De uma banda desenhada africana espera-se surpresa e diferença. No entanto, de Aya - Life in Yop City, autoria de Marguerite Abouet e Clement Oubrerie, edição original de 2007, chega-nos a surpresa de ver uma África, neste caso um bairro nos arredores de Abidjan, capital da Costa do Marfim, com personagens modernos mesclados de uma forte cultura local. Porém, nada das coisas do costume que nos fazem lamentar África, o continente negro em todas as suas imagens, pejado de pobreza e doença.
Então, se a história é parecida com a nossa (leia-se ocidente) porquê perder tempo com mais do mesmo? Talvez porque, como dizia Tolstoi, "as famílias felizes parecem-se todas; as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira".
Não que haja aqui em Aya muita infelicidade. Existem os contratempos comuns aos jovens, amores e desamores, sonhos por uma profissão que nem sempre é a escolhida pelos pais, uma vida confortável que pode não chegar. A marca de África surge na questão da poligamia, no tratamento das mulheres, na discriminação dos gays, na vontade de seguir para França.
Mas existe, sobretudo, muita cor e muita alegria, tudo parecendo ser pretexto para festa - outra África por nós imaginada. O traço do desenho é aqui belíssimo.
Apenas uma curiosidade, a qual pode ser considerada um lapso ou apenas um tópico que não faz mais do que confirmar a leveza da história: os autores mostram-nos uma cidade em finais dos anos 70, mas dão-nos a entender uma sociedade marcada pelas modas vindas do outro lado do Atlântico, designadamente através das novelas do Brasil. A este propósito referem-se nesta bd duas delas: Dona Beija (alguém na história que desejava um cabelo como a Dona Beija) e Mulheres da Areia, ambas novelas dos anos 80 e 90.
Como conclusão, um boa introdução à vida numa grande cidade africana, suas gentes, seus humores e amores e negócios.