Fim de semana alargado, nada melhor do que me dar como prenda de
anos um saltinho a Londres. Há sempre tanto para rever ou ver pela
primeira vez em Londres que não me canso de lá
voltar.
Os habituais problemas no metro não atrasaram em demasia a jornada de sábado,
pelo que o pequeno atraso resultou apenas num almoço de
sanduíches à toa. Fui directa para o Dover Street
Market, género de galeria comercial com uma mão
cheia de andares não muito amplos. A roupa e os adereços
de moda que lá se vendem não são
nem para o meu gosto nem para a minha bolsa, mas gostei de ver a decoração
estilo rua despojada e fiquei admirada por ver numa montra a pasta dentífrica
Couto à venda. A marca Portugal pelos vistos manda alguma coisa. Ou
pelo menos chega até quem manda.
Segui para o Soho, com a Carnaby Street enfeitada como sempre.
Daí uma agradável caminhada até
ao norte de Convent Garden para conhecer um cantinho que até
hoje me havia escapado - o Neal's Yard. É um pátio cheio de cafés
e lojas pitorescas envolvido por prédios coloridos. Muito bom contraste
com aquele fim de meio de tarde, sol (?) a cair a modestas 16 horas.
Esta viagem a Londres tinha dois objectivos principais: ver
algumas exposições e comer em alguns restaurantes que
já levava referenciados. Sábado à noite foi feita a primeira tentativa.
Mal sucedida: Koya e Barrafina com filas intermináveis à porta, como sempre. O que vale é
que estava sozinha e o Ceviche tinha um lugar ao balcão só
para mim. Provei o sempre delicioso ceviche e umas papas não
menos deliciosas, rematando a refeição com um cheesecake de lucuma.
O dia de domingo foi iniciado com uma caminhada pelo Holland Park, que não conhecia. A manhã estava fresca, viam-se poucas pessoas, umas a correr, outras a passear o cão, outras sentadas num banquinho no Jardim Japonês, a contemplar o lago e as tonalidades intensas das folhas.
Aqui perto fica o museu da Leighton House, "onde o oriente encontra o ocidente". É fácil não se dar pela casa, mas assim seremos um pouco menos felizes e afortunados. Frederic Leighton era um pintor vitoriano e na segunda metade do século XIX decidiu encomendar a sua casa-estúdio. Mais do que as pinturas de sua autoria em exposição, bem como outras que ele coleccionou, incluindo objectos vários e tapeçaria, maravilhou-me o edifício e decoração da sua casa, dividido em várias salas, acompanhado por um extenso jardim. O pátio árabe é simplesmente lindíssimo, delicado com a sua fonte central e nos motivos dos seus azulejos e mosaicos.
A tarde foi dedicada ao Southbank do Tamisa, nomeadamente à
Tate Modern e ao The Shard. Começando pela Tate, levava já
reservada a exposição de Paul Klee, o suíço-alemão
que criou a Blaue Reiter e fez parte do movimento da Bauhaus. As suas obras
foram influenciadas pela viagem que fez à Tunísia e podem ser enquadradas no
expressionismo, cubismo e surrealismo. As primeiras pinturas em exposição
na Tate eram de reduzidas dimensões. Com a quantidade de gente que
estava neste centro comercial, perdão, museu, ficou ainda mais difícil
observar as obras. Mas Klee tem também telas de dimensões
aceitáveis para se poder ver uma nesga por entre quatro ou cinco
cabeças. Agora mais a sério: a exposição
estava muito boa e o Klee das várias épocas estava bem representado. As suas
pinturas são coloridas, a cor é mesmo essencial na sua obra, e algo
ingênuas nos motivos.
O resto da Tate estava igualmente impossível para se circular, dai que sem pena tenha seguido rapidamente para o The Shard, mais especificamente para o seu 68 andar, através de uma supersónica ascensão num foguetão. Bom, não é assim tão futuristico, era apenas um elevador, mas rapidíssimo na mesma. O The Shard é actualmente o segundo edifício mais alto da Europa (o primeiro fica em Moscovo) e foi projectado por Renzo Piano, o mesmo do Pompidou de Paris. Mas um não tem nada a ver com o outro.
Este The Shard é uma torre em forma de seta em direcção ao céu inteiramente de vidro. O seu topo parece inacabado, mas é apenas ilusão de óptica. A vista lá de cima (o elevador para no andar 68, mas nós subimos mais dois ou três andares) abriu ao público em Fevereiro deste ano e é um sucesso, pese embora os cerca de 30 euros de entrada se o bilhete for comprado com antecedência.
A nossa vista alcança toda a Londres. Se tivermos a sorte de ter um dia limpo e claro deve ser uma experiência inesquecível. A mim tocou-me apenas um dia normal da Londres nublada, mas felizmente sem chuva. Escolhi ir num horário que me permitisse ver o dia ainda com luz, mas aproveitar também o escurecer. Algo que em Lisboa se poderia traduzir por por do sol, mas que em Londres é um bocado estranho. Vi, assim, as luzes dos edifícios da city a acenderem, à medida que o céu ficava mais e mais escuro.
Neste dia optei por não almoçar e jantar duas vezes. À cautela, para não perder outra vez a hipótese de jantar no restaurante por mim desejado, cheguei às 17:35 ao Barrafina, 5 minutos depois de ter aberto, e encontrei um único lugar restante - precisamente o que precisava. À medida que a fila se ia formando e esperava pelas minhas tapas, ia espreitando as dos vizinhos, todas elas com um aspecto delicioso. Eu escolhi uma de morcela com ovos de codorniz e outra de salada de anchovas e bacon. Não me arrependi. E também não me arrependi de não gostar de vinho, poupando assim dinheiro para uma segunda refeição.
Não é que estivesse com fome, mas queria
mesmo continuar a experimentar mais restaurantes. Escolhi o recente
Chottomatte, na mesma Frith Street. É uma mistura de peruano com japonês,
o que me entusiasmou. Mas achei-o um pouco pretensioso e absolutamente
exagerado no preço para o tamanho dos pratos. Escolhi
novamente (mini) ceviche e tostadas de sashimi de salmão com
chili, absolutamente picantes, de tal forma que me vieram as lágrimas
aos olhos e tive de me mandar a 2 singelos pedaços de sushi.
Para final da noite, um passeio pela movimentada Chinatown e a certeza de que para a próxima me dedicarei aos seus restaurantes.
Na manhã de segunda-feira vivi os últimos
momentos desta jornada londrina. O destino era o British Museum e a exposição
de arte Shunga que lá estava patente. No caminho vi um anúncio
no metro para uma exposição de Pintura Chinesa no Victoria and
Albert Museum e fiquei com pena de não me ter apercebido antes desse
evento. Mas a exposição do British, Shunga: Sex and
Pleasure in Japanese Art, foi surpreendente e fantástica.
A arte erótica para o público em geral aliada à
política e à ironia, cómica
até. Mais detalhes sobre o assunto em post do Estudante Asiática aqui.
A viagem terminou com um almoço no Koya, às
12:30 em ponto, para não perder o lugar. Mas a essa hora o
restaurante não encheu, apesar dos seus udon o
merecerem a qualquer hora. O Koya serve uns noddles chamados udon, no meu caso
acompanhados de uma deliciosa sopa com carne. Valeu a pena esperar mais de um
ano para o degustar.