quarta-feira, novembro 15, 2006

Toca a Bazar

O Grande Bazar é descrito e internacionalmente reconhecido como “o” local a não perder em Istambul. Que a visita à cidade não ficará completa sem uma paragem aqui. Que não conheceremos a alma turca sem aqui pararmos. Que é impossível não perder a cabeça nas mais de 58 ruas e 4000 lojas deste mercado coberto, um dos maiores do mundo, mas fácil de perder o peso da carteira.
Bom… perder a cabeça, não sei, mas que é muito fácil desorientarmo-nos por lá, isso é verdade. Nem adianta muito que o Grande Bazar esteja mais ou menos compartimentado por zonas – a da peles, a das malas, a da joalharia, a do ouro, a das pratas, a das antiguidades, a dos adereços, candeerinhos e roupinha baratucha e, talvez a mais famosa, a das carpetes. As suas ruas parecem não ter uma orientação lógica, são becos sem saída ou com saída para alguma loja onde já estivemos. Ou onde nos parece que já teremos estado. São todas a mesma coisa. Baralha e dá de novo. Por isso, não, para a minha carteira não foi nada fácil ficar menos pesada.
Como explicar que reservei uma manhã inteirinha – a última da viagem – para visitar e explorar o Grande Bazar e consegui sair de lá sem nada mais do que entrei? Como explicar que não consegui deslumbrar-me com quase nada do que vi? Que me saturei rápido do que me pareceu um vastíssimo centro comercial para turista ver?
Difícil? Talvez não. Basta recordar que existem outros exemplos bem melhores da cultura de comerciantes natos que os turcos carregam. As ruas que circundam o Grande Bazar, essas sim, dão-nos uma ideia autêntica do comércio em grande escala, da confusão de uma grande metrópole, onde tudo se vende, onde as mercadorias invadem os passeios, não se limitando ao confinamento das quatro paredes de uma loja de bairro. E aqui os turistas – poucos – passam despercebidos no meio das constantes idas e vindas dos turcos negociantes.

Mas bazares pela Turquia há muitos. Não tão grandes ou famosos como este – “Kapalıçarşı” em turco, com direito a página na Internet e tudo – mas, talvez, mais interessantes e marcantes. Aqui mesmo, em Istambul, e para aqueles que como eu lhes basta entrar num El Corte Inglês ou, tão só, numa Zara para ficar logo com a cabeça à roda e o corpo a estremecer com o único objectivo de encontrar a saída mais próxima, dizia, aqui em Istambul talvez seja boa ideia começar por dar um passeio ao Bazar das Cavalariças (Arasta), bem mais pequeno e de fácil orientação, com diversos exemplares de objectos que se encontram também no Grande Bazar.

Para uma exposição – para venda – de carpetes e kilims, uma ida ao Haseki Hamam, junto à Aya Sofia, é um bom ponto de partida e chegada. Ainda para mais, com esta adaptação a loja(s) de um antigo edifício de banhos consegue-se aliar estas duas ricas tradições turcas: carpetes com banhos.

Bem colado ao Grande Bazar fica o Velho Bazar dos Livros, este sim imperdível. No entanto, também não consegui comprar aqui nada, ainda que por razão diversa. As gravuras pertencentes a antigos livros são um deslumbre; as quantias que por elas pedem uma machadada no coração e um ataque aos nossos bolsos. Bem sei que é suposto serem autênticas, originais e únicas. Mas… não podiam fazer um desconto maior? Nem com o tradicional regateio lá vamos, uma vez que o preço por uma folhinha menor que um A5 não baixa muito mais do que 70 euros. A acrescer a isso vem ainda o facto de, caso queiramos mesmo adquirir alguma peça, sermos obrigados a acreditar na boa fé do vendedor que nos garante a sua autenticidade. Não obstante, vale a pena perdermo-nos pelas páginas destes livros, sejam soltas ou não.


E, para último, fica o melhor. O mais saboroso, para ser mais correcta. O Bazar das Especiarias, junto à Mesquita Nova (Yeni Cami). Que deleite! A hospitalidade turca atinge aqui o seu ponto alto. São lojas e mais lojas dedicadas não só a chás e ervas que nunca ouvíramos falar ou sequer imagináramos, mas também a doçaria tradicional turca. Saborosíssima (se arrependimento matasse não ousaria arriscar trazer apenas uma caixa cheia de docinhos). E os seus donos fazem questão de, porta sim porta sim, nos oferecerem os seus produtos para provarmos. Para além da barriga ficar plenamente satisfeita, também os olhos se encantam com o colorido das várias especiarias expostas nas bancas. E os cheiros… uma delícia. Aqui, no Bazar das Especiarias, os nossos sentidos unem-se de prazer e guardam na memória esta Turquia felizmente ainda tão pouco europeia.