terça-feira, fevereiro 26, 2008

Pelo Hyde Park à Chuva



Faça sol ou faça chuva (mais esta, está bom de ver), um passeio pelo Hyde Park é obrigatório. Este foi, aliás, o programa escolhido para começo de manhã do primeiro dia do ano de 2008.
Nem os persistentes e nunca desistentes chuviscos perturbaram a doce caminhada pelo verde junto ao lago, sem deixar escapar um olhar demorado pelas brincadeiras dos patos e esquilos. Aliás, existirá alguém no mundo que tenha ido a Londres e ao Hyde Park e não volte de lá com relatos das traquinices dos esquilinhos nada ariscos que nos sobem pelo corpo acima em busca de um rebuçado?



No meio desta confusão sucessiva de parques com áreas bastante generosas, é fácil ficarmos sem saber que relva pisamos: se a de Kensington Gardens, se a do Hyde Park em si, se a dos jardins do Buckingham Palace, se a do St James´s Park ou se a do Green Park.
São kms e mais kms bem no coração de Londres onde a única agitação que se vive é a dos desportistas e a dos animadores de espaços públicos, sem que, no entanto, se perca um certo ar bucólico.

sábado, fevereiro 09, 2008

Into The Wild



Não sou rigorosamente nada virada para buscas interiores, daí que duvidasse um pouco se ia gostar do filme Into The Wild.
Acontece que este filme, baseado numa história real da vida de um rapaz americano que acabou por morrer em viagem aos 24 anos, passa longe de qualquer conceito de busca do eu interior. É antes um constante procurar da (sua) verdade e da felicidade, sem conceitos espirituais a isso associados, longe de hipocrisias familiares ou materiais que dominam a nossa sociedade. Christopher McCandless, o retratado no filme, tentou – e talvez conseguiu – viver a vida que pretendia. Eddie Vedder, o líder dos Pearl Jam que ao longo da sua carreira tem procurado – e talvez conseguido – viver a sua música à parte do sistema imposto pela sociedade foi o escolhido para a banda sonora do filme. Sean Penn, o outro inconformado no meio deste projecto, é o realizador de Into The Wild.
Serve isto para dizer que, sim, senti-me tocada pelo filme, emocionada e comovida com a história de quem procurou seguir o seu caminho, deixando para trás família (pais com quem não tinha uma boa relação, mas irmã que era companheira) e, ao longo das paisagens marcantes por onde ia passando, amigos que foi criando. Sempre sem qualquer peso pela ruptura, de um sentimento que nos habituámos a chamar saudade. Todos à sua volta iam sentindo um aperto no coração pela sua debandada rumo ao objectivo supremo – o Alasca junto aos livros e à natureza – sem que deixassem de o aconselhar a ser mais cauteloso, mais atento aos pais, a, enfim, perdoar e amar.
Depois de 3 solitários meses de dura sobrevivência no Alasca veio a revelação final: “a felicidade só é real quando partilhada”. Mas pelo sorriso na morte de Alexander Super Tramp / Chris podemos concluir que a sua felicidade foi efectivamente partilhada com todos nós.
Para mim, depois de assistir a toda aquela intensidade da natureza americana, a mensagem é viajar. Sejamos novos ou velhos, levantar os nossos rabos e subir a pequena ou a grande montanha, ir ao virar da esquina ou ao Alasca, mas sobretudo mostrar para nós próprios que estamos por cá a fazer algo, sermos felizes nos nossos passos.

London Eye




Um sucesso absoluto.
Se assim não fosse, como explicar que depois de pelo menos 30 minutos para comprar o bilhete ainda haveríamos – nós e todos os demais – de esperar pelo menos mais 1 hora e meia pela entrada na nossa cabine?
Por incrível que possa parecer, esta roda gigante a lembrar uma feira popular tornou-se um ponto obrigatório numa viagem a Londres. Pela paisagem abarcadora e esmagadora de Londres que nos proporciona, pela meia hora que passamos rodando lentamente pelos céus dominadores a 135 metros sobre o Tamisa, tentando identificar todos os landmarks que nos vão aparecendo sob os nossos corpos, e, por que não dizê-lo, pela bonita e elegante estrutura das cápsulas da roda gigante.





