sexta-feira, março 24, 2017

David Hockney: 60 anos de Carreira

O pretexto desta viagem a Londres foi a visita à exposição temporária da Tate Britain, patente de 9 de Fevereiro a 29 de Maio, "David Hockney: 60 Years of Work".


David Hockney é considerado o maior artista britânico vivo e o mais reconhecido, com uma elevada reputação quer entre o público quer entre os críticos. Com 80 anos de idade e 60 de carreira artística, a Tate apresenta-nos por estes dias uma enorme retrospectiva da sua obra.

Uma obra plena de versatilidade, dominada à vez pelo uso da pintura, fotografia, vídeo, iPhone e iPad, escrita de ensaios de pendor artístico-filosófico, numa constante reinvenção de Hockney ao longo de todas estas décadas. Didier Ottinger titula o seu texto do catálogo da exposição como "Quando Chaplin dança com Picasso", aludindo à forma como Hockney consegue reconciliar a pintura com a tecnologia e fundir a dita pintura com o cinema. 

Poucos artistas tão completos haverá.


Conhecia algumas obras de David Hockney, em especial as suas pinturas de piscinas e as suas paisagens de Hollywood e do Grand Canyon, quase todas elas através da visualização de imagens impressas em livros. 


Vê-las ao vivo foi, no entanto, surpreendente e um prazer imensurável. Grandes telas que enchem todos os nossos sentidos, "uma orgia de cor", nas palavras de Jorge Calado no seu texto na edição de 11 de Março do Expresso, por parte de "um dos raros artistas que conseguem ser simultaneamente exuberantes e económicos".

Apesar de termos bilhete comprado com antecedência, chegámos cedo e começámos a formar fila antes da abertura da Tate. Às 10:00 em ponto entrámos e numa decisão mais do que acertada passámos directamente para a terceira sala de forma a contornar as muitas pessoas que enchiam desde logo a exposição. Quando no fim aqui voltámos foi impossível arranjar espaço para partilhar estas duas salas, quanto mais tentar uma olhada consentânea para com estas obras. Todavia, todas as restantes onze salas foram vistas à larga e demoradamente.


Foi possível captar e entender as técnicas usadas por Hockney, não apenas nas linhas e curvas das suas piscinas, mas sobretudo nas colagens fotográficas. Pearblossom Hwy é uma das suas obras mais famosas e como nunca a tinha visto ao vivo sempre pensei que fosse uma pintura. Nada mais errado. No princípio dos anos 80 Hockney criou uma nova técnica de colagem de fotografias. Considerando que a fotografia mais não é do que o ponto de vista de um Ciclope paralisado numa fracção de segundo, o que a impede de representar o mundo e a experiência de viver no mundo, Hockney decidiu-se a juntar diversas polaroids, resultando do seu conjunto uma imagem dinâmica que reúne todas elas.
Eis um exemplo com "Gregory Swimming"


David Hockney nasceu no Yorkshire, mas fixou-se na Califórnia nos anos sessenta. Regressou à sua terra natal já neste milénio, para acabar por voltar novamente para a Califórnia. Estas duas regiões são marcantes na sua obra e grandes e intensas pinturas mostram-nos o porquê. A zona dos Wolds, no Yorkshire natal, foi ainda inspiração para uma interessante experiência em vídeo. Através da instalação de uma câmara no exterior de um carro, Hockney realizou o mesmo caminho de estrada por um bosque nas quatro diferentes estações do ano.

A minha maior curiosidade era, porém, ver como David Hockney realizava as suas pinturas em IPad. Pois é. Este é um dos caminhos que tem seguido nos últimos anos. Mais uma nova técnica, mais uma nova surpresa, mais uma demonstração da sua versatilidade. 

No fundo, o percurso de David Hockney reúne coerentemente as suas diversas experiências motivadas pelo desejo de realizar imagens que representem a forma como nós observamos e compreendemos o mundo.