sexta-feira, novembro 24, 2017

Poço da Broca

Banhava-me junto à nora do rio em São Sebastião da Feira num daqueles fins de tarde incrivelmente quentes de Julho quanto um parceiro de relax me dá a dica para visitar a Barriosa, um lugar fantástico não muito distante dali. Como podia um tripeiro de passagem pela Beira saber de um lugar fantástico a 15 minutos da terra da minha avó e eu nunca ter ouvido falar dele? 
O certo é que esta alfacinha tinha de voltar no dia seguinte para a capital, mas ficou os próximos meses a matutar na ideia. Até que em Setembro cheguei finalmente ao Poço da Broca - assim se chama o lugar fantástico na Barriosa, Vide, já concelho da Guarda. 
 
É uma parede extensa de cascatas que caem de uma falha (ou talvez de um terreno manipulado pelo Homem para melhor servir os seus propósitos agrícolas) para a Ribeira de Alvôco. 
 

O lugar é lindíssimo e mesmo numa época prolongada sem chuva a água que jorra lá de cima é suficiente para nos encantar. Não consigo imaginar o quão poderoso será o cenário após uma forte chuvada.   
Este espaço é também uma praia fluvial. Podemos mergulhar, estender a toalha, sentar na esplanada ou comer uma refeição completa no elogiado restaurante Guarda Rios ali mesmo à beira. 



Ou podemos sair para uma curta caminhada circundando o rio e cascata. 
Vistas privilegiadas é o que ganharemos.
Vemos a pitoresca nora de um antigo moinho, a brutal sucessão de cascatas, as águas ainda assim plácidas, a paisagem serrana. 


 

Subindo chegaremos a um outro patamar onde o rio corre calmo e um barco estacionado parece ter sido ali colocado para conferir maior dramatismo ao postal. 
Tudo belíssimo. 
No fim, por curiosidade descubro que em linha recta estamos apenas a 15 km da Torre, o ponto mais alto de Portugal continental. 
Tudo tão perto.

sexta-feira, novembro 17, 2017

Piodão - Chãs d’ Égua - Foz de Égua - Piodão

Este é o maior e mais completo percurso pedestre que se pode fazer ao redor do Piodão. 

Em tempos havia percorrido o trilho de ida e volta até Foz de Égua, aqui descrito).

Agora, do Piodão até Chãs d’ Égua, passando pela praia fluvial de Foz de Égua e retornando ao Piodão são cerca de 10 intensos quilómetros, mais de quatro horas de uma soberba caminhada, pelo que é aconselhável sair bem cedo de manhã.




Logo pela manhã o Piodão recebe-nos vazio, sem as enchentes de turistas, ideal para deambularmos pelas suas sinuosas e declivosas ruazinhas conquistadas ao terreno em sossego. Os materiais usados nas suas típicas e pitorescas casas, já se sabe, são o xisto e a madeira, aqueles de que a região é pródiga. A tinta azul para pincelar as portas e os detalhes das frestas das janelas diz-se que era a única cor à disposição na povoação depois de lá ter sido deixada um lata de tinta dessa mesma cor. Lendas não faltam. 



Percorremos, então, o Piodão em direcção ao cemitério onde iniciamos o trilho até Chãs d’ Égua. 






A paisagem entusiasma desde o primeiro minuto. A Serra do Açor abre-se-nos em todo o seu esplendor e inunda-nos de felicidade. Enquanto que no topo vamos vendo os seus picos elevados recortando a paisagem e desenhando vales no horizonte, em baixo vemos desfilar os socalcos e as casinhas em xisto, forma artística do Homem adaptar esta natureza magnífica mas adversa às suas necessidades. 




Esta primeira parte do percurso é fácil. Quando descemos para a estrada e começamos a seguir no asfalto até à povoação com o curioso nome de Pés Escaldados e daí até Chãs d’ Égua é que tudo se torna mais cansativo por causa da subida e do calor. 


