segunda-feira, novembro 17, 2008

Palácio Real e Pagode de Prata



O complexo que compreende o Palácio Real e o Pagode de Prata, situado do outro lado da rua que passa junto ao rio em Phnom Penh, é um daqueles pedaços de arquitectura que deslumbram qualquer viajante não oriental.
São cerca de 435m de comprimento por 421m de largura de vários exemplos de edifícios de arquitectura khmer, que nos dias de hoje parece ser exclusiva de edifícios públicos, como palácios, ministérios, museus, universidades ou templos.
Representada a cores de branco e amarelo (simbolizando, respectivamente, o brahmanismo e o budismo), esta é uma arquitectura simples, com pormenores esteticamente belos e elegantes, como são os seus telhados com vários níveis com torres no topo, um símbolo da prosperidade.
Um mimo.



O Palácio Real foi construído em 1866, durante o governo francês, mas muitos dos edifícios que lhe fazem companhia foram sendo acrescentados nos anos seguintes. Assim, para além da residência do rei encontramos o Salão do Trono, edifícios onde são realizadas as recepções reais e os banquetes, salão de música e de baile, museu e galeria de exposição – esta instalada num edifício construído em ferro oferecido por Napoleão III ao Rei Norodom.





No lado esquerdo do complexo encontramos o Pagode de Prata, construído no fim do século XIX e renovado em 1962, um dos poucos que foram poupados (no seu exterior) pelo regime de Pol Pot. O seu nome faz alusão ao seu chão completamente coberto de azulejos em prata. É igualmente conhecido como o Templo do Buda de Esmeralda.
À sua frente encontramos diversas stupas (espécies de mausoléus) e estátuas do rei.




Todos estes elementos e toda esta diferença estética e bom gosto faz com que nos encantemos ainda mais com esta cidade. Como esquecê-la?

sexta-feira, novembro 14, 2008

Phnom Penh



A entrada no Cambodja fez-se navegando calmamente pelo Rio Mekong.
À medida que nos íamos aproximando da fronteira, as casas assentes em palafitas sobre a água iam ficando mais esparsas, mas os búfalos e as crianças, esses, continuavam a aproveitar a água do rio para se divertirem.
À chegada à fronteira trocámos de barco e todos optámos pelo “slow boat” que demoraria cerca de 4 horas até à capital Phnom Penh. Éramos 15 a destilar dentro de um teco teco que insistia em manter-se à tona da água. Por todos nós, homens ou mulheres, ocidentais ou orientais, escorriam abundantes gotas de suor. Até hoje, posso afirmar sem medo de errar, nunca suei tanto na minha vida. E estava sentadinha num banco, à larga, sem mexer o que quer que fosse que pudesse acelerar a queda dos pingos.
Depois de deixarmos o barco fizemos mais cerca de 1 hora de viagem de carro até Phnom Penh, numa condução louca e barulhenta numa espécie de auto-estrada. Quanto a isto, nada de muito diferente para as cidades do Vietname.



