Que mais pedir de um pedaço de terra banhado pelo mais belo que o Atlântico tem para nos oferecer, pleno de paisagens de beleza asfixiante, falésias escarpadas, declives verdejantes, casas pitorescamente empoleiradas; natureza – sobretudo – mas também cultura; um turismo para todos os gostos, seja de passeios de barco, automóvel, carros de cesto ou, muito simplesmente, a pé; caminhadas na cidade, junto ao mar ou na montanha?
Será pedir muito que a sua oferta gastronómica esteja à altura? Poderíamos até abusar da sorte se o pedíssemos, mas não é necessário – ela é real.
Alguns exemplos:
Iniciemos o pequeno-almoço acompanhando os costumeiros chá, café ou leite com fruta em abundância, com a banana da madeira à cabeça.
Ao almoço, se nos encontrarmos na zona velha do Funchal, perto do Mercado dos Lavradores, será uma perda inestimável não parar no Jaquet. O casal de irmãos que nos recebe só cozinha e serve peixe, mas isso não quer dizer que seja restrito aos apreciadores do dito. Nas paredes vêem-se inúmeras mensagens e recados deixados pelos anteriores comensais e num deles pode ler-se qualquer coisa do género “não gostava de peixe mas depois desta refeição mudei de ideias”. Simpáticas balelas, pensou esta escriba que se recusa a comer qualquer peixe quando a tal não é obrigada pela sua mãe. Mas como não existia mesmo outra saída para aguentar o resto da tarde sem ser de barriga vazia, um mito caiu: o da impossibilidade de apreciar peixe, ainda por cima espada e logo frito. Uma inesquecível delícia a que não é alheio o esmerado tempero.
A meio da tarde, e para adoçar a boca, não calha nada mal um rebuçado de funcho. Para o lanche, esse, uma boa opção será o típico bolo de mel (digo será porque, infelizmente, a minha esquisitice não se fica pelo peixe).
Ao jantar é difícil escapar à carne, designadamente, às famosas espetadas em pau de louro no tão elogiado “As Vides” no Estreito de Câmara de Lobos. No entanto, antes de nos lançarmos numas centenas de gramas da melhor e mais saborosa carne do país, uns pedaços de bolo do caco ajudam a entreter a (curta) espera.
E já que estamos para estes lados, nada melhor do que acabar a noite num dos bares de Câmara de Lobos, como fazem os funchalenses, tomando um copo de poncho (pequenino, uma vez que há que voltar a conduzir para o Funchal).
E com este pequeno enunciado de um dia gastronomicamente perfeito cometo um sem número de injustiças: deixar de fora diversos pontos onde uma refeição será igualmente especial e inesquecível. Abro, no entanto, espaço para mais dois deles – o Jango, também na cidade velha do Funchal, e o restaurante da Fajã dos Padres.