quinta-feira, outubro 12, 2017

Parque Natural de Montesinho


O Parque Natural de Montesinho, a norte dos concelhos de Bragança e Vinhais, e quase do mais a norte de Portugal que podemos ter, bem junto à fronteira com Espanha, é um lugar remoto e, talvez por isso, surpreendente. 

Surpreendente pelo seu isolamento, pela sua serenidade, pela sua paisagem, pela sua diversidade num espaço relativamente pequeno (embora com 75 mil hectares seja um dos maiores parques naturais do nosso país) e, sobretudo, pela vida das suas gentes. As práticas comunitárias são aqui um modo de vida.

O Parque de Montesinho fica às portas de Bragança e a melhor (única?) forma de o conhecer é saindo a conduzir de carro pelas suas estradas que atravessam montanhas, vales, planaltos, pontes sobre rios e aldeias. 


A primeira aldeia a que chegámos logo de manhã foi Gimonde, cedo de mais para confirmar a fama de um dos seus restaurantes de caça, mas ideal para atestar toda a sua magnificência cênica. Aqui os rios Sabor e de Onor encontram-se e correm juntos sob as elegantes pontes da aldeia. 






De Gimonde a Guadramil seria apenas cerca de meia hora de viagem passando por algumas outras aldeias não se desse o caso de sermos obrigados a conduzir devagar e até pararmos para entender o porquê de a paisagem ir mudando tantas vezes de humor.



À chegada a Guadramil vêem-se algumas pessoas a cuidar das terras. Em conversa com alguns dos poucos locais que restam eles negam, dizem que são já poucos, mas para quem vem da Beira Interior penso que as diferenças são notórias. Aqui ainda há vida de campo. Mas são, efectivamente, poucos os seus habitantes. Não há quem não tenha os filhos no Porto, em Lisboa, em França (França país, não a aldeia vizinha). E não há quem não se queixe da vida e da “décima”, como chamam ao IMI por aqui - nem sequer se lhe referem como contribuição autárquica. 





Guadramil é uma aldeia vizinha da mais conhecida Rio de Onor e tal como esta mantém as suas casas de arquitectura popular em xisto, com paredes grossas para que não se sinta o frio (não é à toa que chamam a esta a Terra Fria, cortesia dos seus nove meses de inverno), embora bem menos conservadas. 


Rio de Onor é a estrela da companhia do Parque de Montesinho. 
Merecida. 







A aldeia tem os seus edifícios muito bem cuidados e conservados, com casas em xisto, telhados em lousa e varandins em madeira. 
Mas é a ideia de aldeia comunitária e a prática que ainda hoje faz dela que torna Rio de Onor um caso especial. O isolamento destas povoações, e de Rio de Onor em concreto, levou a que as suas gentes se unissem e desenvolvessem relações comunitárias. Os seus habitantes partilham a terra, partilham os bens, partilham as tarefas e todos cuidam da horta.





Caminhando pelas suas ruas tanto podemos testemunhar a palha como os legumes deixados por ali como um rebanho ou os cavalos em trânsito.


Próxima paragem: Montesinho, a aldeia que dá o nome ao Parque. A 1030 metros de altitude, esta é a povoação mais alta da Serra e uma das mais altas de Portugal. Para lá chegarmos temos de passar França, não seguir para Espanha e desviar antes de Portelo. Subimos a bom subir e eis que nos deparamos com outra aldeia absolutamente remota e bem conservada, cheia de opções de turismo rural.






Os castanheiros por aqui estavam carregados e tão verdes que a castanha este ano só pode prometer. A aldeia de Montesinho é uma boa opção para uma paragem para almoço. 


Voltando para trás no caminho, até Moimenta é um bom esticão, mas sempre por paisagens agradáveis.



Antes, porém, uma paragem na Praia Fluvial de Fresulfe para espreitar o Rio Tuela, um dos muitos que riscam a azul o Parque. Aqui o rio é sereno e convida a um mergulho. Nesta região, perto de Dine, encontramos alguns exemplos de fornos de cal e moinhos, mais um exemplo da vida de campo e comunitária de Montesinho.








A estrada até Moimenta é provavelmente o pedaço mais bonito e surpreendente em termos paisagísticos do Parque de Montesinho. Até subirmos a cerca de 900 metros de altitude vamos vendo desfilar uns afloramentos rochosos ora de xisto ora de quartzo ora de granito que irrompem nos montes com cabeços verdejantes ao qual logo se sucedem vales onde depois de uma descida íngreme pode surgir uma ponte sobre um rio que parecia escondido.


As vistas que se sucedem são fantásticas.






Pinheiro Novo, a pequena povoação que se segue, é um dos melhores exemplos da arquitectura popular de Montesinho. Aqui encontramos a igreja com a típica torre sineira da região, mas, sobretudo, um curioso cruzeiro bifronte e uma casa senhorial e casas populares em granito e, mais curioso ainda, a sua cobertura: foi adoptada uma solução de compromisso com o uso de xisto e telha a meias num mesmo edifício.



Até ao regresso a Bragança, e antes de uma passagem por Vinhais, tempo ainda para uma espreitadela na Praia Fluvial do Rabaçal e mais uma olhada ao rio Tuela, desta vez mais selvagem.

Neste passeio pelo Parque de Montesinho seguimos sem encontrar a sua fauna típica, como os lobos, javalis (nem sequer no prato) ou aves, nem encontramos já vestígios do contrabando de outrora nesta que continua a ser uma zona de fronteira, embora nos dias de hoje nem nos apercebamos que a passamos.
Apesar de vermos os bois a pastar e sentirmos o cheiro dos porcos, é mais fácil provar a posta mirandesa e o fumeiro do porco bísaro em Bragança ou Vinhais. E assim a experiência em Montesinho torna-se perfeita.