domingo, fevereiro 28, 2010

Chile Está Temblando

"Puerto Montt está temblando"
de Violeta Parra

Puerto Montt está temblando
con un encono profundo
es un acabo de mundo
lo que yo estoy presenciando
a Dios le voy preguntando
con voz que es como un bramido
por qué mandó este castigo
responde con elocuencia
se me acabó la paciencia
y hay que limpiar este trigo.

Se me borró el pensamiento
mis ojos no son los míos
puedo perder el sentido
de un momento a otro momento
mi confusión va en aumento
soy una pobre alma en pena
ni la más dura cadena
me hubiera afligido tanto
ni el mayor de los espantos
congela así las venas.

Estaba en el dormitorio
de un alto segundo piso
cuando principia el granizo
de aquel feroz purgatorio
espejos y lavatorios
descienden por las paredes.
Señor, acaso no puedes
calmarte por un segundo
y me responde iracundo:
pa'l tiburón son las redes.

No hay palabras en el mundo
para explicar la verdad
ni talento en realidad
pa penetrar en profundo
qué viento más iracundo
qué lluvia tan alarmante
qué pena tan abundante
quién me da la explicación
sólo el sabio Salomón
pero se halla tan distante.

Del centro salté a la puerta
con gran espanto en el alma
rogando por una calma
pero el temblor va en aumenta.
Todo a mis ojos revienta
se me nubla la cabeza
del ver brincar en la pieza
la estampa de San Antonio
diciendo: muera el demonio
que se anda haciendo el que reza.

La mar está enfurecida
la tierra está temblorosa
qué vida tan rencorosa
lo trajo la atardecida
con una angustia crecida
le estoy pidiendo al señor
que detenga su rencor
tan sólo por un minuto
es un peligro este luto
pal alma y el corazón.

Así fue señores míos
la triste conversación
que en medio de aquel temblor
sostuve con el divino
cuando pasó el torbellino
de la advertencia final
bajito empezó a llorar
mi cuerpo resucitado
diciendo Dios'tá indignado
con la culpa terrenal.

Me aferro con las dos manos
en una fuerte manilla
flotando cual campanilla
o péndulo disparado
qué es esto mi Dios amado
dije apretando los dientes
pero él me responde hiriente
pa'hacer mayor el castigo
para el mortal enemigo
del pobre y del inocente.

quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Manas Aus Munchen

Começando por uma constatação.
Estranha cidade esta em que não se vêem indivíduos a exibir os telemóveis pelas ruas, não obstante os omnipresentes néons a anunciar as grandes marcas de telecomunicações e as correspondentes lojas. Que num McDonald cheio do centro da cidade não se veja mais do que um, dois miúdos agarrados a esta peça que na sociedade do meu país é absolutamente indispensável em qualquer lugar, em qualquer situação, em qualquer faixa etária.
Estranha cidade esta em que com um frio a raiar o insuportável as pessoas teimam em caminhar pelas ruas, seja neve ou chuva o que vai caindo dos céus, entrando aqui e ali nas lojas aquecidas e de bom gosto.
Munique é, dizem, uma cidade modelo quer ao nível da eficiente e versátil rede de transportes, quer ao nível da limpeza que apresenta. Não conhecendo todas as cidades do mundo, não custa, no entanto, acreditar que assim seja, tão fácil que é adaptar-se à capital da Baviera e sentir-se logo confortável pelos seus caminhos e cantos.
A zona da estação dos comboios, por exemplo, que costuma ser sempre uma das menos simpáticas, senão mesmo repulsivas, das grandes cidades, encontra-se limpa, com montras cuidadas e fica a dois passos do centro.





A dominar o centro do centro fica a Marienplatz, com o Neues Rathaus e seu carrilhão com os bonequinhos que teimam em dançar ao bater das horas, o Altes Rathaus e, um pouco mais a trás, a igreja St Peter e a imperdível subida à sua torre para nos dedicarmos a um dos desportos mais esperados de todas as viagens – entrar na pele dos pássaros e admirar tudo o que a vista alcança, Alpes incluídos, tentando identificar aqui e ali um dos símbolos da cidade, seja a torre olímpica, o Allianz Arena, o edifício da Mercedes ou da BMW ou as Pinacotecas.



Lá em baixo, bem juntinho, fica o Virtualienmarkt, um mercado de rua diferente de todos aqueles a que estava acostumada. Dizer que é limpo é apenas uma repetição dos primeiros parágrafos, dizer que é chique será apenas uma constatação lógica daquilo que se espera da cidade mais rica da Alemanha. Mas, não, não é exactamente isso que se pensa quando se imagina um mercado de rua com comida para todos os gostos. Aqui os gostos serão os mais apurados, os olhares os mais delicados e os cheiros ficam para outras paragens. Não obstante, nesta praça há um dos muitos biergarten com mais uma das suas inconfundíveis torrezinhas toda rococó.



Depois, Munique é ainda as ruas pedonais Neuhauser e Kaufingerstrasse para as compras. Na Maximilianstrasse ficam as lojas de 10 entre cada 10 marcas de vestuário mais fashion do planeta. O Englisher Garten é reconhecido como sendo um dos mais extensos parques urbanos da Europa, uma espécie de Central Park ou Hyde Park a que não falta sequer uma onda para o surf.







Às já famosas Pinacotecas (Alte Pinakothek para a pintura anterior ao século XVIII, Neue Pinakothek para a pintura do século XVIII e XIX e a Pinakothek der Moderne para a arte do século XX) junta-se agora, fresquinho, o Museu Brandhorst com a sua arquitectura colorida (depende do ponto por donde observamos o edifício) que vem trazer uma jovialidade a todo este quarteirão, contrastando com a dureza do edifício da primeira Pinacoteca e a elegância das outras duas.





Aliás, esta zona perto da Konigsplatz é um bom exemplo da arquitectura de princípios do século XVIII, de largos espaços e edifícios imensos e monumentais, tudo em larga escala, que o Partido Nazi, no terceiro Reich pensou adequada para lá fazer os seus comícios.
E, para algo totalmente oposto, Munique é ainda caminhar pelos bairros que vão lançando as tendências ao longo das últimas décadas como Schwabing, Haidhausen ou Glockenbachviertel ou Gartnerplatzviertel.

Um lamento de Munique, apenas. Uma cidade cosmopolita, atraente e acolhedora não se cria sem regras firmes. Mas será que tem de se levar mesmo tão à risca os horários? Por que é que o senhor da bilheteira do Residenz não pensou e agiu assim de uma forma mais sulista e menos elitista e abriu uma excepção para me deixar entrar às 16:05 (quando a última entrada era às 16:00 para o museu fechar às 17:00) no meu último dia em Munique só para eu poder apreciar o tão admirado Antiquarium, diz quem sabe uma sala lindíssima? Está visto, terei de voltar em breve.