O que pareceu diferente a olhos vistos foi a pobreza e a sujidade nas ruas de Phnom Penh. A acrescer a isto a pouca iluminação quando o sol cai e muitos pedintes e estropiados na marginal, deveremos concluir ser Phnom Penh para esquecer e passar rapidamente a Angkor, este sim, o grande monumento que faz a esmagadora maioria dos turistas visitar o Cambodja? Longe disso, muito longe mesmo.
Apesar de toda a caracterização negativa de Phnom Penh feita acima, esta é uma cidade bem interessante e, lá está, carismática, daí que se goste de deambular pelas suas ruas, caminhar junto ao rio, observar a arquitectura dos seus edifícios, entrar pelos seus mercados, juntarmo-nos ao rebuliço dos seus habitantes e dos seus tuc tucs.
Para além disso, há que conferir todo o desconto ao Cambodja e, em especial, a Phnom Penh.
Outrora lar de uma civilização brilhante que temos a sorte de nos ter legado – praticamente intacta – o complexo de Angkor, o Cambodja foi desde sempre alvo de invasões e domínio de estrangeiros.
Mais recentemente calhou-lhe viver atrocidades brutais e inimagináveis impostas por alguns dos seus próprios cidadãos, sob o comando do Khmer Vermelho de Pol Pot. E este recentemente é mesmo muito recente – só em Janeiro de 1979 os arqui-rivais Vietname vieram para derrubar o regime de Pol Pot no vizinho Cambodja, com quem estavam em guerra, mas o Khmer Vermelho fugiu para o interior do país e continuou activo – vide as inúmeras minas espalhadas pelo país até hoje – até à cedência definitiva apenas em 1998.
Esta história começou em 1975 e apesar de ter durado pouco mais de 3 anos deixou marcas profundas – para toda a humanidade, há que dizê-lo. Só para se ter uma pequena ideia (todo o mal desta triste história é-nos impossível de entrar na cabeça), Phnom Penh – que tem hoje cerca de 1,2 milhões de habitantes – chegou a ter nessa altura apenas 50 mil, dadas as politicas absurdas de levar os cidadãos em massa para o campo com o objectivo de montar uma sociedade exclusivamente agrária com todos trabalhando no cultivo. Dinheiro e propriedade privada foram conceitos totalmente abolidos e a repressão, violência e tortura eram rainhas.
Uma pequena parte de todo este horror é-nos dado a conhecer no Museu Tuol Sleng, instalado numa antiga escola que no tempo de Pol Pot foi transformada numa prisão conhecida como Prisão de Segurança 21 – S-21. A sua visita é muitas vezes descrita como uma experiência deprimente. É-o. Mas é também imprescindível. Até para se constatar in loco um outro aspecto a juntar a toda esta falta de sentido. O local onde a antiga prisão (antiga escola, hoje museu) está instalada é uma zona residencial. As celas (antigas salas de aula) onde hoje se encontram expostos alguns objectos de tortura e fotografias das vítimas têm à sua entrada um aviso solicitando que os visitante sejam contidos e não se riam. No entanto, da janela de uma das celas, foi impossível evitar esboçar um sorriso depois de bater com o olhar numa varanda do prédio do outro lado da estreita rua onde duas crianças dançavam inocente e freneticamente ao som de uma música ritmada em altos berros.
Mas Phnom Penh não é só esta má experiência. Aliás, tendo a sua história recente em mente, mais valor se dá à cidade e aos seus habitantes no esforço que tem sido colocado na sua recuperação.
E parecem ser muitos os estrangeiros que têm escolhido aqui viver. Neste ponto a doutrina cá de casa divide-se – a mana acha que são todos turistas os muitos ocidentais que por lá se vêem; já eu acho que são estrangeiros ocidentais que escolheram viver numa das capitais do sudeste asiático que, segundo se diz, oferece melhor vida nocturna e boas compras sempre aliadas ao exotismo do oriente. E digo isto por ver esses ditos a caminhar pelas ruas de forma descontraída e cómoda como só aqueles que se sentem em casa sabem caminhar, com sacos de comprar diárias na mão. E por ter lido umas quantas histórias de executivos que aqui escolheram viver (aí as oportunidades de negócio em países em desenvolvimento…), muitos deles numa constante ponte aérea com a mais estável e bem próxima Banguecoque.
E este facto faz com que os extremos se toquem – a pobreza dos autóctones e o luxo e boa vida dos estrangeiros.



E boa vida é o que se pode levar em Phnom Penh, principalmente na sua frente de rio, onde encontramos os melhores hotéis, restaurantes e bares, com um design tão familiar ao gosto ocidental que parece que estamos em casa. Felizmente não estamos e por isso é que paredes meias com aqueles podemos ver maravilhados edifícios em arquitectura khmer como o Palácio Real e o Pagode de Prata e o Museu Nacional.




Outros ícones da cidade que são estranhos a nossa arquitectura ocidentalizada são os Wats. No Wat Phnom, instalado numa colina (Phnom significa, precisamente, colina), no meio de um concorrido parque que é um hino ao kitsh, com um elefante às voltinhas, namoradinhos, crentes, vendedores e, coisa esquisita, senhores com gaiolas de pássaros na mão à espera que alguém (e ainda são uns quantos) lhes dê uns trocos para soltar os ditos passarinhos (confesso que não captei bem o significado da coisa, mas parece que é um costume por aqui).



E os mercados, como não podia deixar de ser, são outro ponto de paragem obrigatório. Desde logo o Psar Thmei, edifício muitíssimo interessante em arquitectura Art Deco, cortesia dos franceses. Mas para as melhores compras, o local a escolher é o Psar Tuol Tom Pong, também conhecido como Mercado Russo, onde se encontram um sem número de produtos falsificados.




