Quem disse que cultura e futebol não jogam na mesma equipa?
Hoje iniciei a manhã pela exposição do Gauguin na Tate Modern. Cheguei vinte minutos antes das 10:00 e como boa britânica fiz gala em estar na bicha para pacientemente esperar pela minha entrada. Quer dizer, quando a porta abriu o espírito paciente foi-se e desatamos – eu e os companheiros de bicha – a correr para não perder o bilhete da concorrida exposição.
Para dizer a verdade, tirando um ou outro quadro deste Gauguin, o que aqui estava não me seduziu assim por aí além. E eu até que sou bem fã do senhor que acabou a sua vida na Polinésia, mas são precisamente os quadros desta fase que me seduzem, e desses não havia muitos exemplares por lá.
Já que estava na Tate aproveitei para ver as sementes de porcelana que o artista chinês Aí Weiwei deixou na imensidão da Turbine Hall e fiquei com a certeza: passa com cada maluco por aqui.
Adorei ainda ver a maqueta com a expansão da Tate. Será brutal vir a ver aquele espaço mais do que muito aumentado e, mais ainda, a reconversão de mais uns quantos fantásticos edifícios industriais. Fica para daqui a uns anos.
Depois, já que tinha encontro marcado à tarde para a zona nordeste de Londres, fiz questão de correr a pé a Upper St em Islington, para encontrar mais umas quantas lojas que queria fechadas.
Às 15:00 em ponto já estava em White Hart Lane para ver o meu Tottenham Hotspur ganhar. Os hooligans são afinal muito ordeiros, a polícia trata os adeptos como gente, sem revista com apalpões descarados, e o álcool é permitido dentro do estádio até à entrada para as bancadas. Tudo lindo, portanto. O estádio não é tão confortável como o do meu Sporting, mas a competitividade do jogo foi intensa, ainda que tecnicamente não tenha sido grande coisa. E o som dos adeptos foi outra diferença, mais carregado, vindo na esmagadora maioria de homens, o que não se vê tanto em Alvalade. Achei foi que os "Come On You Spurs" vieram só depois do primeiro golo. Não gostei muito de ver o pessoal do Newcastle, lá do outro lado, a gritar mais do que “nós” na primeira parte.
Depois do jogo, e de andar bem até à estação de metro (mais de meia hora para lá e mais de meia hora para cá) fiz nova tentativa de rumar a Bricklane para encontrar a Rough Trade East aberta. Para a posteridade, fica apenas a foto da entrada.
Vencida, a única solução foi ir até aos armazéns Selfridges, na Oxford St, agora que os primeiros dias de saldos já tinham passado. A derrota num dia quase perfeito.
sexta-feira, janeiro 21, 2011
Hinduismo, Parques e Livros
Hoje, segunda-feira seguinte ao Boxing Day, já havia metro. Pus-me, então, a caminho do noroeste londrino, lá para os lados de Wembley, com vista mesmo para o anel do estádio, e cheguei num pulinho a uma outra Londres.
Em Brent, escondido num bairro residencial junto a uma auto-estrada fica o maior templo hindu fora da Índia.
O Shri Swaminarayan Mandir é surpreendente pela alvura do mármore da construção e pela estética delicada no meio da paisagem escura dos arredores de Londres.
Somos lá bem recebidos, calçado deixado à porta, museu com a história do hinduísmo, templo com cerimónia de cerca de oito minutos com homens à frente e mulheres atrás e, no fim, átrio com loja de recordações para turista ver. Mas não há turista por ali, ou pelo menos não havia naquele dia junto às festas do Natal.
De volta para o metro, em direcção a Hampstead Heath, uma outra surpresa: afinal parece que ainda não estavam todas as linhas do metro a funcionar. O autocarro substituiu o trajecto por cima da terra. Apesar do tempo que demorou a chegar, fiquei contente em conhecer lugares a que de outra forma não teria ido.
