sábado, novembro 07, 2009

Essaouira pelo Atlas

Quinta-feira decidimos alugar um carro para ir de Marraquexe a Essaouira, mas escolhendo um percurso bem longo de forma a poder percorrer parte das montanhas do Atlas até desaguarmos, finalmente, nas águas do também nosso Altântico.
Tirando o abusador calor, viagem linda, as cores das montanhas dão azo à flutuação da imaginação, mais a mais porque vão tendo a ajuda das imagens de uns Casbás. Sobe-se, sobe-se, sobe-se, para depois descer-se, descer-se, descer-se. Uh,uh, estamos no deserto e momentos depois estaremos junto ao oceano.
Essaouira, pois.
Como sexta-feira amanheci com uma má disposição incrível (talvez uma quase gastroenterite), a única coisa que conheci de Essaouira foi os bancos de pedra que iam surgindo pelo caminho e que eu rapidamente ocupava para me deitar um pouco. Como ao fim da manhã as tonturas persistiam, desisti dos meus intentos turísticos e recolhi-me à caminha do meu riad para apenas dela sair para ver o por do sol no mar junto aos canhões da fortaleza.



Esperava que no sábado pudesse recuperar o tempo perdido e conhecer tudo o que havia a conhecer. Mas logo a madrugada e dia seguinte haviam de ser passadas a tratar das outras duas que, essas sim, tiveram direito a gastroenterite a sério.
Por isso, mana Sofia, desta não te escapas, e sobre Essaouira, a antiga Mogador, tens de te debruçar tu.

Interlúdio Paisagístico Pelo Atlas



Os Jardins de Marraquexe

Por entre o ocre dos seus edifícios, existem pelo menos dois jardins imperdíveis que rompem esta cor rotineira.
Um mais plácido e discreto, com um edifício à beira de um lago com as montanhas do Atlas a servir de cenário nas suas costas; outro verdadeiramente exuberante nas suas cores e, por isso, inesperado.



Os Jardins de la Menara, apesar da sua imagem ser um postal obrigatório da cidade, estiveram longe de me encher as medidas. À parte uns camelos à entrada para turista montar ou fotografar, parece algo abandonado. Seria bom que pudéssemos ser teletransportados para o local exacto da foto da praxe.

Já o Jardim Majorelle é outra história. Uma história que não se espera encontrar em Marrocos e, talvez, um pouco deslocada, mas uma grata história. Ou talvez não, se pensarmos que Marraquexe – e Marrocos – não estão na moda apenas hoje, mas pelo menos desde a década de 60 e 70 do século passado quando um rol quase infindável de peças da nossa cultura a adoptaram como sua. Daí que criatividade e surpresa não sejam em absoluto de excluir em Marraquexe. Porque é disso que se trata, de um jardim inventado em pleno norte de África. As cores azul e amarelo berrantes ficam, assim, como cores oficiais de Marraquexe no nosso imaginário, a par do omnipresente ocre.







Dormir, Comer e Estar em Marraquexe

E para continuar nos “antros” de bom gosto, umas sugestões de hotel / riad, bar restaurante e sala de estar. Ou tudo misturado, que vai dar no mesmo.
Para passar a noite – e também o dia sem que sintamos isso como um desperdício – a melhor opção é um riad cheio de charme na Medina. Les Jardins de Mouassine (http://www.lesjardinsdemouassine.com/index.html), junto à mesquita de mesmo nome, foi a nossa (acertada) escolha. No primeiro piso fica o lounge e uma pequena banheira para o relaxe do dia turístico pela cidade. No segundo e terceiro piso os quartos, cada um com o seu nome. Neste último, existe um inacreditável terraço, parte exclusiva do nosso quarto, com espreguiçadeiras, bancos e um barzinho (onde é servido o pequeno almoço). Não possui vista para a cidade daí que seja ainda mais difícil imaginar não só o bulício, mas também o emaranhado de edifícios ocre sem interesse de maior que nos rodeiam.



Porque o verdadeiro interesse em Marraquexe está no interior dos seus edifícios, mesmo naqueles perdidos num qualquer beco de uma das suas ruas. Como é o caso do Dar Cherifa (http://darchrifa.blogspot.com), bem pertinho do riad Les Jardins de Mouassine (apesar das inúmeras voltas que demos para lá chegar). Mais um para a lista dos inacreditáveis, mais um edifício que ninguém daria nada por ele. E mais um pleno de carácter, acertadamente transformado em lugar para se estar a ler enquanto se aguarda por uma refeição ligeira. Possui igualmente um terraço onde apetece estar sem ser na hora do calor, e a subida até lá é imperdível para se ter uma real noção do espaço que é característico da arquitectura de Marraquexe.