Mas não há volta a dar, a minha preferência vai toda para a vida intensa da cidade, do seu movimento. E nada melhor do que ir dar novamente à frente do rio junto ao Palácio Real. Na confluência dos rios Tonlé Sap e Tonlé Bassac, ambos braços do Mekong, vemos toda a gente a passear ao fim da tarde, pobres, remediados, ricos, monges, turistas. Vários grupos de homens na casa dos 30 / 40 anos jogam uma espécie de badminton com os pés, executando autênticos malabarismos que não deixariam o nosso Cristiano Ronaldo envergonhado. Uns miúdos com 8 / 10 anos exibem todo o seu talento nos saltos para o rio, esmerando-se ainda mais sempre que passa um barco carregadinho de turistas. Pela manhã bem cedinho, por volta das 6:00 (ou devo dizer madrugada?), é a vez da ginástica matinal, tanta gente, mas tanta gente, como não vemos nem por volta das 12:00 de domingo num qualquer parque público do nosso país.
Esta é, pois, uma forma simples e inesquecível de passar uns momentos em Phnom Penh, apenas sentando-nos a observar relaxadamente a vida neste pedaço do Oriente.

terça-feira, novembro 11, 2008

Para Além de Hué e Hoi An

No caminho de Hue para Hoi An fica o Hai Van Pass, com a praia de Lang Co lá bem em baixo. Há quem defenda que esta é uma das estradas mais bonitas de toda a Ásia. A paisagem, por entre as montanhas verdejantes que descem abruptamente para o mar, deixando apenas belíssimos e planíssimos vales entre estes dois elementos, a paisagem, dizia, parece de facto brutal. E se digo “parece” é porque o tempo fechado e as nuvens que ele trouxe não permitiram mais do que vermos a espaços, pelas nesgas das raras abertas, todas as potencialidades da paisagem. Aliás, Hai Van quer dizer precisamente “mar de nuvens”.
Nos últimos anos foi construído um túnel de quase 7 km por entre as montanhas para poupar tempo no caminho, e os autocarros passaram a utilizá-lo. Este foi um dos motivos que nos fez optar por um carro privado - o outro foi o horário do autocarro, incompatível com o nosso escasso tempo e a vontade de conhecer mais e mais nesse escasso tempo.
Assim, conseguimos aproveitar a mesma tarde para visitar as Marble Mountains.
Este fenómeno da natureza fica no extremo norte de China Beach, junto à cidade de Danang, antes de se chegar a Hoi An.


São uma verdadeira surpresa. Não só por vermos um sem número de pagodes a irromper das montanhas de mármore, mas também pelo inesperado de darmos de caras com umas caves enormes, em espaço e altura, por onde o céu aberto vai avançando.
Uma dessas caves, a mais esmagadora, está hoje transformada em catedral, mas nos tempos da Guerra do Vietname foi utilizada como hospital de campanha.
Também por My Son andaram os americanos. Os soldados e as suas bombas. Estas ruínas do antigo reino Champa estão classificadas como património da Unesco e estão localizadas a cerca de 50 km de Hoi An. A sua importância histórico-cultural é evidente, assim como evidente é a beleza da sua envolvente natural – rodeada pelas montanhas e vales verdejantes.
Os Champas, ainda hoje uma importante minoria étnica no Vietname, desenvolveram em My Son um centro religioso entre o século IV e XIII, construindo diversos templos dedicados às divindades que adoravam. Há quem compare o significado que estas ruínas têm para os Champas com aquelas ruínas que vemos ainda hoje em Angkor, no Cambodja, bem como com outras grandes civilizações do sudeste asiático. Salvas as devidas ressalvas no que a proporções e estado de conservação diz respeito, é também muito interessante a visita a My Son, pese embora o calor intenso com que temos de batalhar.

