Com o pretexto de correr pelo Porto (não, ainda não foi este ano que nos aventurámos pela Maratona),
fomos de fim de semana à
Invicta.
Mas, então,
se a prova era no domingo de manhã,
sábado foi dia
de descanso, certo? Nada disso, que o privilégio
de passear pelo Porto não
anda aí todos
os dias.
Assim, como que numa espécie
de aquecimento, saímos
da Cedofeita, onde deixámos
as malas, e caminhámos
até à Ribeira.
Revisitar Juan Muñoz
e os seus "Treze a rir de um" no Jardim da Cordoaria, Torre dos Clérigos a romper num
céu azul
intenso, Livraria Lello repleta como sempre.
A Ribeira não
lhe ficava atrás
e passámos
quase a correr pelas suas casinhas coloridas e os seus mercados de rua para
atravessarmos a Ponte Dom Luís
e almoçarmos
no Cais de Gaia. O eleito foi o DeCastro Gaia, com os sempre saborosos petiscos
de Miguel Castro e Silva, no edifício
Porto Cruz. Aí aquela
esplanada no terraço...
Parece que o Douro está
ainda mais próximo
de nós.
De volta, subimos à
Serra do Pilar, os contrastes do Porto deste século ali à vista: a modernidade e o turismo
junto ao abandono e solitude - a ponte divide-os.
Não
me canso de repetir: atravessar a Ponte Dom Luís
deveria aparecer naqueles livros de 100 qualquer coisas a fazer antes de
morrer. Então
se o São Pedro
nos brindar com umas abertas, como me tem feito sempre que me lembro de ir até ao Porto, o postal
fica perfeito. O Douro é
lindo e o cliché
do Porto escuro e velho já
era.
Junto à
Sé uma
constatação
que passa a oficial: o Porto está
na moda e os turistas estão
a inundá-la.
Espanhóis,
claro, mas também
muitos franceses, russos, asiáticos.
Deu até para
entabular uma conversa com umas chinesas que, tal como nós, apreciavam o emaranhado de telhados
misturados na paisagem do centro portuense.
Santa Catarina pode continuar a artéria mais conhecida e frequentada do
Porto, mas as ruas à volta
dos Clérigos
mostram todo o seu charme. Não
é da Rua
Galeria Paris e seus bares e restaurantes da moda que falo. É qualquer uma delas
onde se vê aberta
uma loja ou um restaurante de absoluto bom gosto. Espaços pequenos, intimistas, que parecem
oferecer uma comida de petiscos caseiros, simples mas confortáveis. Um exemplo é a outrora
abandonada Rua dos Caldeireiros que vai dar à
Rua das Flores. Estas duas vias merecem ser percorridas para se sentir
com está a
actual pulsação
da cidade. Os ferreiros já
eram, mas junto a tascas autóctones
encontramos hoje espaços
de forasteiros interessados em dar uma nova vida, mais urbana, à cidade. Sem
ruptura. Veja-se a reabilitação
da Praça das
Cardosas.
A Rua das Flores, essa, está
totalmente virada para o peão.
Para caminharmos pacificamente a observar os grafittis certeiros que por ali
pululam. Os azulejos preservados dos edifícios.
As suas varandas em ferro muito características.
As esplanadas que dão
ainda mais vida à rua.
A cor que por ali abunda. E pensar que muitos mais edifícios ainda abandonados podem ainda vir
a ser recuperados. Por agora, uma sugestão:
uma refeição
no Cantina 32, saboreando os seus pratos e aguardando ansiosamente pelas
sobremesas, em especial o cheesecake de banana caramelizada e chocolate,
apresentada num estranho e original vaso que parece não ter mais nada além de terra - report
aqui. Mesmo assim, atirámo-nos
a ele com a mesma confiança
com que horas antes nos havíamos
dedicado à nossa
corrida.
Quanto à
corrida, começámos
os 16km junto ao Palácio
de Cristal e logo subimos em direcção
à rotunda da
Boavista, um dos lugares mais inspiradores para os sportinguistas, com o leão a depenar a águia lá bem no alto. Com
ainda poucos kms nas pernas, aproveita-se para apreciar as formas da Casa da Música e ir
descobrindo os muitos edifícios
apalaçados da
imensa Rua da Boavista, sem esquecer recentes aquisições também
arrojadas, como é o
caso do edifício
da Vodafone portuense. Com o Atlântico
em frente, virámos
para a direita rumo ao Porto de Leixões
e disputámos
as ruas com os surfistas que saiam de casa para devorar as ondas mesmo ali à porta. De volta à Rua da Boavista,
confirmação de
que a Fundação
Cupertino Miranda nos esperava para a tarde para nos admirarmos com o
modernismo de Dominguez Alvarez. E, pronto, paragem algures num canto do Parque
da Cidade. Objectivo cumprido. Para o ano vem a maratona?