sexta-feira, março 10, 2017

Livrarias de Londres

Londres não terá ficado imune à crise que leva nos dias de hoje ao fecho de mais e mais livrarias. 
Todavia, muitas livrarias históricas se mantêm, muitas outras vão sobrevivendo e, sobretudo, a diversidade e originalidade da sua oferta é cativante. O efeito avassalador que as lojas - de moda, design, qualquer uma - de Londres tem nas outras pessoas, assim é o que as livrarias - lojas, também - produz em mim. 



Este périplo por algumas das mais bonitas bookshops londrinas vai começar por um lugar que equivocadamente nós, falantes da língua portuguesa, poderíamos pensar ser uma livraria: a British Library. Mas não, library significa biblioteca. Construída em 1998, a arquitectura exterior do edifício da Biblioteca Britânica não será uma unanimidade, mas o seu interior é de uma qualidade inequívoca e logo a seguir ao lobby o deslumbre é absoluto: uma coluna enorme em vidro onde invejamos as encadernações valiosas dos mais de 60 000 volumes da colecção de George III. Na Biblioteca, uma das maiores do mundo, para além de salas de leitura, a par das preciosas Magna Carta e Bíblia de Gutemberg podemos encontrar diversas exposições não apenas relativas a livros mas também a mapas, manuscritos e selos, entre outros objectos.


Seguindo para as livrarias propriamente ditas, uma opção segura para se encontrar quase qualquer obra é a Foyles, em Charing Cross (rua com inúmeras livrarias). São cinco andares dedicados a praticamente todas as temáticas que se possa imaginar, onde não faltam espaços para nos sentarmos comodamente a folhear os livros que nos chamem a atenção. 


Stanfords, em Convent Garden, é desde 1853 uma instituição dedicada às viagens. Aqui encontramos livros, guias de viagem, cadernos de nota e mapas. Aliás, foram os mapas que estiveram na génese da fundação desta livraria que toma o nome do seu criador. As diversas publicações estão divididas em espaços dedicados a cada uma das diferentes regiões do globo. Após uma visita à Stanfords é impossível não alcançar uma boa preparação para a nossa próxima viagem. Uma inspiração. 


As próximas duas livrarias já tinham sido faladas neste blogue. 
Uma, a John Sandoe, em Chelsea, livraria independente fundada em 1957, linda por fora e por dentro, dona de um carisma especial. 


Outra, a Gosh!, em Blomsbury, dedicada aos comics, com uma imensidão de novelas gráficas e mangas.

É esta especialização das livrarias que mais seduz; no fundo, cada indivíduo encontra o seu livro na sua livraria.


Um exemplo disso é a Gay's the Word, também em Blomsbury. Aberta desde 1979, aqui encontramos ficção, história, biografia e estudos. O critério é que os escritores sejam gays ou a temática ou os protagonistas dos livros o sejam. Está fácil de ver que nesta livraria se vive um verdadeiro espírito de comunidade. 


Outro exemplo é a Persephone Books, igualmente em Bloomsbury, a livraria que mais gostei de conhecer. A ideia que lhe está subjacente é surpreendente. A sua missão é a reedição de escritoras mulheres do século XX neglicenciadas. A palavra é da Persephone, "neglected". A Persephone não deixa que nos esqueçamos delas e oferece-nos, então, a sua escrita acompanhada por edições com capas lindas. Lindo é um adjectivo recorrente por aqui. A fachada da loja é linda, o interior é lindo, todos os objectos dele constante são lindos. E inteligentes: "cada um da nossa colecção é inteligente, pensamento provocante e belamente escrito".

Esta lista de livrarias é bem pessoal e nunca poderá ser exaustiva, uma vez que muitas mais livrarias maravilhosas haverá.

No entanto, nesta lista faltará certamente a Daunt Books, em Marylebone, que não visitei desta vez, uma das livrarias mais bonitas onde já entrei, sendo inesquecível o seu andar superior com balcão e os tons verdes profundos.

E faltará a London Review Books, em Bloomsbury, onde nunca entrei. Para que possa, a cada nova viagem a Londres, ter sempre uma nova livraria para me encantar.