sábado, novembro 01, 2008

Hoi An – A Acolhedora



Hoi An é umas das cidades com mais charme em todo o Vietname. Extremamente turística, nem este factor afasta os viajantes mais exigentes no que diz respeito a viverem uma experiência diferente e não massificada. Talvez tudo se resuma a carisma – ou se tem ou não tem, e Hoi An tem-no de sobra.
Conhecida nos tempos idos como Faifo, entre os séculos XVII e XIX foi um dos portos no caminho das rotas comerciais internacionais mais importantes de toda a Ásia. Daí para cá foi perdendo influência para a vizinha Danang, hoje a 4.ª maior cidade do Vietname, para isso muito tendo contribuído também a destruição da linha férrea que passava por Hoi An no princípio do século XX – e nunca mais recuperada até hoje.
Ou seja, para se chegar a Hoi An temos de vir de avião ou comboio até Danang e depois fazer de carro os 30 km que separam as duas cidades.
Nós viemos num carro particular desde Hué, com um motorista que não entendia nem a palavra “stop”. Mas chegámos, ainda que depois de termos rodado mais do que uma vez a rua do nosso hotel.
Antes de nós, aqui estiveram muitos outros portugueses, dos primeiros europeus a chegar a estas terras, como é habitual na nossa rica história.
Mas da nossa pátria não se sente actualmente influência, ao contrário da dos japoneses e chineses – ainda hoje esta última cultura é fortíssima por aqui.



O centro histórico de Hoi An está classificado como Património Mundial pela Unesco e, para além de passearmos pelas suas revitalizadoras ruas, podemos encontrar abertos ao público uma série de edifícios – uns mais interessantes do que outros, é certo – mediante o pagamento de um bilhete geral cujas receitas vão para um fundo de conservação da cidade. São museus, templos, pagodes, casas antigas, assembly halls das várias congregações chinesas.






Um dos postais da cidade é a Ponte Coberta Japonesa, construída para ligar o quarteirão japonês ao quarteirão chinês.
Mas à parte todo o interesse histórico-cultural, o que Hoi An tem de mais especial para nos oferecer são momentos relaxantes, seja enquanto caminhamos pelas suas ruas observando os edifícios bem conservados, descansando junto ao rio com as suas águas calmas, entrando numa das inúmeras galerias de arte, sentando num dos muitos acolhedores cafés ou procurando alguma pechincha para comprar. As compras são também o que fazem a fama de Hoi An e muitos perdem-se por aqui – é possível mandar fazer de umas simples sandálias a um fato por medida de um dia para o outro.
Também a comida é um dos pontos altos de qualquer experiência em Hoi An, em especial no restaurante Café des Amis. É só sentarmo-nos e esperar que o Sr. Kim vá trazendo comida, mais comida e mais comida, sem um menu pré-definido. Uma surpresa que enche, literalmente, a barriga.


À distância de umas pedaladas de 4 km fica a praia de Cu Dai, parte do extenso areal de 30 km que vai de Hoi An a Danang a que se chama China Beach. A jornada sempre plana não é cansativa, está a salvo das loucuras do trânsito das outras cidades vietnamitas e faz-se lado a lado com um cenário lindíssimo que torna a viagem bem agradável.
China Beach é a praia tornada famosa por uma série de tv americana dos anos 80 com o mesmo nome, a qual retratava a vida dos soldados americanos durante a Guerra do Vietname. Com mais ou menos veracidade nas suas aventuras, era para aqui que os soldados vinham relaxar do pesadelo da guerra.
A praia de Cu Dai, a mais perto de Hoi An – e não reservada em exclusivo para resorts – é bonita, com areia e água limpa. No ano de 2008 ainda há por aqui muitas zonas acessíveis a qualquer pessoa, mas, atendendo à construção desenfreada de resorts mesmo em cima da areia ou não muito longe dela a que se assiste na actualidade, presume-se que estender livremente a toalha por estas bandas irá passar a ser uma missão dificílima.




E, para a posteridade, Hoi An ficará para sempre também na minha memória por um facto que demonstra toda a descontracção que se vive nesta cidade de quem todos gostam. No hotel que escolhemos para passar as nossas 3 noites na cidade, um 3 estrelas normalíssimo, os funcionários eram simpáticos e prestáveis, como todos os que conhecemos no Vietname. Que por volta das 9:00 da noite estivessem como qualquer cliente a navegar na internet num dos computadores do hall do hotel, nada de mais. Que por volta das 10:00 da noite a menina da recepção andasse a desfilar pelo mesmo hall de pijaminha e escova de dentes na mão, já é mais estranho. Mas às 5:30 da manhã ver o rapaz da recepção a dormir num divã montado no hall desta história, com mosquiteiro e tudo, é hilariante e roça o absurdo. Para nós, ocidentais. Ou talvez não o seja. Talvez seja mesmo a diferença na forma de encarar a privacidade entre este lado do mundo e o outro e a diferença, já se sabe, faz-nos aprender e compreender melhor a realidade global.