segunda-feira, setembro 06, 2010

Rumo ao Norte

Seguindo os nossos planos de viagem, deixámos Cusco e fomos para o norte, com Chiclayo a ser o nosso novo poiso, mas com a arqueologia a continuar a ser senhora.
Chiclayo, só por si, tirando o mercado – um dos maiores da região – não merecerá uma viagem de propósito. Mas tem por perto aquele que é um dos mais surpreendentes museus arqueológicos: o Museo Tumbas Reales de Sipán.







Foi apenas em 1987 que um arqueólogo local deu por uns artefactos a serem vendidos num mercado que lhe chamaram a atenção e o levou até muitos mil anos atrás e às fabulosas pirâmides de tijolos de adobe que existem precisamente na zona de Chiclayo. Esteticamente o lugar está longe de ser bonito. Mas a historia e o conhecimento dos hábitos da cultura Lambayeque (= Sicán), que existiu entre os séculos VIII e XIV são para lá de interessantes. Assim, para além de Sipán encontramos também em Túcume (esta com 26 pirâmides já descobertas) as referidas pirâmides que seriam centros cerimoniais onde, brevemente contado, quando o chefe de família falecia era enterrado com os seus pertences, animais, criados e alguns membros da família. Por cima desta tumba, os familiares que sobreviviam ao senhor iriam construir a sua casa e por ai adiante. No lugar de Sipán foram encontradas diversas tumbas, incluindo a mais majestática do Senhor de Sipán que se encontra exposta no Museo Tumbas Reales de Sipán, ao lado de objectos finíssimos e lindíssimos (embora os da antecedente cultura Moche sejam os mais bonitos).







Deixando Chiclayo fomos para Trujillo em busca de mais arqueologia, quais Indiana Jones ou, já que somos meninas, quais Lara Croft´s.
Perto de Trujillo encontramos também algo semelhante às pirâmides nas Huaca del Sol e Huaca de la Luna. As imagens aqui, ainda bem conservadas após os trabalhos de restauro, são muito bonitas. Uma vez que a cultura Moche (do século I A.C. a IX D.C.) não conhecia a escrita, havia que recorrer às imagens para expressar a iconografia da sua cultura. Esta cultura era bastante forte na cerâmica, incluindo objectos cerâmicos onde se revelam práticas sexuais explícitas, hoje visíveis no Museu Rafael Larco em Lima. Como somos muito pudicas não fomos lá.







E, por fim, a representante da cultura Chimu (séculos XI a XIV), também perto de Trujillo, eis Chan Chan – em português “Sol Sol” –, a maior cidade pré-columbina da América e uma das maiores cidades de adobe no mundo. Estima-se que tenham vivido aqui 60000 habitantes ao mesmo tempo. Os edifícios são decorados, bem como os muros, e é visível pelo grande lago que os chimus já utilizavam a técnica dos canais para abastecimento de água à sua cidade. Em 1986 foi declarada património da humanidade e logo colocada também na lista do património em perigo. O que se visita hoje é apenas uma pequena parte da grande cidade que outrora existiu e que em 1471 foi conquistada pelos incas, depois saqueada pelos espanhóis e depois ainda arrasada pelas chuvadas de “el niño”.

Curioso foi ver que, se os peruanos e os descendentes dos incas em especial (muitos dos peruanos, certamente) têm alguns ressentimentos para com os espanhóis, também alguns chimus, de que é exemplo o guia que nos acompanhou, descendente desta civilização, mostram ressentimento para com os incas. Porque será que cada civilização que vem tem de deitar abaixo o que foi feito por quem já lá esteve? Talvez faça parte da cultura do Homem, comum a todas as civilizações. Nada a fazer, portanto, se não colocar mãos à obra e procurar mostrar o que cada uma das civilizações representou no mundo em tempos e que hoje, vemos, têm lugar umas ao lado das outras e, principalmente, cada uma à sua maneira, tem fortes argumentos de encantamento.