Pés Escaldados é um pequeno ponto na paisagem com as típicas casas de xisto da região e uma fonte branca a marcar a diferença. Já Chãs d’ Égua é um povoado maior de casas brancas encravado num vale  onde não faltam também as ditas casas de xisto com as telhas de lousa. 




Por esta zona foram encontradas algumas rochas com gravuras de arte rupestre, daí que há poucos anos tenha sido criado o Centro Interpretativo de Arte Rupestre de Chãs d’ Égua no edifício da antiga escola primária.



Deixando esta povoação para trás e todo este imenso e soberbo vale, iniciamos então a descida em direcção a Foz de Égua. Os ribeiros começam a acompanhar-nos e agora já não são apenas as casas e degraus em xisto a compor a paisagem: também as pontes de xisto a marcam para deixar as águas correr leve sob os seus arcos.





O caminho de Chãs d’ Égua até Foz de Égua não é especialmente difícil ou técnico, mas requer atenção e cuidados e bom calçado. Algo acidentado, tanto sobe como logo de seguida volta a descer, sendo estreito e escorregadio em alguns momentos. Sempre bem marcado, porém.





A chegada a Foz de Égua não engana. Avista-se ao longe o seu casario e, em especial, a sua ponte suspensa de estacas. Lá em baixo a praia fluvial boa para lavar os joelhos. Mas, também, sem chuva não se pode pedir muito mais.

Após uma breve banhoca e um curto descanso há que voltar ao Piodão, percurso fácil e belíssimo de uns meros 40 minutos.



Acontece que o acumulado e, sobretudo, o dia escolhido para esta caminhada tornaram a volta num quase tormento. Dia 17 de Junho de 2017, viríamos todos a saber nos dias seguintes, um dos dias mais trágicos no nosso país, dia de clima atípico, dia de calor extremo, dia sem humidade, dia irrespirável nas Beiras. 

Ainda a manhã não tinha chegado ao fim e já tinha bebido quase três litros de água e guardava ainda mais meio litro para o que desse e viesse (ia preparada). A uma meia-hora do Piodão vejo no caminho uma rapariga estendida no chão e o seu namorado pede-me algo com açúcar como ajuda. Dou e sigo o meu caminho pensando que tenho de chegar o mais rápido possível ao Piodão pois estou sozinha, algo que não apenas o cansaço começa a apoderar-se de mim e desato a imaginar coisas. Já não consigo aproveitar a paisagem do vale que cai para a minha direita e que sei que é belíssimo, já só penso em chegar.


E chego. Ainda com força para tirar a última foto. 
O silêncio impera. Como se antecipasse o que estaria para vir nas próximas horas.

quarta-feira, novembro 15, 2017

Fraga da Pena

Da Fraga da Pena já havia falado em tempos aqui.
Mas é lugar tão bonito, tranquilo e luxuriante que vale sempre a pena nova visita.





Localizado na Mata da Margaraça, na Área Protegida da Serra do Açor, a cerca de meia-hora do Piodão e cinco minutos da Benfeita, outra aldeia de xisto que merece uma visita, aqui vemo-nos envolvidos pela natureza em estado puro.






No meio de uma vegetação profunda descobre-se  escondida num desvio da estrada uma sucessão de quedas de água irreal, cortesia de um acidente geológico.
A maior cascata cai de cerca de 20 metros de altura para uma piscina de água transparente e fria. É difícil o sol penetrar por entre o intenso arvoredo, feito na maioria de carvalhos, castanheiros e medronheiros, pelo que este é o lugar perfeito para fugir do calor.






E avançando pelo terreno acima vários patamares se nos abrem e vamos encontramos recantos e mais recantos, lugares perfeitos para o que sonharmos, onde o silêncio apenas é interrompido pelo som da água a correr ou o ruído dos bichos que por ali habitam. 




Para enfeitar ainda mais o lugar não faltam sequer umas casinhas em xisto.
De volta à base, cá em baixo existe um parque de merendas, pelo que para além do fato de banho é obrigatório não esquecer a lancheira.