quarta-feira, abril 15, 2015

Florença

Florença. Primavera 2015. Há 538 anos, em 1482, a Primavera ficou famosa até hoje. Foi nesse ano que Sandro Botticelli criou o quadro A Primavera, uma das grandes obras do Renascimento e uma das referência que ninguém quer perder na Galleria degli Uffizi.
Florença é toda ela Renascimento, o período entre o final do século XIV e o início do século XVII, no qual se volta a redescobrir e a valorizar as referências culturais da antiguidade clássica.
Na Primavera de 2015 a cidade que encontramos não será muito diferente da de há mais de 500 anos atrás. Não na frequência, pois actualmente está repleta de turistas, mas sim na estrutura urbana.
O Arno, rio que banha a cidade, está lá desde sempre. E, provavelmente, desde sempre fascina, sobretudo ao entardecer, e marca a morfologia da cidade, ao separá-la em duas partes (o centro da cidade a norte e Oltrarno a sul), que se ligam por várias pontes.
Uma dessas pontes, a Ponte Vecchio, é um símbolo desde há muitos séculos. Pensa-se que tenha sido construída originalmente, em madeira, na Roma Antiga, sendo reconstruída em 1345, após ter sido destruída por umas cheias uns anos antes.
Pela Ponte Vecchio, passa o Corredor Varasi, construído pelo arquitecto Giorgi Varasi, em 1565, quando Cosimo I, pelo casamento do seu filho Francesco I, quis surpreender todos ao construir uma “via aérea” que unia o Palazzo Vecchio na Piazza della Signoria ao Palazzo Pitti. Esse corredor, para além de demonstrar a grandeza e o poder de Cosimo I, permitiu que a família Médici se movimentasse em segurança.
Bastidores à parte, a Piazza della Signoria surpreende pela diversidade dos elementos que a compõem. É possível chegar à maior praça da cidade através de oito ruas. Qualquer ângulo de chegada à praça, de forma irregular, surpreende. Seja pela imponência do Palazzo Vecchio, pelas várias estátuas, como a fonte de Neptuno, a réplica de David de Michelangelo, a estátua de Hércules e Caco de Baccio Bandinelli, a dimensão das arcadas e conteúdo da Loggia dei Lanzi, as cores dos edifícios.
Uma das ruas que desemboca na Piazza della Signora é a que dá acesso à Galleria degli Uffizi, a sul. Aqui, para além da Primavera de Botticelli, podemos admirar muitas outras obras, nomeadamente, também de Botticelli, o extraordinário Nascimento de Vênus, a partir de uma concha enquanto Zéfiro sopra em direcção à deusa. Nascimento bem mais plácido do que o do comum dos mortais.
Para norte, a Via Calzaiuoli, liga a Piazza della Signora à Piazza del Duomo, onde se encontra o Baptistério e a Catedral de Santa Maria del Fiore (Duomo). O Duomo, cujos trabalhos de construção decorreram durante seis séculos (começou no final do século XIII), impressiona, quer pela dimensão como pela arquitectura e materiais utilizados, mármores coloridos que se destacam das restantes construções da cidade, onde predomina o ocre.
A cúpula e o campanário, sobretudo o primeiro elemento, destacam-se na paisagem urbana de malha apertada. É curioso como quando caminhamos pela cidade sentimos que a cúpula do Duomo é omnipresente e, frequentemente, descobrimos novas perspectivas da mesma.
Do topo, tanto da cúpula como do campanário alcançam-se vistas espantosas sobre a cidade.
O interior da cúpula ainda consegue ser mais surpreendente que o exterior.
Para nascente, a partir também da Piazza della Signora, alcança-se a Piazza di Santa Croce, onde se encontra a Basílica com o mesmo nome. Neste espaço estão sepultados alguns ilustres italianos, como Michelangelo, Galileu, Maquiavel. Já Dante ficou à porta. Não foi autorizado a ter ali a última morada, mas, talvez por peso na consciência, fizeram-lhe posteriormente um monumento junto à Basílica.
A cidade italiana é feita morfologicamente por um conjunto de praças. Para além das já referidas, na nossa incursão pela cidade desembocámos em muitas outras. Como a Piazza della Repubblica, Piazza di Santa Maria Novella, Piazza Santissima Annunziata.
Próximo desta última praça absorvemos o acervo da Galleria della Academia, contigua à Universidade de Florença, e onde encontrámos outra obra emblemática do Renascimento, o David de Michelangelo. Qual voyeurs observámos aquele corpo escultural de todos os ângulos possíveis.
 

Na Piazza di Santa Maria Novella, do lado oposto à igreja com o mesmo nome, que apresenta os mesmos materiais do Duomo, visitamos o Museu Novecento, nas antigas instalações de um Hospital, que tem no seu acervo arte italiana do século XX.
Não muito longe de Santa Maria Novella, onde se situa também a principal estação de comboios de Florença, encontra-se o Mercado Central, cujo segundo piso, após anos encerrado, foi refuncionalizado como área de restauração, tendência semelhante à seguida em outras cidades europeias. 
Ainda do lado norte, do rio Arno, a poente do centro da cidade, localiza-se uma das poucas obras arquitetónicas recentes, o Nuovo Teatro dell’Opera de Florença. Trata-se de um projecto magnífico do atelier italiano ABDR. Surpreende a solução criativa de anfiteatro ao ar livre, onde do topo se vislumbra a cidade e, invariavelmente, o Duomo como destaque.
Do lado sul do Arno, atravessando a Ponte Vecchio ou uma outra, encontramos o bairro Oltrarno. É aqui que se localizam o Palácio Pitti, um dos extremos do tal Corredor Varasi, e a inclinada Piazza dei Pitti. Inicialmente este Palácio Renascentista era propriedade de Luca Pitti, um banqueiro, cuja família passado umas décadas vendeu a propriedade à família Médici.
Adjacente ao Palácio encontra-se os Jardins Boboli, uma referência mundial de jardim histórico.
O coração de Oltrarno está na Piazza Santo Spirito, onde nos finais de tarde a população local se reúne para um aperitivo, essa instituição italiana. Seguimos a máxima, mas adaptámo-la. Em Florença sê florentino.
Também do outro lado do Arno, num ponto alto fica a Abazzia di San Miniato al Monte e a Piazzale Michelangelo, de onde os entardeceres e anoiteceres têm outro encanto.
Da Piazzale Michelangelo, apesar de um ponto mais baixo que a Abazzia, é onde se tem a melhor vista sobre Florença. Aqui, percebe-se a diferença de escala e quão avassalador é o Duomo na estrutura da cidade. Dali entende-se também, se houver dúvidas, o magnetismo de Florença e o porquê de ser considerada uma das cidades mais belas do mundo. O que os olhos alcançam são testemunha disso.