Chegámos a Saigão à hora do almoço, depois de uma saída de Lisboa na manhã do dia anterior, uma tarde em Paris e uma noite e manhã num avião.
O caminho do aeroporto de Saigão, actualmente Ho Chi Minh (mas a quem todos teimam em chamar pelo antigo e carismático nome), até ao centro, na Rua Dong Khoi (a Rua Catinat do tempo de Graham Greene), foi feito com os sentidos todos alertas, tentando apreender tudo o que nos rodeava. Para além de uma humidade intensa, que nos fez sentir imediatamente suadas, pegajosas e molhadas, o primeiro registo não pôde deixar de ir para o trânsito inacreditável: os poucos carros que circulam nas estradas de uma metrópole como Saigão são quase esmagados pelas incontáveis motas que como um enxame se propagam por completo nas ruas. Quando paradas no sinal vermelho, todas juntinhas à molhada, mais parece que se preparam para uma qualquer competição onde o que importa é partir bem para ganhar desde logo posição.
Neste primeiro dia no Vietname, aprendemos que atravessar as ruas pode ser uma arte e tem segredos. Primeiro, não há que temer as motas nem as bicicletas. Antes há que avançar determinadas e confiantes rumo ao outro lado da estrada, sempre a direito e sem olhar para os lados, num ritmo regular e moderado – nem parar nem correr. Depois é só esperar que as duas rodas façam o seu trabalho, ou seja, que sejam elas a estar atentas e a desviar dos peões.
Nos próximos dias iríamos aprender que o sossego e o silêncio são benesses que não abundam pelas cidades nestas paragens do mundo. E que o conselho para levar uns tampões para os ouvidos não deveria ter sido desprezado tão firmemente.