Acabamos por ter sorte com o horário da viagem: começamos com o entardecer e terminámos com o anoitecer, aproveitando assim as várias cores do céu.
O London Eye abriu em 2000 tendo, inicialmente, planos para apenas 5 anos. No entanto, as voltinhas no ar duram até hoje, até aqui patrocinadas pela British Airways. Notícias recentes dizem que a BA vai deixar de o patrocinar e Richard Branson da Virgin já terá mostrado interesse em substitui-la. Apesar de a despesa com esta estrutura não dever ser coisa de crianças, não admira que muitos se venham a posicionar para o seu patrocínio. Para além dos milhões que todos os anos fazem questão de entrar nas suas cabines para rodar os céus de Londres, há que não esquecer que desde 2005 o London Eye é o ponto das celebrações do Ano Novo, aí acorrendo à volta de 1 milhão de pessoas só nessa noite a olhar especados para os fogos de artificio que saem da roda.
O curioso desta situação, resumindo, é verificar como as cidades se reinventam não apenas na construção de novos edifícios mas também na criação de novas estruturas que, apesar de polémicas, são imediatamente adoptadas pelos cidadãos e logo integradas na cultura popular.
Sem preconceitos, vale mesmo a pena a viagem.

terça-feira, fevereiro 05, 2008

Museus à Borla em Londres

Os museus em Londres são gratuitos. Ou melhor dito, as exposições permanentes dos museus londrinos são de graça.
E isso é bom?
Depende. Do quê? Do trabalho de casa – neste caso é obrigatório escolher-se previamente o que se querer ver.
O nosso trabalho de casa, está mesmo a ver-se, não foi para nota 20. Na verdade, pese embora todas as boas intenções de se conhecer o mais que poderíamos em 2 ou 3 dias, nem ao bom chegámos.
Postas as exposições temporárias de lado, ficámos, ainda assim, com um bom dilema entre braços: com o anoitecer em Londres a chegar pelas 16:00 (não é à toa que os bifes se fartam de elogiar a nossa quantidade de raios de sol) e com os museus a encerrarem pelas 17:30 – 18:00 (ainda que com 1 dia da semana com horários mais prolongados), a escolha colocava-se ainda entre caminhar entre o pulsar das ruas enquanto era dia ou enfiarmo-nos durante esse mesmo dia nos museus.



Acabámos por aproveitar o dia / noite em que a Tate Modern fechava mais tarde e conseguimos ver as suas exposições gratuitas decentemente.
Logo à entrada da colecção de arte contemporânea internacional desta Tate (a de arte nacional fica com a Tate Britain) deparamo-nos com Maman, a aranha gigante de Louise Bourgeois (que tem uma réplica também no Guggheinheim de Bilbao), bem junto ao Rio Tamisa a olhar olhos nos olhos a St Paul´s Cathedral.



O edifício da Tate Modern era anteriormente uma central eléctrica e foi excelentemente reconvertido em museu pelos arquitectos Herzog & de Meuron. A sua localização é fantástica, seja qual for a perspectiva em que nos encontramos: venhamos de caminhar de qualquer um dos lados (do Eye ou da Tower Bridge) deste lado sul do Tamisa, venhamos de atravessar a Millennium Bridge desde a St Paul´s Cathedral ou venhamos até ao 7.º piso do edifício onde fica instalado o restaurante do museu com uma vista soberba de Londres.
A Tate Modern tem vindo a ser considerada não apenas um museu mas também como que uma espécie de parque de diversões.
Vindo até cá entende-se bem.
E fica ainda a entender-se como foi possível que no ano de 2006 tivesse estado aqui em exibição uma instalação de um tobogã que fez com que as crianças desejassem visitar o museu (“Test Site” de Carsten Holler). Afinal de contas, a Turbine Hall, um espaço de 35 metros de altura e 152 metros de comprimento, presta-se a isto e muito mais.
Desta vez a ocupação desde mega espaço foi entregue a Doris Salcedo que aqui trouxe “Shibboleth” e à entrada avisa-se qualquer coisa do género “cuidado onde põe os pés, não caia no buraco”. A artista resolveu apresentar um trabalho que se inicia com uma estreita fenda no chão que se prolonga pela dita centena e meia de metros e que a meio do caminho se vai alargando tanto que se torna mesmo possível que um pé inteiro (ou os dois) lá caiba dentro. Salcedo, colombiana, diz que pretendeu representar as fronteiras, a experiência dos emigrantes e sua segregação, a visão de uma pessoa do 3.º mundo que vem até ao coração da Europa (afirmou ao Sunday Times “It represents borders, the experience of immigrants, the experience of segregation, the experience of racial hatred. It is the experience of a Third World person coming into the heart of Europe. For example, the space which illegal immigrants occupy is a negative space. And so this piece is a negative space. http://entertainment.timesonline.co.uk/tol/arts_and_entertainment/visual_arts/article2617536.ece)
Não sei é se terá muito cabimento para mim apresentar a mesma explicação para o que se passa na garagem do meu prédio, com fendas que mais parecem cópias destas de Salcedo na Tate Modern. Terá Doris andado em instalações no piso -2 da minha garagem? Serão os emigrantes do 3.º mundo? Ou será só uma coincidência?