E para não sairmos dos terraços, eis o Cafe Arabe (http://www.ilove-marrakesh.com/cafearabe/index_en.html), o restaurante e bar da moda. São 3 andares para refeição e copos, com o último a servir de sala de estar perfeita, onde não falta sequer um por do sol, belíssimo como sempre.







A comida e a simpatia marroquina foi omitida neste post. Neste caso, ambiente é tudo.

Os Palácios de Marraquexe



A Madrassa Ben Youssef é talvez o pedaço mais esplendoroso e encantador de Marraquexe. O desalento de não se poder entrar para conhecer as mesquitas da cidade compensa-se com este palácio que a partir do século XIV, e até ao ano de 1962, foi um dos maiores centros de ensino / aprendizagem do Corão. Este espaço grande, mas não tão grande assim que pudesse acolher cerca de 900 alunos, ainda para mais a partilhar apenas uma casa de banho – como chegou a acontecer – é um lugar de sonho. A entrada, depois de voltas e mais voltas deixando os souks para trás, faz-se por um corredor sem graça de maior que não nos prepara de todo para o pátio que nos espera. Uma pequena “piscina” rodeada por umas lindíssimas arcadas rendilhadas na mais pura arte mourisca à qual não faltam uns mosaicos de um bom gosto insuperável. No andar superior, onde ficavam as câmaras dos estudantes, umas janelinhas de encantar, sendo impossível evitar a fotografia da praxe com o visitante à espreita.



Ainda mal refeitas do banho de beleza da Madrassa entramos no edifício vizinho do Museu de Marraquexe certas de que nada mais nos deslumbrará tão intensamente. Pois, mas estes mouros são terríveis e o que nos espera em seguida não faz mais do que despertar em mim uma imensa vontade de voltar ao nosso tão próximo Alhambra. Já nem me lembro bem qual a arte representada no museu, não porque seja despicienda, mas antes por ter no pátio um “adversário” imbatível por memorável. Aqueles sofás obrigam-nos a contemplar mais uma dose de bom gosto de forma relaxada. O mármore do chão, cravado aqui e ali de mosaicos coloridos, de onde vai brotando umas fontes que irradiam tranquilidade, as portas e janelas lindamente trabalhadas que se encontram para lá das colunas quase que nos distraem do enorme candelabro que está sobre nós. Este palácio foi objecto de restauro há não muitos anos, ele que chegou a acolher a primeira escola para meninas da cidade. Temos, pois, que a Madrassa Ben Youssef era para rapazes e o que é hoje o Museu de Marraquexe era para raparigas. Um luxo só, este Marrocos.







Antes, porém, da visita a estes dois edifícios já tínhamos visitado – e admirado – o Palácio Bahia. Os edifícios sucedem-se uns aos outros, separados por uns pátios, até que chegamos a um grande jardim. Ou seja, há que entrar e ir andando para descobrir o que está para lá das portas. E, já agora, não nos limitarmos a olhar os azulejos nas paredes e chão, mas levantar bem a cabeça para observar os tectos em madeira. No fundo, sentidos bem despertos para não perder nada do muito que Marraquexe nos tem para mostrar para além das suas ruas.

quarta-feira, outubro 07, 2009

Marraquexe



Marraquexe identifica-se imediatamente.
Sem ter elementos naturais na cidade ou à sua volta, como uma montanha, o mar ou um rio, ou elementos arquitectónicos tão singulares como um edifício ou uma ponte que nos digam claramente, sim, estou a reconhecê-la, é Marraquexe, qualquer um chegará à mesma conclusão se se ater a um simples detalhe: a cor.
Concretizando melhor, a cor ocre de todo e qualquer edifício. Seja na Medina ou fora dela, na parte nova da cidade, o tijolo domina nesta cidade surgida no meio do deserto.






