Cascais fica a uma trintena de quilómetros de Lisboa.
É tão perto, tão perto, que podemos ir sempre que quisermos.
Se não for de comboio, usando veículo próprio mais rapidamente pela autoestrada ou mais delicadamente, levando todo o tempo do mundo, pela marginal. Vamos vendo o Rio Tejo a transformar-se em Oceano Atlântico, fortaleza aqui fortaleza ali, umas em terra e outra até em mar (Bugio), e muitas casas que parecem de brincar.
Também temos uma riviera e a nossa está às portas de Lisboa, embora nós, os alfacinhas, gostemos mais de se lhe referir como "a Linha".
Cascais é sede de concelho mas faz questão de continuar vila.
Está bem assim e esta antiga vila de pescadores tem tudo o que uma cidade tem mas tem algo que muitas cidades não têm: um carácter e ambiente exclusivos que nos fazem sentir bem e não querer de lá sair.
Terra de reis de cá e de outros de lá que aqui escolheram fazer a sua casa, Cascais tem um punhado de palacetes e casas apalaçadas que fazem a delícia do nosso olhar. Tudo isto com a água azul intenso do mar adornada pelos raios de sol como companheiros inseparáveis. É um privilégio (que não tenho) poder mergulhar naquele mar à porta de casa.
O centro da vila de Cascais está extremamente bem conservado. As pinturas e obras de arte urbana mostram-nos que, apesar de ter sido eleita como um dos 10 melhores locais do mundo para se viver a reforma, Cascais é lugar de gente jovem também. Temos campos de golfe, sim, mas também praias para surf e windsurf.
Berço do turismo em Portugal desde há séculos, a vila não se tem limitado nos últimos anos a viver dos rendimentos. Exporta marcas como a gelataria Santini e o restaurante de sushi Confraria para a capital, acolhe construções de um Pritzker como a Casa das Histórias e restaura a Cidadela.
Pegando nestes dois últimos exemplos.
A Casa da Histórias, inaugurado em 2009, é o museu que o arquitecto Souto Moura inventou para acomodar algumas das pinturas que Paula Rego magicou. Se as obras da pintora são características, a arquitectura do edifício não o é menos. Os dois cones em forma de pirâmide no edifício todo ele em concreto vermelho são uma imagem que não sai facilmente da memória. Tudo isto envolvido num espaço com um jardim onde o verde contrasta de forma brilhante com o ocre do edifício. Com esta arquitectura Souto Moura quis integrar a construção na paisagem edificada regional, nomeadamente na sua relação com os palacetes de Cascais e Sintra.
A Cidadela de Cascais, por sua vez, é uma construção histórica cujas reminiscências datam do século XV (com construções posteriores) com o propósito de defesa daquela área da costa portuguesa. Aberta à baía de Cascais, a Cidadela foi residência de reis e hoje é a residência oficial de verão do Presidente da República.
Quando falamos em Cidadela referimo-nos a três realidades distintas: à Torre de Santo António, construção mais antiga (1488), ao Forte de Nossa Senhora da Luz (no período em que os filipes de Espanha governaram Portugal tinha sido construída uma fortaleza, mas esta é posterior, do século XVII), ao Palácio (Museu da Presidência, aberto ao público em 2011 após 50 anos encerrado e em estado de degradação) e ao pátio interior que os liga.
No seu todo, a Cidadela é hoje um espaço turístico e cultural.
A Fortaleza de Nossa Senhora da Luz é desde 2012 uma Pousada do grupo Pestana e o seu projecto de transformação e reabilitação esteve a cargo do arquitecto Gonçalo Byrne. Os seus espaços exteriores - alguns deles públicos - estão muito bem conseguidos. Aliado à criação da Pousada tivemos a criação em 2014 do Art District. A arte contemporânea está por todo o lado da Cidadela, seja no exterior seja no interior, com galerias e ateliers dos artistas. A intenção é trazer a arte para o nosso quotidiano, sem preocupação de a contextualizar.
Casa das Histórias, Art District da Cidadela... e acabámos por nem sequer explorar o Centro Cultural de Cascais. Caminhado pela vila, muitos postais nos vão aparecendo, seja uma nova vista para o mar, seja mais um edifício apalaçado carregado de pormenores (como os omnipresentes azulejos). A arte está por todo o lado.