A necessidade de expressão pública por palavras ou desenhos é inata ao homem, podendo nós pensar nas pinturas rupestres em cavernas já na época pré-histórica.
Como antecedentes do graffiti costumam apontar-se a origem italiana da palavra e o facto de haver registos da escrita de frases e poemas nas ruas de Pompeia, a cidade que ficou coberta com a lava do Vesúvio durante tempos e tempos.
Nos anos 60 do século passado as ruas de Nova York, em especial bairros mais estigmatizados, viram-se invadidas por tags (rabiscos com o nome dos seus criadores), uma forma de demarcação do território por parte dos gangs. A técnica foi evoluindo e nos anos 80 o graffiti viria a estar associado ao hip-hop e à pop art de Andy Warhol, Keith Haring e Jean-Michel Basquiat e a uma cultura transgressora. As galerias passaram a interessar-se pelo fenómeno e o graffiti entrou no mercado artístico.
Hoje é difícil não lembrar que Banksy vende as suas obras a preços astronómicos nas melhores galerias.
Em Portugal, a moda dos graffiti chegou nos finais dos anos 80, começando igualmente pelos tags. Em muros nos subúrbios e nos comboios, os rabiscos coloridos em letras gordas eram omnipresentes. Ruído, até. Muitas críticas a esta suposta arte que vandalizava, sujava e não parecia acrescentar nada de positivo à cidade, nem sequer esteticamente. O debate estava instalado. Até que, progressivamente, os seus desenhos foram evoluindo dos rabiscos para desenhos esteticamente estimulantes, alguns com mensagens que demonstram preocupações com a cidade e a sociedade em geral, até a fazer lembrar as intervenções políticas nos muros de Paris aquando do Maio de 68 e os muros de Lisboa nos agitados tempos do 25 de Abril (três exemplos: intervenção em Campolide acerca da passividade do nosso governo face à troika, intervenção em Alcântara pró Palestina e intervenção nos muros do Estádio Universitário sobre a crise na Grécia).
Em 2010, um quarteirão devoluto na Av. Fontes Pereira de Melo foi objecto de obras de reputados artistas do meio, os brasileiros Os Gémeos e Sam3, o que foi visto como uma mais valia e não um acto sujo ou de vandalismo.
Ultimamente tem vindo a assistir-se a uma crescente aceitação desta forma de arte que nasceu ilegal. Para tal não é alheia a decisão da Câmara Municipal de Lisboa de institucionalizar o fenómeno através da criação da Galeria de Arte Urbana. Esta autarquia percebeu que os graffitis podem ser uma forma de expressão que intervém na cidade e que com ela dialoga e a instiga a pensar, provocando-a, muitas vezes com pitadas de humor e sem perder a sua faceta subversiva.
A acrescer a este apoio municipal à arte urbana, ou talvez por causa dele, veio o reconhecimento internacional de Lisboa como uma das cidades do mundo onde se pode observar esta arte com mais qualidade.
O ano passado foi lançado o livro Street Art Lisbon, em edição conjunta da GAU e da Zest Books,
o qual reúne as melhores intervenções de 2012 e 2013, apontando a localização desses trabalhos em coordenadas GPS. Espera-se que possa vir a ter continuidade.
Entretanto, existem alguns espaços em Lisboa - verdadeiros museus a céu aberto desta arte urbana efémera - onde é possível apreciar estas obras.
O Muro Azul, nas traseiras do Hospital Júlio de Matos, possui mesmo a tutela da GAU.
As paredes de um extenso muro em Campolide, em frente às Amoreiras, são também um tradicional espaço para os artistas intervirem sobre os mais variados temas, desde a política (como vimos acima) à cultura pop. A ironia é dominante.
O antigo Mercado de Chão de Loureiro, hoje parque estacionamento, é igualmente um espaço muito interessante para se visitar e apreciar o traço variado dos desenhos.
O melhor mesmo, no entanto, é confiar na atenção do nosso olhar quando deambulamos por uma qualquer rua de Lisboa, pois um belo pedaço de arte pode entrar-nos pelos olhos.
Em Marvila e seus arredores, por exemplo, de tempos a tempos (felizmente não muito longos) têm vindo a surgir uns trabalhos de grande escala em empenas de edifícios promovidos pela Galeria Underdogs, a juntar a uns quantos que já existiam pela cidade.
E já que se fala da Underdogs, obrigatório falar de Vhils, o artista de streetart português mais admirado em todo o mundo. A sua técnica é inconfundível, daí que não seja preciso confirmar a sua assinatura na parede para descobrir que é mesmo ele.
Alguns sites de arte e intervenção urbana em Portugal
Galeria de Arte Urbana https://pt-pt.facebook.com/galeriadearteurbana
Stick2Target http://www.stick2target.com
Ebano Collective http://www.ebanocollective.org