chuva de Maio os terraços estão verdes e, por isso, Julho é uma das melhores alturas para se visitar. Claro que os fã das tonalidades amarelas não concordarão e os amantes do gelo ainda menos. De qualquer forma, esta época é preciosa para se entender a importância da água na dinâmica da cultura do arroz. A água vai escorrendo pelos vários andares e as plataformas têm de estar permanentemente com água em abundância. Caminhamos tão perto dos terraços, mesmo dentro dos terraços - com cuidado para não estragar o trabalho dos agricultores - que nos apercebemos destes pormenores.





O arroz e a forma como é cultivado em terraços é rei e um monumento que vale bem a pena qualquer desvio na viagem. Mas a paisagem que o acompanha é deslumbrante. Existem diversos pontos de observação e quanto mais elevados mais soberbo o ponto de vista que abraça toda a região. 
O turismo não abunda por aqui, pelo que é fácil sentirmo-nos em sossego e em paz com a vida num lugar como este. Fosse tudo tão simples assim.






Só há três coisas a fazer por aqui: caminhar, sentar nesta espécie de anfiteatros e tirar fotografias. E, à noite, uma quarta: olhar as estrelas. Tantas e tão belas, a provar que na China o céu também ainda pode ser limpo, limpo.
A aldeia de Tiantou é apenas um ponto na paisagem, perdida nos socalcos montanhosos. Está preparada para receber os turistas e recebe-os com simpatia. 



A aldeia de Dazhai não é muito diferente, mas é maior e com mais infraestruturas. Em ambas a arquitectura típica são as casas de madeira clara com telhados escuros. Ruas não existem propriamente, antes caminhos. As mulheres das aldeias possuem rostos duros e marcados, de idade indefinida. 30 anos ou 60 anos? Toda uma vida a separá-las, mas nunca saberemos. Curiosamente, são elas que desempenham o papel de carregar às costas as malas e outra carga dos turistas "cansados". Não os homens da aldeia.