É pena, mas acontece.
Há gente que escolhe não ir à Turquia por medo do terrorismo, esse companheiro invisível que vai dominando alguns dos nossos. E, tal como muitos outros aspectos da rotina diária que vão sendo deixados para trás, perde-se muito em aderir a esta paranóia moderna.
Já tinha marcada viagem para a Turquia para o início de Setembro. Quando rebentaram uns atentados 2 ou 3 dias antes, em diversos pontos do país, lamentei-os como os lamento sempre, seja em que ponto do globo ocorram. O local onde as bombas rebentaram encontrava-se longe daqueles que planeava visitar; mais uma razão para que nem por um segundo me tivesse passado pela cabeça a ideia de poder não viajar para o país.
Serve esta breve introdução para dizer que poucas vezes me senti tão à vontade pelas ruas das cidades / vilas de um país. Mochila às costas no meio da confusão, sem cuidados de maior. Isso quanto a eventuais assaltos, porque no que diz respeito a terrorismo não nego que pode acontecer em qualquer local mais do que pacífico e a qualquer momento. Mas não. Não tive o azar de estar no lugar certo à hora errada.
A Turquia é dos países que gera mais antipatia na Europa. Justa ou injustamente, cada um fica com a sua opinião e a minha ia e vai claramente para a última.
No que diz respeito à apreciação pelos portugueses, basta a chegada ao aeroporto de Istambul para desmistificar o ideia do aspecto “aturcalhado” que possamos ter dos seus habitantes. Poucas diferenças físicas existirão entre os turcos e os portugueses. Apreciação bem diferente, no entanto, no que toca à sua forma de vestir. Desde logo, o lenço a cobrir a cabeça das mulheres é uma presença esmagadora. Não só na Capadócia, zona central da Anatólia, como também pela maior parte das ruas de Istambul, a grande e cosmopolita cidade a meio caminho da Europa e da Ásia. Vêem-se menos mulheres de corpo inteiramente coberto, mas, ainda assim, muitas mais do que se poderia esperar de uma cidade que daqui a (poucos? / muitos?) anos virá a fazer parte da União Europeia.
No entanto, e na minha modestíssima opinião, estas questões da roupa não são mais do que fait-divers num ataque sério a fundamentalismos. Não sendo uma especialista, nem sequer breve estudiosa, em islamismo, catolicismo e outros ismos com eles correlacionados, o que vi por Istambul foi mulheres com xador, ou apenas lenço cobrindo a cabeça e camisolas de mangas compridas, caminhando pelas ruas lado a lado com meninas de t-shirt bem comportada ou moçoilas de barriga à mostra.
Contava um comerciante turco falador (duas características que dominam por aqui – comerciante e falador) que tinha conhecido há dias uma americana de Chicago que veio para a Turquia carregada de lenços para cobrir a cabeça, uma vez que tinha lido que às mulheres por estes lados lhes era exigido que vestissem assim em público. O turco, didático, explicou-lhe – e explicou-nos – que, hoje, às raparigas é lhes permitido que optem por andar vestidas como vêem as outras meninas da sua idade na televisão e nas revistas. E a esmagadora maioria veste como entende – sem lenço ou com lenço.
A Turquia é um país imenso, cerca de 8 vezes maior do que Portugal. Daí que o programa de viagem se tivesse que limitar a uns poucos dos muitos locais interessantes que o país possui. Nas 2 semanas optamos pela óbvia Istambul, acompanhada da Capadócia e de Izmir e Selkuk (Éfeso e Pamukkale). Com a excepção da Capadócia, que ainda conserva muitas tradições dos tempos antigos, tudo locais completamente ocidentalizados. De resto, algo em comum em todos estes locais: os turistas. Tivesse optado pela aventura da descoberta do Sudeste da Anatólia e talvez pudesse afirmar que havia realmente sentido o Médio Oriente.
Assim, fiquei-me pelo contacto com os turcos ocidentalizados. Abertos e simpáticos. Gostam de receber. Quando se lê numa reportagem que os turcos adoram oferecer chá a qualquer pessoa que lhes apareça pela frente e que a convidam para entrar na sua casa, isto é mesmo a realidade. E se o fazem, fazem-no por interesse: ou por quererem vender algo – mas logo avisam que só somos obrigados a beber o chá e não a comprar os seus produtos – ou por quererem simplesmente conversar, conviver. Chama-se a isto hospitalidade, literalmente.