quinta-feira, janeiro 08, 2015

Niterói | No Encalço de Niemeyer

Programámos o dia para fazer, como os brasileiros dizem, um bate-volta a Niterói. É como quem diz, ir e vir no mesmo dia ao outro lado, o nascente, da Baía de Guanabara.
Niterói é para o Rio de Janeiro o equivalente a Almada para Lisboa. É uma cidade da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, está também ligada por uma ponte, a Ponte de Rio-Niterói, e por carreiras regulares de barco e ferrys, aqui chamados Barcas. Têm também vistas magníficas para o outro lado da Baia de Guanabara, para a cidade do Rio de Janeiro, mas tem igualmente muitos outros motivos de visita.
Aproveitámos a ida ao outro lado da Baía para fazer uma manhã de praia num dos locais de melhores ondas da região do Rio de Janeiro, Itacoatiara. Como costume nas minhas incursões às praias mais famosas do mundo para a prática de surf o mar estava completamente piscina. Nem uma onda para contar história. Contudo, o visual da praia valeu a deslocação até Itacoatiara. Ainda que o meu imaginário deste beach break poderoso vá continuar ligado às reportagens da revista Fluir.
Como um dos grandes objectivos do dia era ir até ao Museu de Arte Contemporânea (MAC) de Niterói, obra de Oscar Niemeyer, prosseguimos de Itacoatiara para Niterói, nomeadamente para a ponta norte da praia da Icaraí, junto ao Mirante de Boa Viagem.
É aqui, numa localização excepcional, com vistas magníficas para Icaraí, Charitas, Pão de Açúcar e outros locais do Rio de Janeiro, que se situa o MAC e as suas linhas futuristicas.
O edifício parece um ovni acabado de aterrar, mais ainda pela sua localização, na extremidade de um promontório.
O edifício, com as suas linhas sinuosas e os seus pormenores, seduz.
Contudo, não deixo de lamentar a pouca dignidade de alguns aspectos, nomeadamente no interior, como a área de recepção e bilheteira, que é demasiado acanhada e improvisada. Destaque negativo também para, no dia que visitámos, grande parte do espaço expositivo estar inacessível para montagem de uma nova exposição, fazendo com que não tenha sido possível fruir praticamente nada do interior do edifício, já que a área disponível, com uma exposição, de Lígia Clark, que não ficará na memória, era muito diminuta. Um projecto desta envergadura merece ser substanciado com uma programação mais cuidada.
Ainda no interior, num nível abaixo, foi possível aceder ao restaurante. Pormenores como a altura das janelas à medida de quem está sentado lembram-nos da genialidade do arquitecto.
 
A partir do MAC seguimos para o centro da cidade. Com o objectivo de ver mais obras de Niemeyer, ou não fosse Niterói a segunda cidade do mundo, a seguir a Brasília, com mais obras arquitectónicas do maior nome da arquitectura brasileira.
Ao longo da orla da Baía de Guanabara encontram-se um conjunto de obras, que no global formam o Caminho de Niemeyer.
O caminho é composto por sete equipamentos. A seguir ao MAC, na orla, cruzámo-nos com o Museu Petrobras de Cinema. Mais uma vez a dignidade do projecto, aqui de uma forma mais gravosa, é posta em causa. Depois de concluídas as obras em 2012, por um litígio quanto à gestão, a prefeitura abandonou o projecto cultural e o edifício está abandonado e com sinais claros de degradação. Lamentável.
Continuando, passamos pela Praça JK, também projecto de Niemeyer. Aqui deparámo-nos com uma grande marquise, semelhante na forma à do Ibirapuera, que liga os dois extremos da praça, localizada na enseada adjacente à estação das barcas, shopping center e terminal de ônibus.
Chegamos ao Aterro da Praia Grande. Mais precisamente a uma grande praça, conhecida como a Praça Popular de Niterói, localizada a norte da estação fluvial do centro de Niterói e do Terminal Rodoviário e pontilhada por diversos edifícios projectos de Niemeyer. Encontramos o Centro de Memória Roberto Silveira, que abriga um importante acervo histórico e iconográfico de Niterói.
No Aterro encontramos também o Teatro Popular Oscar Niemeyer. O acesso ao edifício é efectuado por uma rampa sinuosa, tal como a estrutura do edifício, características do arquitecto.
O edifício tem um palco reversível, que dá para o exterior, semelhante ao Auditório de Ibirapuera, que permite espectáculos ao ar livre.
A fachada do lado poente é envidraçada, permitindo a partir do interior do auditório fruir da vista para a Baía da Guanabara.
A face oposta do edifício é composto azulejos amarelos e pinturas do arquitecto. No piso superior o túnel que faz a transição entre as duas fachadas apresenta também uma composição de azulejos, brancos, com pinturas também de Niemeyer.
No vazado do edifício encontra-se um painel com a cronologia das principais obras de Niemeyer e existe um café com esplanada.
A Fundação Oscar Niemeyer é outra obra arquitectónica que se encontra no Aterro da Praia Grande. Trata-se de um centro de informação e pesquisa ligado à arquitectura, urbanismo, design e artes plásticas.
Para a praça foram projectados mais edifícios, que até à data ainda não chegaram a ser concluídos.
Podíamos, de regresso ao Rio, ter atravessado a Baía de Guanabara a partir do Terminal de Barcas de Charitas. Não o fizemos. Fomos antes pela estação da Praça Arariboia. Perdemos assim outra obra de Niemeyer.
Mas como ficar triste depois de todo o desfrute arquitectónico das outras obras e deste visual à despedida?