Aquela parte de dizer que não havia elementos arquitectónicos que a distinguissem era um bocadinho exagerada. Afinal de contas, a imagem da praça Djemaa El-Fna, simplesmente “a praça”, é mais do que conhecida por todo o mundo. No entanto, a este caso não se aplica o dito “uma imagem vale mais do que mil palavras” por absoluta falta de consonância com a realidade. Aqui acontece de tudo. Mas tudo mesmo. A chamada logo de manhãzinha para a oração desde a vizinha mesquita Koutoubia não nos prepara para a vida que vai aparecendo e acontecendo lá mais para o final do dia. Entre os inúmeros vendedores de laranjas, frutos secos e água a animação é interminável e eclética, mas nunca sem sair do kitsch. Aos muitos encantadores de serpentes (ui… que medo) juntam-se os macacos educadamente sentados ao lado dos seus donos que zelosamente os têm em coleiras, mas os libertam logo que vêem um turista disposto a uma foto. Ao lado estão as senhoras dispostas a desenharem-nos uns riscos árabes no corpo ou a lerem-nos umas cartas. Mais adiante as cantorias, onde há lugar para um senhor cantar e tocar com uma galinha na cabeça. Segue-se o ponto onde se desenrolam tantos jogos quantos os que a nossa imaginação permite, como tentar pescar uma garrafa, chutar uma bola por entre uns pinos, transportar um maço de tabaco de um copo para o outro utilizando uns duvidosamente apropriados longos palitos.



E será todo este circo que rapidamente toma ares de confusão seguro?
Sim senhores, tão seguro como sentar e comer quaisquer petiscos no meio da praça, sejam uns caracóis ou um peixinho, espetadas de carne, beringelas, sopa, o que houver, como o provam a variedade da clientela, desde famílias marroquinas, outros africanos em viagem, jovens surfistas, hippies, casalinhos em lua de mel, casalinhos com filhos, ou uma portuguesa mais entradota com duas filhas trintonas.
Há também a opção – igualmente imperdível – de se jantar num dos terraços com vista para a praça. Aqui entende-se a azáfama da alegria de uma forma mais global, acompanhada pela iluminação das várias tendas lá em baixo.


Então e Marraquexe é só isto, a cor de tijolo e a praça?
Óbvio que não. Mas fica desde já o aviso que não é fácil chegar até aos seus encantos sem algum desconforto.
Comecemos pela escolha do local onde pernoitar. Num hotel / resort na parte nova da cidade ou num riad na Medina?




Claramente, arriscamos mandar o sossego e o conforto para trás e o riad leva a palma. As ruas na Medina são todas intrincadas, estreitas, escuras, podem vir a redundar em becos, mas não especialmente sujas ou mal cheirosas, e durante o dia (pior, noite) em cada canto ouve-se a chamada para a oração. Mas depois – surpresa – de um edifício qualquer, que pode até ser um bocado feioso no seu exterior, surge-nos pela frente uma mansãozinha com um pátio lindíssimo, cheia de pormenores mouriscos e recuperada com um bom gosto superior. Podemos ficar instalados no 3.º andar e não há elevador. Podemos ficar todas pegajosas de suor e não há piscina. Podemos querer jantar e não há se não a solução de procurar um restaurante ou ir à praça. Mas e então? Ambiente é tudo.




Quem vem de fora da Medina vem, talvez, procurar antes de mais os souqs, os mercados. São ruas e mais ruas com lojas e/ou tendas que vendem de tudo um pouco e onde, dizem, o regateio é uma arte. Vou directa ao assunto: se para a maior parte das pessoas é uma chatice dormir na Medina, para mim permanecer mais do que 2 minutos parada num souq é um desconforto e aborrecimento superlativo. Sim, gosto de andar de um lado para o outro a ver e sentir o bulício das negociações, perder-me como qualquer não nativo, olhar de vez em quando para uma montra. Não, não suporto ver mais do que 2 vezes as mesmas tralhas, os preços iniciais das quinquilharias mais caros do que na Feira de Artesanato de Lisboa, a pressão dos vendedores para que entremos apenas na sua simpática loja. (E aqui vem uma comparação inevitável: na Turquia consegui visitar o grande bazar e não trazer de lá nada, por isso não há grande espanto que em Marraquexe tenha logrado a mesma proeza. Mas na Turquia a simpatia dos vendedores era autêntica. Em Marraquexe, e como dizia o outro, há que dizê-lo com frontalidade, os vendedores raiam o ordinário. Começam com a técnica do entre só para ver o meu espaço, entre só para ver como executo a minha arte, não precisa de comprar nada. Mas depois, quando damos meia volta sem nada nas mãos, vem o filha da p…, vai-te f… Não aconteceu apenas uma vez, logo, permito-me concluir que não é um procedimento raro. Houve ainda outras situações aborrecidas de miúdos que insistiam em levar-nos até um determinado ponto achando que estávamos perdidas e nos queríamos encontrar. Não obstante a nossa insistência para prescindir da companhia, mais uma vez, a principio só bondade e bem receber, chegadas ao destino dá cá isto e mais isto e, quando não demos, vai para ali e mais acolá. Infelizmente não fiquei com a melhor das impressões de todos os marraquexinos.)