Em Hampstead Heath não perdi muito tempo, infelizmente. O gelo que cobria o parque meteu-me em sentido e o medo de escorregar fez com que não entrasse mais do que uns poucos metros até chegar a um lago quase totalmente congelado.
Já por estrada segura, andei uns quantos quilómetros até chegar a uma estação de metro aberta e rumei até Primrose Hill. Aqui não me lembrava de alguma vez ter estado, mas já tinha ouvido falar da sua vista. Sorte, o tempo aberto, de céu limpo para os padrões londrinos, deixava identificar vários edifícios ícones da cidade, como a catedral de São Paulo, e outros que são também já um must, como o Pepino de Foster e o Eye.
Desci por ali abaixo até vir ter ao fim (inicio?) do Regent´s Park já com o dia a cair.
Daqui em diante o dia seria dedicado às livrarias. Às primeiras livrarias, para ser mais precisa. Primeiro a Daunt Books, ali perto na Marylebone, bem acolhedora, com uns quantos pisos com todos os livros divididos não por temas mas por país. Depois gostaria de ter visitado a British Library, e aqui, logo ao segundo dia completo em Londres, comecei a irritar-me seriamente. Mais um para a colecção dos fechados.
Não tive outra solução se não a de caminhar um pouco e descer Bloomsbury afora, passando pela Russell Square com o seu hotel que mais parece tirado de um jogo da Lego. Até chegar à livraria Gosh!, perto do British Museum, e me perder com os livros de BD. Ainda sobrou um tempo para dar com as portas fechadas de mais duas livrarias que trazia apontadas.
Mas o que vale é que Convent Garden é animada a qualquer hora, ainda mais se apesar de a noite ter caído ainda não são 6 horas, certo? O melhor é rever a minha ideia de Londres, cidade cosmopolita e aberta ao mundo.
Em Brent, escondido num bairro residencial junto a uma auto-estrada fica o maior templo hindu fora da Índia.
O Shri Swaminarayan Mandir é surpreendente pela alvura do mármore da construção e pela estética delicada no meio da paisagem escura dos arredores de Londres.
Somos lá bem recebidos, calçado deixado à porta, museu com a história do hinduísmo, templo com cerimónia de cerca de oito minutos com homens à frente e mulheres atrás e, no fim, átrio com loja de recordações para turista ver. Mas não há turista por ali, ou pelo menos não havia naquele dia junto às festas do Natal.
De volta para o metro, em direcção a Hampstead Heath, uma outra surpresa: afinal parece que ainda não estavam todas as linhas do metro a funcionar. O autocarro substituiu o trajecto por cima da terra. Apesar do tempo que demorou a chegar, fiquei contente em conhecer lugares a que de outra forma não teria ido.
Em Hampstead Heath não perdi muito tempo, infelizmente. O gelo que cobria o parque meteu-me em sentido e o medo de escorregar fez com que não entrasse mais do que uns poucos metros até chegar a um lago quase totalmente congelado.
Já por estrada segura, andei uns quantos quilómetros até chegar a uma estação de metro aberta e rumei até Primrose Hill. Aqui não me lembrava de alguma vez ter estado, mas já tinha ouvido falar da sua vista. Sorte, o tempo aberto, de céu limpo para os padrões londrinos, deixava identificar vários edifícios ícones da cidade, como a catedral de São Paulo, e outros que são também já um must, como o Pepino de Foster e o Eye.
Desci por ali abaixo até vir ter ao fim (inicio?) do Regent´s Park já com o dia a cair.
Daqui em diante o dia seria dedicado às livrarias. Às primeiras livrarias, para ser mais precisa. Primeiro a Daunt Books, ali perto na Marylebone, bem acolhedora, com uns quantos pisos com todos os livros divididos não por temas mas por país. Depois gostaria de ter visitado a British Library, e aqui, logo ao segundo dia completo em Londres, comecei a irritar-me seriamente. Mais um para a colecção dos fechados.
