De manhã fui participar no 8.º Challenge de Águas Abertas na Aldeia do Mato, Castelo de Bode, e à tarde guardei ainda algumas energias e, já que estava por perto, não pude deixar de ir fazer uma visita ao Convento de Cristo, em Tomar. Aliar o desporto à cultura, parece-me não haver programa muito melhor.
O Castelo, Convento e Igreja, aos quais junto o Aqueduto, são elementos fantásticos do nosso património arquitectónico e monumental.
O Castelo dos Templários, ainda que não tão pitoresco como o de Almourol, é de uma importância e beleza inquestionáveis. A sua construção iniciou-se em 1160, no alto do monte que domina Tomar, e a sua geografia baseou-se no modelo da cidade de Jerusalém, onde nasceram os Templários.
Mas o deslumbre surge com a Charola do Convento de Cristo, parte integrante da Igreja Manuelina (ainda que esta tenha sido construída depois), restaurada e reaberta às visitas não há muitos anos. É uma estrutura cilíndrica, cuja construção por fases, ou por acrescentos, se iniciou em 1190, e possui uma farta decoração iconográfica, com esculturas e pinturas, onde abundam os tons dourados. Lindíssima.
Outro momento de deslumbre, esse parte do nosso imaginário de figuras que caracterizam o nosso património artístico é a janela manuelina situada na fachada ocidental da Igreja, com o mítico velhote de barbas na parte inferior e a coroa com o escudo português encimada pela Cruz de Cristo na parte superior. Pelo meio um intrincado trabalho pleno de pormenores.
O Convento, em si, traz-nos mais pormenores deliciosos, como a escada que serpenteia para além do último andar, e os pátios acolhedores vão-se sucedendo. Para ser mais precisa, claustros: o Maior, o da Hospedaria, o dos Corvos, o da Micha e o de Santa Bárbara. Passamos pelo refeitório e cozinha, pelas salas do noviciado ou salas das cortes e o espanto não cessa.
Cá fora, junto à Horta dos Frades, vemos uns grandes arcos de um aqueduto que liga ao Convento e por onde outrora lhe levava a água. Estamos ainda longe de imaginar o quão monumentais se tornarão quando, por cerca de 7 km caminho de Carregueiros, passam pelo vale da Felpinheira (com 12 arcos que chegam aos 15 metros) e, principalmente, pelo vale de Pegões (com 58 arcos gigantes que dobram a altura anterior). Talvez por viver em Lisboa e passar frequentemente pelo vale de Alcântara e com a arrogância dos lisboetas me ter habituado a pensar que não haveria outro que sequer chegasse aos calcanhares da monumentalidade do Aqueduto das Águas Livres, a surpresa que esta obra de engenharia civil do século XVI (anterior ao das Águas Livres, portanto) produz é absolutamente encantatória. A tal ponto que não hesito em colocá-la no mesmo plano que o Castelo, Convento e Igreja, como o fiz no início deste texto.