Sou fácil de convencer. Muito fácil, mesmo. Daquelas capazes de comprar um tareco horroroso, ao qual não saberá o destino a dar, só porque se deixou enredar na conversa de uma criancinha aparentemente desamparada.
Desta vez, porém, não cheguei a comprar nada.
Mas fiquei uma vez mais tocada com a minha imensa ingenuidade. Ops, a ingenuidade não devia ser das criancinhas cambojanas ou vietnamitas?
Primeira história:
A visita às aldeias flutuantes de Chong Khneas, perto do complexo arqueológico de Angkor, cuja visita, não obstante todo o seu interesse, serve também para desenjoar de tantos templos, tem como custo de “entrada” 15 USD por pessoa, quase tanto como os 20 USD que se paga por um dia todinho em Angkor. Depois do pagamento num estabelecimento com algum ar de oficial, somos metidas num barco com um miúdo guia. O que nos tocou era bem simpático, bem novinho também, falava bem inglês, fazia parte dos cambojanos que vivem a flutuar, tinha curiosidade em saber como vivíamos, ou seja, um excelente ponto de partida para tentarmos entender as vidas das pessoas que habitam no sítio que estávamos a visitar. Na volta da ida até ao lago Tonle Sap, para onde os flutuantes vão quando as águas baixam e deixa de ser possível manter as casas, mercados, oficinas, escolas, igrejas, centros de saúde e quantos mais equipamentos necessários a uma comunidade que possamos imaginar, na volta da nossa proveitosa excursão o dito miúdo pergunta-nos se queremos conhecer a escola por dentro e se estávamos dispostas a colaborar com a oferta de cadernos para os carenciados alunos (aqui deixa-se de ir à escola por não se ter dinheiro para comprar cadernos ou para comprar roupa que vestir). Óbvio que aceitamos. Óbvio também que engolimos em seco quando nos pediram 15 USD por um maço de cadernos. Talvez não tão óbvio que tivéssemos delicadamente recusado dar algum dinheiro para ajudar o “professor” que compunha a sala de aulas para a fotografia na visita dos turistas. Mas houve ainda uma recaída quando o bem simpático e competente mini-guia insinuou que lhe déssemos alguma gorjeta para ele e para o seu companheiro mini-marinheiro que nesse dia guiava o barco do pai. Provavelmente dei a maior gorjeta da minha vida: 5 USD. Mais provavelmente ainda, terei tido o maior arrependimento da minha vida no que a gorjetas diz respeito depois de ver o rosto de “só isto que tens para me dar” do puto.
Segunda história:
Umas pequenitas vietnamitas junto a um dos mausoléus de Hué chegaram contentes da vida perto das turistas pedindo umas moedinhas da nossa terra. Achando piada à vertente coleccionadora das miúdas – tão pura que é a tuguita –, logo tirei as moedas mais baixas que tinha, o que calhou ser a de 2 cêntimos, 5 cêntimos e 20 cêntimos. Ui! Que cara de desoladas! Logo pediram um euro – já não era a moeda da nossa terra; logo reconheceram que era o euro que tinham que receber, das moedas brancas e não das escurinhas.
Esta foi só rir.
Terceira história:
Esta, mais típica, é a dos condutores dos cyclos ou dos moto-bike, a versão riquexo vietnamita. A regra é acertar o preço antes de nos sentarmos na cadeirinha. A excepção é que o preço a pagar no final corresponda ao acertado no inicio. Há sempre uma desculpa. Seja porque afinal o preço era por pessoa e não por viagem, ou porque o destino é “quiet far” ou porque – esta é deliciosa – está muito calor e o “driver” precisa de uma bebida. Enfim tudo desculpas muito válidas, porque para além de não se notar nada logo à partida que somos duas, até nem dizemos para onde queremos ir e calor é coisa que não bate no sudeste asiático.
Para compor o ramalhete falta dizer que os artolas dos condutores nunca têm troco, logo… já caíste.