Às vezes pergunto-me porque gosto tanto de Buenos Aires (BA) e chego à conclusão de que pura e simplesmente não sei responder.
Foi uma cidade a que cheguei e logo a achei estranha. A primeira impressão foi a dos contentores cheios de lixo. Mas logo acreditei que era assim porque estavamos num domingo. Depois um pequeno reconhecimento pelo centro; numa esquina havia uma carripana com um gramofone a passar um sonoro Tango. Estranho? Então o Tango não é a música tradicional de BA? Passada a falta de hábito (se calhar não ando tanto assim pelo centro de Lisboa, onde talvez seja normal ouvir-se música popular pelas ruas – primeira de muitas comparações com Lisboa, a minha cidade.), este foi um sinal incial de que esta era uma cidade com vida e com um ambiente pitoresco e ao mesmo tempo melancólico que nos faz sentir em casa.
Os cafés e confiterias (aconselho o La Biela, mais descontraído, e o Tortoni, mais para os “cotas”, mas imperdível pela sua atmosfera histórico-literária) estavam sempre cheios de pessoas que ora tomavam qualquer coisa ora liam descansadamente o jornal. Conclusão: o café como local para se estar demoradamente, sem empregados em cima de nós a despacharem-nos mal vêem que acabámos de dar a última dentada no pastel de nata – primeira grande diferença entre as duas cidades.
Segunda grande diferença: os parques da cidade estão igualmente apinhados de porteños que, ora apanham sol, ora jogam, ora lêem, ora montam a sua tenda para venda de quaisquer objectos ou pura e simplesmente convivem. BA é uma cidade enorme, cosmopolita, onde há lugar não só para os grandes edifícios como também para os diversos parques no meio dos vários bairros. De todos os bairros, a Recoleta é talvez o mais agradável para se passear, com as suas praças plenas de espaços verdes, cafés e restaurantes charmosos, comércio e centros culturais. Esta é uma BA mais moderna, na qual muitas vezes nos perguntamos se estamos mesmo na América Latina ou antes numa cidade europeia. No entanto, nem no nosso continente encontramos uma cidade assim, única.
Existe outra BA, talvez a mais reconhecida, a popular, que na minha opinião se aproxima mais de Lisboa. Lisboa tem o Fado e Alfama e Mouraria, BA tem o Tango e San Telmo e La Boca. San Telmo é um bairro onde os artistas têm os seus estúdios e é conhecido por acolher a Feira do mesmo nome que tem lugar na Praça Dorrego todos os domingos, sendo possível aí encontrar artesanato. É aqui que se encontram as melhores casas de Tango da cidade. Por seu lado, La Boca é certamente o bairro mais colorido de BA, com algumas das suas casas feitas de zinco e de outros materiais de barcos abandonados utilizados pelos imigrantes italianos que ali aportaram. Estas características são bem visíveis na rua pedonal Caminito, um monumento a céu aberto desta cultura decorativa. Por estes bairros, bem como em Avellaneda, do outro lado do canal Riachuelo, encontram-se várias cantinas com um ambiente ruidoso tipicamente porteño, em contraste com os restaurantes mais tranquilos do centro de BA. Bem tentámos (as manas) ir a uma dessas cantinas recomendadas para os lados da rua Necochea, só que... bom, o taxista que nos calhou pura e simplesmente não sabia onde era. Mas tentou, perguntou aos transeuntes, perguntou a quem calhou, olhou para o nosso mapa, e nada. Não desistiu, deu montes de voltas até que achámos que a busca era suficiente. Preço da viagem? Ora “nenas” é lógico que não é nada. Pois, normal.
Parecida com Lisboa?