quinta-feira, agosto 17, 2006

Caminhar na Quinta do Lago


Habituámo-nos a ouvir falar da Quinta do Lago sempre associada aos “ricos”, “famosos”, “bonitos” pertencentes à designada “alta sociedade portuguesa” e internacional. A Quinta do Lago do golfe, das festas no T-Club, dos banquetes no Gigi, das exuberantes moradias, enfim... do mostrar para ser visto.
A verdade é que a Quinta do Lago é tudo isto. Mas é muito mais. Sendo que este tudo mais é a melhor parte da história. Quem se lembrou de escolher aquelas bandas para lá instalar um recanto exclusivo e recatado para uma elite de ricos e famosos e dele fazer um resort escolheu muito bem. Mas, sorte a nossa, no nosso país ainda não é possível vedar o acesso às frentes do mar aos outros cidadãos não tão ricos e famosos. Pode o parque de estacionamento da praia da Quinta cobrar uma fortuna pelo mero serviço de aí deixar um carro, mesmo que os seus lucros não revertam para a protecção do habitat natural em que se encontra. O certo é que vale a pena engolir o sapo e lá deixar uma nota, aí isso vale.

Dito isto, a Quinta do Lago está situada em plena Ria Formosa.
A Ria Formosa está situada no Algarve e caracteriza-se por ser uma região de sapal e ter um habitat natural específico, ao longo de uma extensão de cerca de 60 km, desde o Ancão, no concelho de Loulé (e onde se encontra localizada a Quinta do Lago), até Manta Rota, no concelho de Vila Real de Santo António, abrangendo ainda os concelhos de Faro, Olhão e Tavira.
Iniciando um “tour” desde o parque de estacionamento da Quinta do Lago, existe a possibilidade de se percorrer a pé 2 trilhos naturais previamente definidos e (bem) sinalizados: o “Quinta do Lago” e o “São Lourenço”. Para além da saudável caminhada, ambos os trilhos têm ainda o valor acrescentado do iminente contacto com a flora e a fauna locais que se desenvolvem ali pertinho dos greens, do lago e do Atlântico, sob o sol algarvio.
O trilho da “Quinta do Lago” tem cerca de 2,3km e características de sapal e lago de água salgada. Por entre os pinheiros mansos, palmeiras anãs e rosmaninho, deparamo-nos com a criação de uma tapada de piscicultura com diversas espécies de peixinhos, como dourada, robalo, linguados, sargos, enguias.
Por seu lado, o trilho de “São Lourenço” desenrola-se ao longo de 3,2 km pelo sapal e pelo lago de água doce. Por este caminho é possível observar-se diversas espécies de aves, bem como o camaleão, um réptil em vias de extinção na Europa mas ainda relativamente fácil de se encontrar neste Parque Natural. No último ponto deste percurso existem umas ruínas romanas onde se poderá observar alguns tanques de salga (de peixe) da época romana do século II dC.


Para além destes 2 percursos “oficiais”, a vontade de descobrir mais sobre esta zona permite-nos percorrer caminhos ao sabor dos nossos próprios pés, seguindo a rota dos aviões que aterram e levantam voo bem ali ao lado, no aeroporto internacional de Faro.
Apesar dos aviões que sobrevoam esta zona constantemente (parece que estamos em Heathrow ou Charles de Gaulle), o rei por aqui é o flamingo. Isto no que diz respeito à natureza, a imperadora destas bandas. Mas não podemos esquecer o princípe, obra do homem – a ponte que liga os terrenos da Quinta do Lago à praia, construída sobre a Ria Formosa. A ponte, pedonal, é na sua simplicidade uma das mais bonitas e encantadoras que já tive oportunidade de ver. É uma passadeira de madeira de cerca de 320 metros, o que faz dela uma das maiores da Europa. Vista ao pôr do sol, reflectida na água juntamente com as cores muito especiais que entretanto o céu, o mar e a terra tomaram, é um privilégio para os nossos olhos. Olhos humanos, todos iguais ali no meio do visual que a natureza nos entendeu dar.