Wong Kar-wai é um cineasta admirado um pouco por todo o mundo, embora seja visível uma clara diferenciação da sua obra antes do ano de 2000 e depois desse ano.
“In The Mood for Love” (Disponível para Amar), precisamente do ano 2000, é um filme melancólico e de uma elegância superior, mas que marca um corte com os filmes anteriores de WKW.
Chungking Express (Chung Hing sam lam), de 1994, por exemplo, é um filme frenético, quase caótico. O ritmo aqui é intenso, por contraposição ao tempo que vai passando lento ao som do Quizás espanhol de Nat King Cole e dos jogos de fumo de cigarro em Disponível para Amar.
A música, elemento essencial no cinema de WKW, tem um papel marcante na (ainda) maior vivacidade que acrescenta a Chungking Express. A sua cena inicial, em slow-motion mas com a câmara sempre irrequieta, é acompanhada com um som que lá encaixa na perfeição: imperdível. Filmado em Hong Kong, cidade onde o realizador cresceu, este é um dos filmes indispensáveis quando se pensa na dupla cinema - Hong Kong. Hong Kong é mesmo uma personagem principal e o ritmo louco da cidade é transposto para a tela de uma forma magistral. Filmado maioritariamente à noite, são nos mostradas duas histórias separadas dentro do mesmo filme. Dois polícias de turno, cada um deles a viver o fim de uma relação, logo se deixam encantar por mulheres também elas loucas e frenéticas como a cidade. Uma misteriosa, sempre de óculos escuros, outra esfuziante, ouvindo música em altos berros. As duas em fuga, reforçando a ideia de constante movimento de Chungking Express.
Filmado três anos antes da prevista transição de Hong Kong do Reino Unido para a China, em 1997, WKW poderia ter pensado em oferecer este presente aos britânicos ou aos chineses. Mas não, ofereceu-o a todos nós.