Não tive outra solução se não a de caminhar um pouco e descer Bloomsbury afora, passando pela Russell Square com o seu hotel que mais parece tirado de um jogo da Lego. Até chegar à livraria Gosh!, perto do British Museum, e me perder com os livros de BD. Ainda sobrou um tempo para dar com as portas fechadas de mais duas livrarias que trazia apontadas.
Mas o que vale é que Convent Garden é animada a qualquer hora, ainda mais se apesar de a noite ter caído ainda não são 6 horas, certo? O melhor é rever a minha ideia de Londres, cidade cosmopolita e aberta ao mundo.
terça-feira, janeiro 18, 2011
Boxing Day
Seguindo à risca o cumprimento do meu plano londrino – andar a pé – tive logo no dia 26 de Dezembro, o Boxing Day, uma providencial ajuda: o metro em greve. Esperei, esperamos todos, então, pelo autocarro londrino que me levaria de Earl´s Court até Oxford Street. Depois dai logo se veria, mas uma coisa era certa: tentar entrar nas lojas no primeiro dia de saldos estava fora de questão – faltei aos treinos de preparação defensiva, ou ofensiva, sei lá, para compras. Só a bicha afugentava.
A ideia era chegar a Spitalfields para o mercado de mesmo nome e para o de Bricklane. Consegui outro autocarro para Liverpool Street e livrei-me de andar um pedaço. A partir daqui a minha sina conta-se de forma breve:
Mercados não havia: era o boxing day;
Loja de música Rough Trade East fechada, era o boxing day;
Pessoas na rua nem vê-las, poupo-me a dizer porquê.
Solução? Ir a pé até Canary Wharf, como tinha pensado num momento de menor sanidade mental.
E o certo é que é bem possível e agradável. Da Tower Bridge Tamisa adentro no sentido contrário à civilização aparece-nos pela vista e sentidos surpresa atrás de surpresa. Começa logo com um bairro de casas recentes com uma marina no centro, e respectivos barcões, bem ao lado da Tower Bridge, mas que passa bastante discreto. Um pouco mais à frente, depois de andar às voltas, vou ter a uma zona chamada muito apropriadamente Spirit Quay, transportando-me directamente para Veneza.
A partir dai estava um pouco perdida e o objectivo era ter o Tamisa mesmo à minha direita. Lá consegui e descobri que existe o “Thames Path”, especialmente ideal para ser aproveitado em dias tão pouco londrinos como este domingo: de céu limpo e soalheiro aqui e ali. Olhando para trás já não via a Tower Bridge, nem qualquer outro símbolo que identificasse Londres; para a frente só se via imponente Canary Wharf e as suas torres, já também parte da paisagem de uma outra Londres.
Mesmo assim, que bom era ir vendo amiúde o Pepino (parece que se vê de qualquer lado de Londres, e ainda bem – conferir em futuro post), a mostrar que não estava assim tão longe.
A chegada a Canary Wharf fez-me lembrar que não tinha nada a fazer ali se não apenas alcança-la a pé. Depois de uma curta inspecção pelo local – do qual gosto, muito – voltei. De autocarro, desta vez.
Até Barbican. E, adivinhem? O centro de exposições estava fechado. Pois, boxing day. Também já estava conformada e dei a volta a esta imensa cidade dentro da cidade. Não dei por mal empregue o tempo e, apesar de não me ter cruzado com ninguém na rua neste percurso todo, gostei.
De Barbican era um pulinho até Convent Garden, onde tudo acontece e onde haveria vida, certamente. Uhm… Vida, vida, só encontrei nos autocarros cheios para voltar para a minha nova casa. Em Marble Arch, até onde andei para passar o tempo, só consegui apanhar o quarto 74 que passou.
Até que cheguei fresquinha e, olhando para o mapa vejo que podia ter andado mais uns metrinhos e atravessado o rio a nadar e… estava em Greenwich. Aquela que antes me parecia tão distante.
domingo, janeiro 09, 2011
Sempre Londres
O meu objectivo nesta minha enésima vinda a Londres era conhecer Londres.
