terça-feira, março 14, 2017

Sky Garden

Desde Janeiro de 2015 que Londres possui o auto designado "mais alto jardim público".
O Sky Garden fica no 35.º andar do 20 Fenchurch Street, edifício mais conhecido como Walkie Talkie, e ocupa o espaço de 3 andares.


A ideia parecia ter tudo para ser consensual: um jardim público gratuito com pretensão a tornar-se a versão moderna dos Jardins Suspensos da Babilónia, no qual qualquer indivíduo pudesse obter uma vista de 360 graus de Londres. 

A vista de 360 graus está lá, isso é inegável. Mas as críticas não tardaram a surgir.

O 20 Fenchurch Street, da autoria do arquitecto Rafael Viñoly, é o quinto edifício mais alto da City e quando viu a sua construção concluída em 2014 já tinha o seu histórico de polémicas. Desde logo o facto de ter sido construído num lugar onde não havia tradição de edifícios em altura. A forma em curva de vidro usado na sua fachada também não ajudou quando foi responsável por derreter uns quantos carros estacionados na rua devido a uma acidental conjugação de vidro e raios solares. Não estranha que logo houvesse quem sugerisse que o lugar seria bom para fritar ovos. Pior, as teorias da conspiração não tardaram em insinuar que a ideia de oferecer um jardim público nos últimos andares mais não era do que uma forma de amansar os protestos e afastar a má fama do edifício. De caminho contestavam também a natureza pública do jardim, uma vez que qualquer visita está sujeita a prévia reserva (disponível três semanas antes no site do Sky Garden e com lugares limitados) e a sua entrada impõe, para além de uma série de deveres, uma revista apertada a lembrar aquela que nos dias de hoje é efectuada nos aeroportos. A comparação com um aeroporto não pára por aqui, pois há quem veja semelhanças entre o lobby destes (ou dos hotéis) com o que nos espera à saída do elevador no 35.° andar: um bar, mesas e sofás.

Dizia que a vista de 360 graus estava lá e isso era inegável. Assim como não podemos negar que essa vista é esmagadora e fabulosa.


Chegados ao 35.° depois de uma rápida subida no elevador após a tal revista das malas, logo nos aparece o Shard bem de frente. Existe uma varanda ao ar livre mas devido ao tempo que se fazia sentir esta estava fechada. 



Com a plataforma exterior fechada podemos sentir-nos como se estivéssemos numa gaiola, mas o melhor é mesmo aproveitar o que o lugar nos tem para oferecer para além dos bares e restaurantes. 
E o que nos tem para oferecer este jardim público perto do céu é um género de jogo onde tentamos identificar todos os lugares icónicos de Londres e mais além. O Shard, está dito, mas também a Tate, a Catedral de São Paulo, o Barbican, a Tower Bridge, a Canary Wharf lá bem ao fundo e o Tâmisa. O Pepino e o seu companheiro Ralador de Queijo estão ali tão perto que quase que parece que os podemos tocar. 



O clima em Londres é um tópico que merece um capítulo só para si. A história da nossa subida ao Sky Garden tem tudo a ver com esse tópico. Quando chegamos ao 35.° andar chovia e o tempo estava feio e escuro. Passada uma dezena de minutos a luz dentro da gaiola de vidro era já completamente diferente quando o sol decidiu abrir e começar a raiar de tal forma que tivemos o prémio de ver o Gherkin com um irreal arco-íris nas suas costas. Melhor. Esse arco-íris tinha um arco tão pronunciado e enorme que ia da Canary Wharf até ao Gherkin. 



A vegetação deste singular jardim (flores exóticas e espécies mediterrâneas e sul africanas), essa, está bom de ver que ficou completamente em segundo plano. A vista é que é soberana aqui. 

Polémicas de lado, o que me parece é que não interessa ter que reservar com antecedência, não interessa a revista, não interessa se há muita vegetação, não interessa se temos de levar com bares e restaurantes. O que interessa é que a vista é gratuita e está ali para qualquer um que se disponha a tentar ir lá conferi-la.