Angkor Wat é o mais famoso postal do Camboja.
O mais fotografado, porque o mais impressionante, o maior, o mais elaborado, o mais belo, equilibrado e simétrico, o mais bem conservado. A jóia da coroa da arte Khmer, em resumo. Para o descrever superlativos não são suficientes. Já se sabe. Está dado como adquirido.
Mas… Existe sempre um mas. Quem lá vai deixa-se impressionar, é claro. Mas na hora de escolher o templo que mais nos marca, nem sempre Angkor Wat é o tal. Ou, pelo menos, não nos conseguimos deixar de esquecer de Bayon, Banteay Srei ou Ta Phrom.
Mas voltemos a Angkor Wat.
Construído entre 1113 e 1150, em honra de Vishnu, divindade hindu, quando a capital do império se mudou para Phnom Penh ficou entregue aos monges budistas. Foi o único templo no meio da floresta que cerca Angkor a nunca ter sido abandonado e ter sido objecto de peregrinação desde sempre. Tendo em conta a sua orientação para oeste, simbolicamente a direcção da morte, há quem defenda que a sua função original seria a de mausoléu. Certo é que é considerado o maior edifício religioso do mundo.
E a aproximação ao templo é, como não podia deixar de ser, feita em grande. Como antecâmara das suas torres de entrada temos uma ponte de pedra de 250 metros sobre elevada a um fosso de água que cerca todo o terreno do templo, na totalidade de aproximadamente uns nada modestos 210 hectares.
Depois desta “pré-entrada”, segue-se uma verdadeira avenida de 500 metros através da qual vamos caminhando passo a passo rumo à monumentalidade e perfeição absolutas. Mais uma vez o mítico Monte Meru serviu como inspiração. As 5 elegantes torres lá estão, prontinhas a serem devoradas pelos nossos sentidos. Ao amanhecer, à tarde, à noite.
Lá dentro, enquanto descobrimos os vários patamares do templo, carregadinhos de inacreditáveis baixos-relevos profusamente decorados no primeiro piso, a magia vence-nos definitivamente. Estes baixos-relevos relatam episódios de temas de épicos indianos, de livros sagrados ou de batalhas históricas. Impressionante o trabalho das mãos que cravaram na pedra imagens tão delicadas. E impressionante esta arte ter chegado tão bem conservada ao nosso tempo (graças também, claro, às modernas técnicas de restauro).
Como se não bastasse toda esta magnificência arquitectónica e artística, acompanhada à altura pela mãe natureza, o que confere ao espaço um misticismo especial, no imenso verde relvado que dá as boas vindas ao edifício principal do templo existem umas bacias de água que tornam ainda mais idílico o ambiente.
São mais umas horas e horas a procurar o melhor ângulo de fotografia, enquanto o motorista do tuc-tuc nos espera à entrada, junto da confusão de vendedores mirins que nos tentam impingir de tudo um pouco.
O diálogo não muda grande coisa:
«Buy something?Maybe later?
If you buy, you buy me.
Lulu, remember me, blue shirt.»
Esta é toda uma arte à parte. As crianças levam isto mesmo a sério. Quem vê primeiro um possível cliente parece achar-se no direito a ser o seu vendedor exclusivo. A mana foi chamada de “bad woman” só por na volta ter comprado uma garrafa de água a uma miúda diferente daquela que – pelos vistos – na chegada a tinha abordado.
E às portas de Angkor Wat o movimento e a concorrência dos vendedores são os mais ferozes. Seja qual for a hora do dia. Há que não esquecer que se este é o templo de todos os “mais”, neste se inclui também o de mais visitado.