terça-feira, abril 24, 2007

Banho ao Lado do Mar



Pelo post anterior deve ter dado para perceber que as piscinas e os banhos de mar nos moviam nas idas à Madeira.
Acontece que as manas foram nadadoras e quando não viajavam a lazer com os pais para a ilha, viajavam a “trabalho” com a equipa.
O mau tempo e o pouco tempo disponível afastaram-nos desta vez do banho de mar. Mas a mana mais nova não podia perder a oportunidade de um mergulho na piscina do hotel.

A Madeira Década e Meia Depois



A Madeira é, provavelmente, o lugar para onde mais vezes viajei, sem contar com a terra da avó. A imagem que guardava da ilha (até à Páscoa passada) era a das palmas sinceras e aliviadas dos passageiros no poiso atrapalhado do avião a escassos 10 metros do fim da pista do aeroporto de Santa Catarina. Era a dos banhos de mar no Clube Naval em pleno Janeiro e o consequente bronzeado fora de época de meter inveja aos coleguinhas à chegada a Lisboa. Era a dos hotéis carregados de estrelas e todos eles com piscina(s). Era a das piscinas da Escola Jaime Moniz, da Levada e, principalmente, da Matur. Era, ainda, a seca do tempo dispendido nas viagens de carro entre o aeroporto e o Funchal ou daqui para qualquer outro ponto da ilha.
Simples memórias da juventude.
16 anos se passaram!
Como foi possível demorar tanto tempo para voltar a um local que sempre senti como meu?
O que é certo é que após sucessivos adiamentos de projectos de passagem de ano no Funchal, sempre chegando à sensata conclusão de que a inflação de preços e cidadãos por m2 nessa época do ano não compensará o espectáculo maravilhoso dos fogos, decidi-me a não esperar mais para ir conferir in loco as enormes transformações operadas na ilha, de cujos ecos vinha ouvindo e lendo aqui no continente.

E que transformações foram essas?
Cingindo-me às memórias referidas no principio deste texto, refiro apenas que hoje o fim da pista do aeroporto fica a um número de metros de distância suficiente da aterragem do aparelho e que existe uma estrada que passa sob as suas enormes vigas de sustentação, possibilitando-nos uma perspectiva ideal da obra de engenharia que foi a sua extensão (li algures que se encontra em estudo – ou até mesmo já em construção – a criação de um circuito de manutenção por aqui, bem debaixo da pista).
Em consequência desta obra, a piscina e todo o complexo da Matur foi arrasado, bem como o Hotel Atlantis (quanto às piscinas da Escola Jaime Moniz e da Levada, apesar de não as ter visitado, sei que não mais estão sozinhas, a elas tendo-se juntado a do complexo da Nazaré e a do complexo de natação desportiva do Funchal).
Os hotéis continuam carregados de estrelas e piscinas, mesmo que tenham acesso directo ao mar. E se alguns deles começam a ficar bastante datados, a necessitar de remodelação urgente, parece não cessar o nascimento de muitos outros. É impressionante como a zona do Lido, pela Estrada Monumental fora, que há 16 anos atrás possuía já hotel sim, hotel sim, em cada número de porta, tem hoje um sem número de novos hotéis e mais um número igual de outros em construção. Todo o espaço entre a dita estrada e o mar encontra-se hoje ocupado por hotéis e restaurantes. Daí que não surpreenda que quando agora lá voltei tenha tido uma dificuldade imensa em identificar alguns pontos. Imagens que pareciam solidamente reais na minha cabeça não correspondem mais à paisagem actual. Com o Clube Naval no topo. Toda esta área sofreu como que uma absoluta cirurgia estética. E, tirando o facto de esta cosmética geral ter provocado a dita confusão de memórias em mim, até que esta transformação correu bem. Ao Lido e ao Clube Naval juntou-se hoje o complexo balnear da Ponta Gorda e, mais importante, foi criada uma promenade a ligar o Lido à praia Formosa, ou seja, cerca de 2,5 km pedonais, a pensar no turista, sim senhor, mas prontinhos a serem usufruídos por todos aqueles que gostam de caminhar junto ao mar, com o verde dos jardins como companhia. E, pensando-se sempre mais além, encontra-se já em construção a ligação da Praia Formosa a Câmara de Lobos.
Por último, uma das obras mais desejadas pelas populações locais e, ao mesmo tempo, mais criticadas um pouco por todo o lado: o esventramento da ilha para criação de túneis e mais túneis.
Desta vez estou com o Presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João, para os madeirenses, o Jardim, para os cubanos (texto sobre a Madeira que é texto não pode permitir-se a omitir o nome do 2.º madeirense mais falado da actualidade, logo seguido de Cristiano Ronaldo).
Na verdade, não pode existir qualidade de vida numa terra pequena mas onde as distâncias em tempo são imensas e desproporcionadas. O aproveitamento dos fundos europeus na modernização e criação de uma rede viária que sirva o cidadão e o aproxime das grandes centralidades já tinha sido iniciado no continente na década de 80 (não sem criticas, também), então, porque não a Madeira experimentar este “progresso”? Aliás, quem visita as lhas Canárias, suas vizinhas, sabe bem que também estas estão hoje bem providas de estradas à conta da CEE.
Resultado, temos túneis seguidos de túneis, aldeias e vilas ligadas por inteiro por um túnel (exemplo do Jardim do Mar ao Paúl do Mar), uma ligação num tempo aceitável entre o Funchal e Calheta (na costa oeste da ilha), Funchal e São Vicente (no norte), Machico e qualquer terrinha da costa este e, cereja no topo do bolo, apenas 15 minutos de carro do aeroporto até ao centro do Funchal.
Os velhinhos e perigosos túneis que já pululavam na costa norte, ainda que parcos em metros de comprimento e em muito menor quantidade, esses, persistem ainda para nos mostrar a beleza imaculada da ilha numa viagem que os roteiros turísticos realçam como uma das estradas mais bonitas de qualquer canto do mundo. Sim, é verdade, desta vez não é mera propaganda.
Ah! Também não tinha a ideia de que na Madeira poderia chover quase 3 dias consecutivos, num deles de uma forma inclemente, com raios e trovões à mistura! Fiquei a sabê-lo nesta Páscoa e à conta disso fui obrigada a percorrer a costa norte da ilha nos modernos e seguros túneis de 4 e mais km. Contrapartida? Consegui, assim, manter intocável uma das memórias que levava na bagagem e, graças a uma das maiores chuvadas a que já assisti, continuo com a recordação das quedas de água que teimavam em aparecer em cada canto, do perigo das pedras a caírem das altas escarpas da ilha e da beleza verdejante imaculada do nosso Hawaii, com o mar e as ondas ali bem juntinho.