Eis por que referia não ser fácil chegar até aos encantos de Marraquexe sem algum desconforto – o de muitos que não apreciam ficar num riad na Medina e o meu que não aprecio ir de compras para os souqs.

Mas, tirando as compras nos mercados, Marraquexe valerá a pena para todos pela Mesquita Madrassa Ben Youssef, pelo Palácio Bahia, pelo Museu de Marraquexe, pelos Túmulos Saadianos e, fora da Medina, pelos Jardins Majorelle e pelos Jardins de la Menara. Todos os edifícios acima referidos na Medina são absolutamente discretos e sem graça no seu exterior, havendo que dar umas quantas voltinhas para a frente e para trás até os encontrarmos pelo meio das ruelas. Todavia, o seu interior de pormenores e motivos ornamentais e decorativos arabescos valem qualquer viagem mesmo que fosse necessário dar a volta ao mundo para se lá chegar. Como somos portugueses e falamos de Marrocos… sem desculpa.


terça-feira, outubro 06, 2009

Au Revoir Simone

Ontem, numa noite chuvosa, contrariando o que lhes foi dito, muita gente saiu de casa para ir ver e ouvir as três meninas do bairro culturalmente mais efervescente de Nova Iorque, Brooklyn.



E acredito que ninguém tenha ficado desiludido, já que as Au Revoir Simone brindaram-nos com as suas músicas indie pop suaves e belas.
No final, ao som de Dark Halls, convidaram o público a subir ao palco para encerrarem o espectáculo a dançar. Para delírio de quem assistia e atordoamento dos seguranças.



Esta atitude veio reforçar a ideia que ficou durante o espectáculo, onde a humildade e simpatia reinaram. Não contentes estenderam a boa disposição e a entrega para uma sessão de autógrafos e convívio completamente informal no átrio da Aula Magna.
Uma palavra. Cativante.
Au revoir e até breve.

domingo, outubro 04, 2009

A Voz

Si se calla el cantor calla la vida
porque la vida, la vida misma es todo un canto
si se calla el cantor, muere de espanto
la esperanza, la luz y la alegría.

Si se calla el cantor se quedan solos
los humildes gorriones de los diarios,
los obreros del puerto se persignan
quién habrá de luchar por su salario.

composto por Horacio Guarany, cantado por Mercedes Sosa



Infelizmente esta semana não trouxe só boas notícias para a América Latina.
A sua maior voz calou-se para sempre hoje em Buenos Aires.
À parte a possibilidade de ouvir a qualquer momento as gravações deixadas por Mercedes, cantando o que os mais inspirados compositores do mundo escreveram, ficará para sempre a recordação da felicidade de ter ouvido a sua voz poderosa a sair do seu corpo pequeno na Aula Magna, no ano 2000.
Gracias a la vida (e a Violeta Parra).



sexta-feira, outubro 02, 2009

Rio 2016

O Rio de Janeiro ganhou a organização dos Jogos Olímpicos de 2016.
Trocando por miúdos, a cidade mais emocionante do planeta vai receber o evento mais emocionante do planeta.
Não consigo imaginar como poderá o Rio ficar ainda mais lindo e emotivo.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Berlengas

Um passeio de um dia às Berlengas só não se torna num dia perfeito pelo simples pormenor, mas impossível de negligenciar, de que o “pacote” vem acompanhado de um tormentoso trajecto de barco de cerca de 45 minutos para lá e mais 45 minutos para cá. Diz quem sabe que os primeiros 45 minutos são os piores, como que a dizer que não há paraíso sem se passar previamente pelo inferno e, então, na ausência dos comprimidos não restou outra solução se não fechar bem os olhos e fazer de conta que o saquinho que a tripulação nos dá logo de entrada é mesmo para o lixo que não se deve deixar na ilha, e não para a consequênciazinha do mítico enjoo.
A última (e única?) vez que tinha estado na pequena ilha foi seguramente há bem mais de 20 anos. Só me lembrava, pois, daquela subida bem pronunciada que nos espera logo à entrada. Mas porque que é que não tinha claro na memória aquela transparência intensa das suas águas?
Um dia nas Berlengas dá apenas para caminhar um pouco até ao pitoresco forte (mais água de cores de sonho), apanhar um barquinho conduzido por um daqueles artolas que se gaba de só trabalhar nos meses de Verão e que nos conta umas histórias muito duvidosas acerca das grutas por onde vamos passando e, por fim, tentar estender a toalha na praia mínima junto ao porto. Aqui, debaixo do sol, vamos ganhando coragem para entrar na água gélida e, após a missão ser superada, ganhamos ainda mais coragem para imitar os miúdos e saltarmos como eles da prancha rumo à água transparente.





