quinta-feira, setembro 24, 2009

Berlengas

Um passeio de um dia às Berlengas só não se torna num dia perfeito pelo simples pormenor, mas impossível de negligenciar, de que o “pacote” vem acompanhado de um tormentoso trajecto de barco de cerca de 45 minutos para lá e mais 45 minutos para cá. Diz quem sabe que os primeiros 45 minutos são os piores, como que a dizer que não há paraíso sem se passar previamente pelo inferno e, então, na ausência dos comprimidos não restou outra solução se não fechar bem os olhos e fazer de conta que o saquinho que a tripulação nos dá logo de entrada é mesmo para o lixo que não se deve deixar na ilha, e não para a consequênciazinha do mítico enjoo.
A última (e única?) vez que tinha estado na pequena ilha foi seguramente há bem mais de 20 anos. Só me lembrava, pois, daquela subida bem pronunciada que nos espera logo à entrada. Mas porque que é que não tinha claro na memória aquela transparência intensa das suas águas?
Um dia nas Berlengas dá apenas para caminhar um pouco até ao pitoresco forte (mais água de cores de sonho), apanhar um barquinho conduzido por um daqueles artolas que se gaba de só trabalhar nos meses de Verão e que nos conta umas histórias muito duvidosas acerca das grutas por onde vamos passando e, por fim, tentar estender a toalha na praia mínima junto ao porto. Aqui, debaixo do sol, vamos ganhando coragem para entrar na água gélida e, após a missão ser superada, ganhamos ainda mais coragem para imitar os miúdos e saltarmos como eles da prancha rumo à água transparente.





Um fim-de-semana nas Berlengas será talvez o ideal. Mas, agora que a residencial no Forte São João Baptista foi fechada pela ASAE (diz que devido à pouca qualidade da água doce) a única solução para passar a noite é acampar no parque de campismo. E a ver pela sujidade das tendas que por lá estavam e os berros esganiçados das gaivotas, acredito que seja isso mesmo: passar a noite, porque dormir deve ser difícil.
Mas, pensando bem, quem quererá dormir numa ilhota quase exclusiva, com uma fauna e flora apelativas, com aquela imensidão de céu bem estrelado (assim o imagino) a rodear aquele pedacinho de terra cravado no imenso Oceano Atlântico?

segunda-feira, setembro 14, 2009

Geysir

Algo do género no nosso país só mesmo isto


Vulcões de água - Parque das Nações

É engraçado. Mesmo surpreendente. Tem encanto. É até uma delícia observá-lo. No entanto é uma obra, ainda que notável, meramente humana.
Em contraponto, na Islândia, existe um fenómeno que pouco tem origem na acção antrópica. Aí estão concentrados muitas das manifestações naturais existentes no planeta, responsabilidade da sua imensa actividade vulcânica e sísmica, ou não fosse o país situar-se entre a placa americana e a euroasiática.
Um dos fenómenos mais espectaculares, estrondosos, surpreendentes e viciantes de admirar é o geysir. O nome Geysir, vem do mais antigo registo de erupção de águas quentes, que ocorreu no vale de Haukadalur, na Islândia. Desde aí a palavra geysir caracteriza todos os fenómenos de jorramento de águas quentes.
O Geysir (o original) deixou de funcionar mas felizmente ao lado, igualmente no campo geotérmico de Haukadalur, funciona o Strokkur, o geysir, actualmente, mais espectacular em actividade na Islândia. De 4 a 8 minutos dá-se uma erupção de água a ferver a uma altura que pode chegar aos 23 metros.



O Strokkur está em actividade desde 1789, depois de um terramoto que desbloqueou o sistema do geysir. Esteve em actividade até 1896, quando um novo terramoto bloqueou o geysir. Desde 1963 até actualmente foi de novo desbloqueado e encontra-se em actividade.
Observar o Strokkur é um espectáculo. Desde a expectativa do momento de explosão, que é vivido ansiosamente a olhar para o buraco por onde a água é expelida e que no tempo que intermedeia a explosões é um borbulhar constante;


o inicio da erupção que tem um efeito magnifico, em que a água ganha uma tonalidade mágica;


a erupção que, ainda que seja o momento mais esperado, é surpreendente e causa mesmo emoção; até, por fim, o efeito de bruma que fica na atmosfera devido à diferença de temperaturas da água, que chega a atingir os 120º C, e a temperatura atmosférica.



Quando se está a fotografar o fenómeno a ansiedade da espera é ainda mais vivida porque cada etapa tem o seu momento, que tem tanto de lindo como de fugaz. Mas quem resiste a documentar este momento?Já sem máquina fotográfica em punho, observei mais descansadamente, mas sempre com uma pontinha de ansiedade, o geysir Strokkur diversas vezes e de vários ângulos, sem haver qualquer enfado. Tudo é tão deslumbrante e inusitado que consegue-se ficar horas a fio a observar esta magia da natureza.