Em Palermo, capital da Sicília, encontrámos uma cidade fervilhante, cheia de contradições, onde a herança aristocrática de outros tempos convive e tenta sobreviver com a actualidade difícil e pobre, ainda hoje marcada pela outrora forte e demolidora intervenção da máfia, resultando numa decadência charmosa e, surpreendentemente, fascinante.
Por outro lado, cruzámo-nos com elementos arquitectónicos que marcam as imensas influências que a cidade recebeu das diversas culturas que ali estiveram ao longo da história.
A cidade congrega um imenso património, embora parte dele em más condições, fruto das dificuldades económicas há anos presentes na região. Ainda assim, ocorre-me pensar na dificuldade, perante determinadas escalas e diversidade patrimoniais, de se alcançar a manutenção de tudo, já que os principais elementos patrimoniais apresentam-se com a dignidade que merecem.
É um deslumbre deambularmos pela cidade e após virarmos a esquina de uma rua esconsa, mas ainda assim pontuada por igrejas e palácios barrocos, apesar de alguns deles decrépitos, nos confrontarmos com a magnitude da Cattedrale di Palermo, no seu estilo árabe-normano.
O mesmo estilo arquitectónico encontramos no Palazzo dei Normani e na sua Cappella Palatina, que nos extasia e nos deixa com um torcicolo por querermos abarcar todos os ângulos ocupados pelos magníficos mosaicos bizantinos e trabalhos de mármore em estilo árabe, bem como o mobiliário em madeira (muqarnas). Naquele espaço, com arte, reconta-se o Antigo Testamento.
No bairro de Capo, a norte de Albergheria, outro mercado, o Mercato del Capo, também espalha pelas ruas a sua vivacidade e confirma-nos como a comida de rua é uma das riquezas da Sicília e, em particular, de Palermo.
No centro da cidade antiga fica Quattro Canti, uma espantosa, inusitada e elegante intersecção entre o Corso Vittorio Emanuele e a Via Maqueda. Trata-se de um círculo perfeito formado por fachadas curvas, estupendamente adornadas com estátuas que representam as estações do ano, os soberanos espanhóis e as santas palermitanas, espalhadas em três ordens, colunas Dóricas na base, Iónicas no meio e compostas no topo. Magnífico momento urbano.
Próximo encontra-se a superlativa Fontana Pretoria, um dos maiores símbolo da cidade.
Adjacente, situa-se a Piazza Bellini, onde o inusitado acontece.
A La Martorana e a Igreja de San Cataldo ombreadas por palmeiras fazem-nos questionar onde estamos. O exótico aterrou ali. La Martorana foi planeada para ser uma mesquita, por dentro é adornada por uns magníficos mosaicos bizantinos, chegou a ser um templo católico e actualmente é uma igreja da comunidade grega ortodoxa. Portanto, a síntese do que é a Sicília.
A La Martorana e a Igreja de San Cataldo ombreadas por palmeiras fazem-nos questionar onde estamos. O exótico aterrou ali. La Martorana foi planeada para ser uma mesquita, por dentro é adornada por uns magníficos mosaicos bizantinos, chegou a ser um templo católico e actualmente é uma igreja da comunidade grega ortodoxa. Portanto, a síntese do que é a Sicília.
Em La Kalsa, estamos à beira do Golfo de Palermo, mas a relação da cidade com o frente de água está por fazer, com excepção da parte onde se localiza a Marina, um pouco mais a norte.
Neste bairro pobre, a regeneração urbana aos poucos está acontecer, com a recuperação do património e instalação de alguns locais trendy.
Valores seguros são o Museu da Inquisição, localizado no Palazzo Chiaromonte Steri, a Galleria d'Arte Moderna e Chiesa di San Francesco d'Assisi.
Igualmente com um passado pobre e marcado pela criminalidade e violência, o bairro de Vucciria, ficou imortalizado na obra artística do pintor siciliano Renato Guttuso, o qual pintou a magnífica e arrebatadora La Vucciria, inspirado no mercado homónimo. Tivemos a oportunidade de ver esta obra genial numa exposição temporária no Palazzo dei Normani.
Este mercado, actualmente, não tem a mesma vivência de outrora, mas é cativante, nomeadamente a convivência do local peixe-espada como o Padrinho, em modo de arte urbana.
Nos limites com a cidade nova fica o Teatro Massimo, em estilo neoclássico, a casa da ópera da cidade e a maior de Itália. Já nessa parte mais recente, ainda que antiga, encontra-se o Teatro Politeama Garibaldi, onde apanhámos o autocarro para Mondello.