Um fim-de-semana nas Berlengas será talvez o ideal. Mas, agora que a residencial no Forte São João Baptista foi fechada pela ASAE (diz que devido à pouca qualidade da água doce) a única solução para passar a noite é acampar no parque de campismo. E a ver pela sujidade das tendas que por lá estavam e os berros esganiçados das gaivotas, acredito que seja isso mesmo: passar a noite, porque dormir deve ser difícil.
Mas, pensando bem, quem quererá dormir numa ilhota quase exclusiva, com uma fauna e flora apelativas, com aquela imensidão de céu bem estrelado (assim o imagino) a rodear aquele pedacinho de terra cravado no imenso Oceano Atlântico?

segunda-feira, setembro 14, 2009

Geysir

Algo do género no nosso país só mesmo isto


Vulcões de água - Parque das Nações

É engraçado. Mesmo surpreendente. Tem encanto. É até uma delícia observá-lo. No entanto é uma obra, ainda que notável, meramente humana.
Em contraponto, na Islândia, existe um fenómeno que pouco tem origem na acção antrópica. Aí estão concentrados muitas das manifestações naturais existentes no planeta, responsabilidade da sua imensa actividade vulcânica e sísmica, ou não fosse o país situar-se entre a placa americana e a euroasiática.
Um dos fenómenos mais espectaculares, estrondosos, surpreendentes e viciantes de admirar é o geysir. O nome Geysir, vem do mais antigo registo de erupção de águas quentes, que ocorreu no vale de Haukadalur, na Islândia. Desde aí a palavra geysir caracteriza todos os fenómenos de jorramento de águas quentes.
O Geysir (o original) deixou de funcionar mas felizmente ao lado, igualmente no campo geotérmico de Haukadalur, funciona o Strokkur, o geysir, actualmente, mais espectacular em actividade na Islândia. De 4 a 8 minutos dá-se uma erupção de água a ferver a uma altura que pode chegar aos 23 metros.



O Strokkur está em actividade desde 1789, depois de um terramoto que desbloqueou o sistema do geysir. Esteve em actividade até 1896, quando um novo terramoto bloqueou o geysir. Desde 1963 até actualmente foi de novo desbloqueado e encontra-se em actividade.
Observar o Strokkur é um espectáculo. Desde a expectativa do momento de explosão, que é vivido ansiosamente a olhar para o buraco por onde a água é expelida e que no tempo que intermedeia a explosões é um borbulhar constante;


o inicio da erupção que tem um efeito magnifico, em que a água ganha uma tonalidade mágica;


a erupção que, ainda que seja o momento mais esperado, é surpreendente e causa mesmo emoção; até, por fim, o efeito de bruma que fica na atmosfera devido à diferença de temperaturas da água, que chega a atingir os 120º C, e a temperatura atmosférica.



Quando se está a fotografar o fenómeno a ansiedade da espera é ainda mais vivida porque cada etapa tem o seu momento, que tem tanto de lindo como de fugaz. Mas quem resiste a documentar este momento?Já sem máquina fotográfica em punho, observei mais descansadamente, mas sempre com uma pontinha de ansiedade, o geysir Strokkur diversas vezes e de vários ângulos, sem haver qualquer enfado. Tudo é tão deslumbrante e inusitado que consegue-se ficar horas a fio a observar esta magia da natureza.