Feliz coincidência é poder ver obras de Juan Muñoz num qualquer lugar pelo mundo.
Está bem que em Lisboa tal será possível (Berardo tem pelo menos uma obra do espanhol) e no Porto é no minuto que quisermos (basta ir ao Jardim da Cordoaria).
Mas foi muito bonito que ao final do dia, e inesperadamente, tenha ficado a saber que a Tate Modern tem algumas delas expostas, para além de lhe dedicar neste momento uma retrospectiva (desde o fim de Janeiro e até ao fim de Abril). Ao lado deste artista espanhol estão também representados na Tate, como não podia deixar de ser pela pujança da cultura de nuestros hermanos, mais umas duas mãos cheias de seus compatriotas com Picasso à cabeça.
Ainda, como piada e como forma de mostrar que a arte pode ser banal, uma réplica do famoso “Fountain”, vulgo Urinol, de Marcel Duchamp está aqui presente numa sala a poucos metros de uma série de máquinas com variados jogos sempre ocupadas pelos visitantes que se entretêm a distrair os olhos e a mente de tanta contemporaneidade.


Quanto ao British Museum não é exagerado dizer que quase não passámos do Great Court – a tal praça que com a intervenção de Norman Foster em 2000 se tornou a maior coberta da Europa. E ainda que valha a pena vir aqui só para ver esta obra arquitectónica (todo o edifício e não apenas o seu Great Court), é uma pena que não dediquemos nem 1/10 da nossa atenção à colecção deste museu que é, tão somente, um dos maiores do mundo, quer na extensão das suas peças como na sua importância artística e cultural.
A sua colecção abarca verdadeiros tesouros trazidos para Inglaterra pelos Indiana Jones da vida (que, há que dizê-lo com frontalidade, não trouxeram tudo para aqui, deixando muito mais para outras grandes potências – não consigo esquecer que há uma década vi a cidade de Pergamon em Berlim mas nem em fotografias a consigo ver na Turquia).
Dado o pouco tempo que nos restava optámos por nos dirigir directamente aos “highlights” que o próprio museu escolhera. Ou seja, esculturas monumentais quase intactas dos faraós e suas múmias, no que à arte egípcia diz respeito; grandes pedaços da Acrópole de Atenas, incluindo imensos mármores retirados (e agora reclamados pelas autoridades gregas) quase por inteiro ao Parthenon, com esculturas suficientes para que sozinhas resultem num bom museu, no que à arte da antiga Grécia diz respeito.
E foi tudo o que vimos. O elenco do que não vimos não cabe sequer nestas páginas. Mas cabe, sim, uma lágrima derramada por termos perdido a exposição temporária do exército chinês em terracota – desta é que não se pode dizer que fica para a próxima.



No 1.º dia do ano tivemos ainda uns minutos para uma olhadela à National Portrait Gallery, junto à National Gallery. Uma colecção imensa de retratos de várias épocas e em vários suportes, por onde caminhámos rapidamente até chegarmos à sala nossa contemporânea. Aqui reconhecemos diversos personagens desde Winston Churcilll, Doris Lessing, Paul McCartney, os Blur de Julian Opie ou a omnipresente Diana.
Mais um a ver com a máxima atenção e, de preferência, a não repetir num pacote juntamente com o vizinho National Gallery – para não cansar de tanta cultura gratuita.