A ideia da construção de um imenso jardim para o povo surgiu em 1850, tendo por base a imagem dos grandes parques públicos de Londres e Paris. Se os 843 acres do Parque pareciam uma enormidade na altura, hoje então, com a ditatura do cimento, pareceria impossível implementar uma ideia inovadora como esta. Mas o mais incrível é que, após 150 anos, permanecem os 34,2 km2 de verde em pleno coração da cidade que, provavelmente, tem o m2 mais caro do mundo. E o Central Park fica, literalmente, paredes meias com a luxuosa 5.ª Avenida.
O que só vem reforçar ainda mais a ideia de que em Nova Iorque há espaço para todos
É de facto um privilégio que os nova iorquinos, e todos os visitantes, têm à sua disposição. Um verdadeiro oásis rodeado de prédios imensos, com o louco trânsito do lado de fora a milhas dos nossos ouvidos e da nossa mente. No entanto, na realidade, só nos fins-de-semana é que o trânsito não atravessa o Parque do East para o West Side, e vice-versa. Mas nem isso quebra o sossego dos pedestres, pois na concepção do Parque pretendeu-se que os trilhos para os pedestres e as vias para os carros ficassem separadas de forma a que nunca se cruzassem.
No Parque existem cerca de 93km de caminhos para percorrer e explorar, entre pontes e fontes, lagos, vida animal e vegetal. E inúmeros desportos e actividades para nos entreter.
Como teatro, no Delacorte, ao ar livre, que recebe anualmente pelo Verão a produção “Shakespeare in the Park”.
E música, com aqueles concertos que nos habituámos a ver com o público a prolongar-se por kms e kms.
É também palco para a instalação de várias obras de arte. Como foi o caso, em Fevereiro último, da criação dos artistas Christo e Jeanne-Claude, conhecidos por embrulhar diversos edifícios (como o Reichstag, em Berlim, e a Ponte Neuf, em Paris) ou até mesmo ilhas. No Central Park, com o seu projecto "The Gates" optaram por desfraldar 7,5 mil bandeiras de tom açafrão por cerca de 36 km. A opção do mês de Fevereiro para realizar a instalação deveu-se ao facto, segundo os autores, de este ser o único mês do ano em que as árvores se encontram nuinhas, sem as suas folhas, pelo que assim se poderia ver o colorido dos “portões” de longe.
Este Inverno, e por alguns dias, serviu então para dar outra cor e luz ao Parque, já que nessa época do ano o Central Park muda de cara. Os lagos ficam congelados e a neve que enche os seus caminhos possibilita que se esquie.
Quanto à minha experiência pelo Central Park, escolhi um domingo para aí passear, à semelhança do que fizeram muitos nova-iorquinos. Uns corriam, pedalavam – em 2, 3 ou 4 rodas –, patinavam – com ou sem stick de hockei na mão – ou, simplesmente, caminhavam. Outros, sentados ou deitados, apanhavam sol, vestidos ou em calções ou biquini. Havia quem preferisse relaxar na relva a ouvir a música tocada ao vivo por um daqueles artistas com viola a tira-colo que animam os domingueiros. Ambiente de 5 estrelas, pois então. Um dos aspectos que mais marcou foi ver pessoas – ao domingo – a praticarem o seu exercício em grupo ou sozinhos. Não há companhia no dia que alguém destinou dedicar à família? Não faz mal, o que importa é aproveitar os raios de sol no parque mais carismático do mundo.