sexta-feira, agosto 21, 2009

Mývatn e Krafla



Esta é uma das zonas mais nobres do país, no nordeste, perto de Akureyri e do Parque Jókulsárgljúfur (com a sua Dettifoss e o Canyon de Ásbyrgi), daí que 10 em cada 10 turistas caiam lá. Se o “Círculo Dourado” da Gullfoss, do Geysir e de Pingvellir, bem juntinhos da capital Reykjavik levam quase todas as atenções com o título de maiores atracções da Islândia, depois de conhecer estes dois circuitos ficamos com a certeza do tanto que vale a pena percorrer uma imensidão de kms até este nordeste para ver quem deveria levar a taça (já deu para ver que Gullfoss e Pingvellir – o Geysir é outra história – não nos encheu as medidas).
Mývatn é o nome do lago, mas toda a zona que o circunda é conhecida pelo mesmo nome. É como um grande parque de diversões. Aqui parecem existir quase todos os fenómenos naturais, e nem se sente a falta das omnipresentes quedas de água e glaciares pois esses há-os por quase toda a Islândia.
Lagos, pseudo-crateras, crateras reais – tanto de areia preta como de água azul –, vulcões ainda activos, campos de lava com formas esquisitas, montanhas de cor pastel, vapores emergindo da terra e, para concorrer com a grande estrela do sul, a sua muito própria lagoa azul.


Tudo o que vemos hoje, com estas características muito especiais, deve-se a uma série de acontecimentos vulcânicos. Mesmo hoje, com o Krafla ainda em actividade, a paisagem arrisca-se a mudar uma vez mais, e a possibilidade de a lava tudo invadir é bem real.

Voltando ao Myvatn, a melhor opção é usar o carro para dar a volta ao lago – cerca de 36km de estrada – e ir parando para umas caminhadas nas inúmeras atracções que vão aparecendo.


Primeira paragem para quem vem de Akureyri: Skútustadagígar e as suas pseudo-crateras que aparecem no meio do lago e vão formando elegantes ilhotas. Este fenómeno natural surgiu após a lava ter escorrido para a água e daí terem sucedido explosões donde resultaram estas pequenas crateras. É um bonito passeio de cerca de uma hora, contornando umas crateras e subindo sem esforço a outras.


Um pouco mais adiante encontramos o campo de lava de Dimmuborgir com as suas estranhas formações, arcos, caves e várias opções de trilhos, um dos quais leva-nos até à cratera do Hverfell.


A subida a esta cratera é um pouco mais cansativa, afinal fica a 463m de altura e depois de chegarmos ao topo é imprescindível fazer todo o seu percurso circular de cerca de 1000m, olhando para dentro e vendo a aridez da sua areia escuríssima, um interessante contraste com a paisagem fabulosa de 360º que nos é dada a ver de todo o lago.




Saindo do Mývatn em direcção ao Krafla e após passarmos por algumas fissuras na terra com água quentíssima, uma delas numa cave, e pela Lagoa Azul aqui do sítio – sem nunca nos esquecermos que esta é uma área geotermal natural – chegamos a Námafjall.
A montanha Námafjall e sua encosta Hverir, que aparecem de surpresa após uma curva em descida na Ring Road (o Námaskaro Pass), provocam-nos mais um espanto e encanto com os seus tons pastel. Mais uma boa caminhada (e será dura se se subir ao Námafjall) onde o único incómodo é o cheirete a enxofre da actividade sulfurosa das fumarolas que vão produzindo bolinhas desde a terra, deixando uma nuvem intensa e húmida à nossa passagem.





Chegando ao Krafla, a verdadeira atracção não é a montanha de mesmo nome, de 818m, ainda em actividade. Muito menos a estação de energia geotermal e suas turbinas. O que surpreende é vermos mais um campo de lava, imenso e passível de crescer ainda mais com novas erupções que, teme-se, poderão estar para breve. O contraste da lava seca e negra com as montanhas e o chão colorido de Leirhnjúkur, com mais bolinhas e bolinhas a saírem da terra a escaldar, e as ovelhas que por ali vão pastando faz-nos duvidar se estaremos a sonhar.




Um pouco mais à frente, a cratera Stóra-Viti dá-nos a certeza de que estas não são paisagens reais. Com a subida ao topo, não muito cansativa, para além de ficarmos com uma noção clara da região do Krafla e da destruição que este foi provocando ao longo do tempo, surpreendemo-nos – uma vez mais – com a água de um azul intenso dentro da cratera. Provavelmente a sua água será quente, mas dará para nadar? Diz quem sabe que a cratera do Viti, no interior da ilha, também tem água azul e quente e é uma das maiores experiências que se pode ter na vida – nadar nesse vulcão. Não confundir, no entanto, a cratera Viti com a cratera Stóra Viti, no Krafla.
Pronto, lá teremos de voltar à Islândia para completar os trabalhos que não chegaram a ser realizados.