Quer, então, dizer que apesar deste sem número de vezes que já tinha ido à capital inglesa ainda não a conhecia? Exacto. Sem olhar para um mapa físico, tentando buscar o mapa da cidade na minha cabeça era incapaz de ir do Parlamento a Piccadilly. Bem, também não exageremos. O certo é que queria andar a pé pelas suas ruas, não debaixo da terra para ir de um lado para o outro, queria andar pelos seus bairros suburbanos, onde moram aqueles que fazem de Londres a cidade mais cosmopolita do mundo, queria sair e ir até Oxford, Cambridge, Surrey, Bath. Queria tudo. Em sete dias. Não fiz muito a não ser ver umas quantas coisas e chegar ao penúltimo dia e cair para o lado. Literalmente. A sorte é que o lado foi mesmo a cama do quarto do meu hotel.
Quer, então, dizer que apesar deste sem número de vezes que já tinha ido à capital inglesa ainda não a conhecia? Exacto. Sem olhar para um mapa físico, tentando buscar o mapa da cidade na minha cabeça era incapaz de ir do Parlamento a Piccadilly. Bem, também não exageremos. O certo é que queria andar a pé pelas suas ruas, não debaixo da terra para ir de um lado para o outro, queria andar pelos seus bairros suburbanos, onde moram aqueles que fazem de Londres a cidade mais cosmopolita do mundo, queria sair e ir até Oxford, Cambridge, Surrey, Bath. Queria tudo. Em sete dias. Não fiz muito a não ser ver umas quantas coisas e chegar ao penúltimo dia e cair para o lado. Literalmente. A sorte é que o lado foi mesmo a cama do quarto do meu hotel.
2010-2011
sexta-feira, janeiro 07, 2011
Pousada Flor da Rosa - Crato
Já estamos em 2011 e esta já se passou há quase 6 meses, mas ainda vai (sempre) a tempo de ser incluída no nosso blogue.
Fim de Agosto, mais de 40 graus em qualquer sombra do país, porque não uma escapada de 4 dias até ao interior do Alentejo, longe da praia?
Loucura, claro. Mas se o objectivo era descanso, porque não escolher um convento para relaxar, com vista para a planície alentejana?
A Pousada Flor da Rosa, no Crato, com intervenção moderna de Manuel Graça Dias, fica num castelo / mosteiro cheio de história que já vem do século XIV.
Já pertenceu à Ordem do Hospital e à Ordem de Malta, por aqui passaram cavaleiros e o seu fundador foi ninguém menos do que D. Álvaro Gonçalves Pereira (que tem o seu túmulo na igreja), primeiro prior do Crato e pai de D. Nuno Álvares Pereira.
Encontram-se aqui elementos góticos, o seu claustro é lindíssimo, a torre do Castelo dá-nos uma visão da pacatez da aldeia de Flor da Rosa, com as suas casas alvas com friso amarelo torrado. O mosteiro, que é monumento nacional, foi sofrendo alterações ao longo da sua história até que em nos anos 1990 se iniciaram os trabalhos para a sua reconversão em Pousada de Portugal. Muitíssimo bem conseguida, há que referi-lo.
Temos, assim, os quartos que se situam numa das alas originais do mosteiro, com mais charme, com as paredes em pedra e as camas com dossel, e os quartos mais modernos, numa ala especificamente criada para o efeito.
Os espaços comuns são monumentais, mas confortáveis. A sala do bar e do restaurante são francamente bonitas, mas os seus pratos desta última não a acompanham. A piscina, bom, em Agosto nem a piscina nos salva; mas salva-nos a sua imagem, quer de dia, rectângulo azul junto à imponência do castelo, quer de noite, com os focos de luz a iluminarem o castelo no profundo Alentejo.
Falta referir que este sitio não é só para quem pode. A igreja, os claustros e o castelo estão abertos ao público.
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Portugal,
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