Ainda pensei saltar Castelo Mendo e seguir logo para Almeida, concelho de que faz parte, e Castelo Rodrigo, mas felizmente saí da Guarda bem cedo e acompanhada pelas cabras, e só por elas, atravessei a sua porta principal, virada a norte, e pude visitá-la e deixar-me por ela encantar.
Avistava já uma aldeia muralhada de longe, desde a estrada, esta povoação que deve o nome Mendo a um antigo fidalgo alcaide da praça. Hoje quase na fronteira de Vilar Formoso, ali a um passinho de Espanha, Castelo Mendo fica no cimo de um afloramento granítico onde o rio Côa passa perto.
D. Sancho I encontrou esta terra despovoada e arrasada em consequência das lutas entre mouros e cristãos e mandou reedificar o castelo. Hoje serão menos de 50 as pessoas que habitam a aldeia intra muralhas.
Diz-se que Castelo Mendo foi o lugar da realização da primeira feira franca do reino, em 1229, e só por aí já se pode medir a sua importância histórica. De mesma data o foral concedido por D. Sancho II. No mais, é uma povoação com características como outras da Idade Média: cercada por muralha, entrada principal ladeada por duas torres (com a piada de ter aqui dois “beirões” de cada lado, isto é, duas estátuas da Idade do Ferro com a cabeça cortada porque diz-se que assim assustavam o gado que passava pela arcada), núcleo central composto por igreja, Pelourinho, tribunal e câmara.
Algumas das casas possuem pormenores interessantes e mantém-se também aqui em algumas delas a ideia de primeiro piso para loja e segundo piso para habitação com acesso por escada exterior.
Mais interessante, porém, é apreciar parte da muralha com construções que lhe estão adossadas, logo a muralha desempenha aqui ao mesmo tempo também funções de residência.
Mas o lugar mais fantástico de Castelo Mendo e que torna definitivamente a aldeia inesquecível e surpreendente é o seu Castelo, designadamente a ruína da Igreja de Santa Maria do Castelo.
Implantada num local na rocha mais elevado relativo à povoação e rodeada por uma paisagem fabulosa, esta igreja românica possui um ambiente misterioso. Já perdeu a sua cobertura praticamente toda daí que uma vez lá dentro a percorramos a céu aberto. A sequência de arcos é incrível, assim como os detalhes que ainda subsistem, como pias, púlpitos, mesas de altar, colunas e pedra de armas.
Uma constante na visita a estas “aldeias históricas” despovoadas, algo remotas, em rocha e com ruínas aqui e ali é utilizar-se termos como “viagem no tempo”. Em nenhum outro lugar de nenhuma outra destas aldeias históricas essa viagem foi tão marcante e longínqua como nesta visita à Igreja de Santa Maria do Castelo Mendo.